segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

ARI ERCÍLIO: UM FATÍDICO ACIDENTE TIROU SUA VIDA

 


O jogador ARI ERCÍLIO morreu afogado enquanto pescava na Gruta da Imprensa, ao lado da Avenida Niemayer, no Rio de Janeiro, em 18 de novembro de 1972, aos 31 anos. Gaúcho de Porto Alegre, onde nasceu em 18 de agosto de 1941, antes de chegar ao Fluminense, em 1972, Ari jogou no Internacional, Corinthians, Floriano de Novo Hamburgo (RS) e no Grêmio. Em todos os clubes foi considerado um atleta exemplar. Já estava bem ambientado ao grupo do Tricolor e fez apenas 21 jogos no curto período antes de sua morte.


Forte, alegre, exemplo de atleta – uma das melhores condições físicas do time –, Ari Ercílio chegou para brilhar, mas infelizmente sua estrela apagou muito cedo. Sua chegada foi cercada de carinho e muita promoção. Jogou bem algum tempo e estava afastado de forma passageira para recuperar sua melhor condição técnica. O técnico Pinheiro já pensava em lançá-lo no time a qualquer momento.


Num dia de folga, Ari pegou a esposa e foi pescar na Gruta da Imprensa, ao longo da Avenida Niemayer. Já no fim da tarde, quando se preparava para voltar para casa, escorregou na traiçoeira rocha e caiu ao mar. Um mar forte, perigoso. Ele lutou desesperadamente para subir de novo na pedra – um erro, segundo os pescadores, que aconselham nadar para longe das pedras em vez de lutar com as ondas. E Ari Ercílio desapareceu para sempre. O corpo apareceu cinco dias depois, na praia do Pepino, arrastado pelas águas.


Deixou a viúva e duas filhas pequenas. Tinha tanta confiança em sua vida bem regrada que sempre dizia: “Jogo fácil até os quarenta anos”. Jogou até os 31.

 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

GARRINCHA EM GUARAPARI

 

                                                                      Garrincha e Elza Soares cercados de crianças

Nota: reportagem de Hélcio José e fotos de Hélio Passos. Não tenho a informação da revista.

Pesquisa, restauração e transcrição: Fábio Pirajá (administrador do grupo Memória Capixaba)

 

Craque se recupera nas areias monazíticas de Guarapari a pedido do Dr. Roberto Calmon, em 1963.

 

Nas areias monazíticas de Guarapari, Garrincha foi buscar a sua fonte de rejuvenescimento. Para o jogador bicampeão do Mundo, a cura de seu joelho significa muita coisa, o tricampeonato deste ano, a Copa de 66, e principalmente a sua carreira de jogador de futebol Garrincha levou Elza Soares e boa vontade de cooperar com o Dr. Roberto Calmon, cujo desejo, além do de curar o ponta-direita botafoguense, é fazer da praia de Guarapari um centro de recuperação para jogadores lesionados. Mas o desejo do craque era ficar só, longe do zelo excessivo de seus admiradores.

 

O Botafogo consentiu que Garrincha ficasse sete dias em Guarapari, Espírito Santo, cumprindo ordens do médico Jorge Sardinha. O craque foi em busca da última esperança de cura para o seu joelho doente, o mesmo que o afastou dos gramados há vários meses.

 

Garrincha não foi só. Além da esperança, levou consigo a cantora Elza Soares, seu novo e proibido amor. Na bagagem de recomendações, um lembrete importante: o tratamento abrangeria 2 horas diárias, pela manhã e tarde. Em Guarapari todos os caminhos conduzem à praia de areias monazíticas. Antes, porém, o jogador visitou o Dr. Roberto Calmon, o mais antigo médico da cidade, hoje no cargo de Prefeito Municipal, para cuidar do joelho mais caro do Mundo. Com sua experiência e conhecimentos, Dr. Calmon examinou o cliente famoso e Indicou o tratamento que, segundo suas próprias palavras, é o mais adequado. Disse, também, que garantia a entrega de Garrincha inteiramente curado em 30 dias.

 

A princípio a diretoria do Botafogo fez cara feia. Mas o Dr. Calmon jogou com a responsabilidade e fez gestões junto cúpula do clube a fim de que o ponta-direita ficasse sob seus cuidados por um mês.

 

Durante o exame, Garrincha revelou não sentir mais nada no joelho direito, e sim na outra perna; "de tanto forçar por causa da atrofia". Dr. Calmon não se importou com a revelação e deu as instruções necessárias para o tratamento.

 

Garrincha e foram à praia. Claro está que não havia banda de música para recebê-los. A frieza que o casal encontrava no Rio, nos últimos meses, não viajou para Guarapari. Não havia banda, mas aplausos. Garrincha e Elza foram saudados por palmas e votos de pronto restabelecimento.

 

Os maiores fãs de Garrincha são os garotos. Muitos deles juntaram a melhor areia da praia para colocá-la sobre o joelho enfermo do campeão. No primeiro dia, um menino tirou a própria camisa para carregar areia para o seu ídolo.



Mané Garrincha, meio sem jeito pelo excesso de carinho dos habitantes, será por algum tempo apenas um cliente da areia milagrosa de Guarapari.

 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

ALTAIR: UMA REFERÊNCIA DO TRICOLOR CARIOCA

 


Altair Gomes de Figueiredo nasceu em Niterói-RJ, no dia 22 de janeiro de 1938. Apesar de muito franzino, era um marcador muito duro, que dificilmente perdia uma dividida. Possuía uma raça de gigante. Para seu azar, jogou na mesma época de Garrincha, mas é apontado por muitos como um de seus melhores marcadores, ao lado do rubro-negro Jordan. Altair foi um lateral-esquerdo dos mais técnicos do futebol brasileiro.


Na sua posição, é um dos grandes nomes da história do Tricolor carioca. Faz parte do seleto grupo de jogadores que mais vestiu a camisa do Fluminense, com 542 jogos e 3 gols marcados, de setembro de 1955 a março de 1970. Teve o privilégio de jogar no período mais romântico do futebol brasileiro. Já no final da carreira passou a jogar como zagueiro. Atuou somente no Fluminense, sendo campeão do Torneio Rio-São Paulo (1957 e 60) e carioca (1959/64 e 69). 


Participou das Copas do Mundo de 1962 e 1966, sendo campeão em 1962. Inclusive, em 62 foi reserva de Nílton Santos e virou titular na Copa de 66, mas atuando de quarto-zagueiro. Vestiu a camisa do Brasil em 22 jogos, sendo 18 oficiais.


Altair era um ser humano de fino trato, fala mansa e de um jeito muito especial de lidar com o próximo. Após ficar internado por cerca de 20 dias, veio a óbito aos 81 anos, em 09 de agosto de 2019, de falência múltipla dos órgãos, no Hospital das Clínicas de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. Ele sofria de Mal de Alzheimer.

 

 

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

LUIZINHO: O PEQUENO POLEGAR

 


Luís Trochillo nasceu em São Paulo em 07 de março de 1930. Atacante de muita técnica, ágil, driblador emérito, de futebol irreverente e às vezes até debochado. Era chamado de “Pequeno Polegar” por seu porte físico franzino e jeito moleque.


Luizinho se tornou um dos maiores artilheiros e ídolos da história do Corinthians, time que defendeu de 1949 a 1967, exceto no ano de 1963, onde esteve emprestado ao Juventus, também de São Paulo. Foi campeão paulista em 1951/52 e 54, e do Rio-São Paulo em 1950/53 e 54) todos pelo Corinthians.



Não teve a sorte de disputar uma Copa do Mundo, pois futebol e faro de gol tinha de sobra para tal. O seu azar foi jogar em uma época em que o futebol brasileiro possuía uma quantidade de atacantes do mais alto nível, o que deixou não só ele, como também outros craques sem o prazer de representar a Seleção em um Mundial.  Vestiu a camisa do Brasil em 11 jogos e marcou 1 gol, todos oficiais, entre os anos de 1955 e 1957.


Em 1996, recebeu uma homenagem e voltou a campo, aos 65 anos, em um amistoso contra o Coritiba, para passar a camisa 8 ao estreante Edmundo e completar sua partida número 603 pelo Corinthians. Marcou 175 gols pelo Timão.


Morreu na capital paulista, em 17 de janeiro de 1998, de complicações respiratórias.

 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

MAZARÓPI – O RECORDISTA

 


Geraldo Pereira de Matos Filho sempre quis ser goleiro, desde os tempos de garoto, em Além Paraíba, cidade mineira onde nasceu em 27 de janeiro de 1953. Foi lá que começou a jogar, até ser trazido para os juvenis do Vasco, em janeiro de 1970, por intermédio de um tio que o apresentou ao técnico do juvenil – Célio de Souza. Depois de ficar dois anos na reserva do time juvenil, recebeu um convite do Botafogo e só não saiu pela pronta intervenção de seu pai.  

 

Apesar de baixinho, era extremamente ágil, sempre mostrou muita regularidade debaixo das traves, além de ter defendido vários pênaltis durante a sua carreira. Quando de sua chegada ao Vasco, encontrou no goleiro Andrada – à época titular – um orientador com quem aprendeu muito da difícil e ingrata posição de goleiro. 

 

Maracanã lotado, silêncio total. O jogo em questão é Flamengo x Vasco, decisão por pênaltis.  O jogador Tita prepara-se para bater. Embaixo das traves, Mazarópi imóvel, com os olhos cravados na bola. O chute saiu fraco, mas colocado, só que no caminho das redes estava o goleiro vascaíno, salvando o gol.  A torcida explode com a defesa que assegura o título de campeão carioca de 1977, e grita em coro o nome daquele jovem goleiro, de 24 anos.  Mazarópi detém o recorde – entre 1977 e 1978 – jogando o time carioca, de ficar 1.816 minutos sem levar gols.  

 

Teve bons momentos defendendo o Vasco e, principalmente, o Grêmio, onde marcou época e ganhou muitos títulos.  Atuou no Vasco – 1974/78, 1980/83 e 84 (campeão carioca em 1977 e 1982); Coritiba (por empréstimo) – 1979; Grêmio – 1983; 1984/90 (hexacampeão gaúcho em 1985/86/87/88/89 e 90, campeão da Copa do Brasil em 1989, e da Libertadores e do Mundial em 1983); Náutico – 1984 (campeão pernambucano); Figueirense – 1991 e Guarany (RS), onde encerrou a carreira em 1992.  Mazarópi ganhou esse apelido assim que chegou ao Vasco, nome de um humorista famoso na época. Defendeu o Vasco em 407 jogos.

                                                 O uruguaio Washington, Mazarópi e Carlos Alberto Garcia, em 1978
 

Complementando as informações, recebi do jornalista e radialista Sergio Luiz, radicado em Volta Redonda, mas nascido em Além Paraíba, detalhes da infância e outros fatos sobre o ex-goleiro Mazarópi. Eles são contemporâneos.

 

“Quando era garoto, Mazarópi tinha o apelido de Dadão e por ser alto, jogava como zagueiro no nosso time de garotos chamado Palmeirinhas. Tínhamos 12 ou 13 anos e disputávamos um futebol num areal próximo à residência dele, em Além Paraíba. Mas o curioso é que, certa vez, dona Néia, sua mãe, chamou todo o time e disse: "O Geraldinho não pode jogar na linha, porque de noite ele passa mal. Se quiserem que ele brinque, tem que ser no gol. Eu é que sei o que passo a noite". Dona Néia, mal sabia que estava definindo o futuro de um dos maiores goleiros do futebol brasileiro. Até hoje, não sei qual o mal que o afetava, talvez nem ele se lembre.

Maza sofreu muito quando foi acusado, injustamente, na Máfia da Loteria, de ter falhado num jogo contra o Bahia, em pleno Maracanã, quando tomou um gol de Alberto Leguelé, do meio da rua. Uma covardia, haja vista que o jogo nem fazia parte da loteria esportiva.

O que aconteceu é que, nesse dia, sua mãe estava internada, com leucemia, já em fase terminal. Maza estava muito abalado e não deveria nem ter jogado. Logo depois, no dia 07 de setembro, ela faleceu. Éramos amigos de infância e fiz questão de ir ao sepultamento de dona Néia, em Além Paraíba. Mazarópi não acompanhou o enterro, pois estava em estado de choque e não conseguiu levantar-se da cama.

Naquele jogo, em 1977, quando pegou o pênalti cobrado pelo Tita, conquistando o título carioca, Maza, ao final, pegou a bola e, de joelhos, foi para dentro do gol e levantou-a para o céu e ofereceu à sua mãe. Foi emocionante para todos que viram a cena.”

 

 

sábado, 6 de janeiro de 2024

ZAGALLO: O VELHO LOBO

 


Alagoano de Atalaia, onde nasceu em 09 de agosto de 1931, Mário Jorge Lobo ZAGALLO foi um atacante inteligente e de grande senso tático, notabilizou-se, sobretudo, por criar um novo estilo: ponta que recuava para ajudar no meio-campo. Era uma formiguinha, apelido que sintetizava sua maneira de jogar. Mas sempre que era preciso aparecia com sua categoria e marcando belos gols. Não que fosse um gênio, de futebol exuberante e incontestável, mas não se pode negar o valor de Zagallo dentro e fora de campo. 


Teve uma ótima passagem pelo Flamengo, mas foi no Botafogo que marcou época. Foi nas categorias de base do América que Zagallo iniciou sua brilhante carreira. Jogou depois no Flamengo – 205 jogos e 29 gols (tricampeão carioca em 1953/54 e 55), e Botafogo (bicampeão carioca em 1961/62, e do Rio-São Paulo em 1962 e 64). Após encerrar a carreira de atleta, em 1965, iniciou no Botafogo uma trajetória vitoriosa como técnico. Logo de cara conquistou a Taça Guanabara de 1967. Em 1966, já havia conquistado o Campeonato de Juvenil. 


Em uma reportagem da Revista do Esporte de 1967, após o título da Taça Guanabara, Zagallo afirmou que "nunca pensou ser técnico". Foi questionado sobre a maior lição que aprendeu durante os 15 anos de carreira como jogador e ele respondeu:

- Aprendi grandes lições, sem dúvida. A principal, talvez, seja esta: sem disciplina, nada pode ser feito. Assim, quando assumi a direção técnica da equipe, pedi a todos que não confundissem amizade com liberdade. Conseguido tudo isso, ficou fácil. Não sou melhor do que ninguém e exijo que todos cumpram seus deveres bem como tenham seus direitos respeitados. A maior dificuldade que pode haver para um treinador é transmitir suas ordens e fazer com que elas sejam compreendidas. A lição aprendida como jogador é o meu lema de todos os dias. 


Tem que se respeitar a história do “Velho Lobo” no futebol. O brasileiro tem o péssimo defeito de não reverenciar seus ídolos. Erros e acertos fazem parte da trajetória de qualquer profissional. No entanto, desmerecer o que esse cidadão conquistou é brigar contra os fatos e os números. Você pode não ser simpático a uma pessoa, e até não gostar dela, mas isso não invalida a trajetória profissional que o mesmo conseguiu. Se tiver que criticar, que o faça, mas com respeito. De qualquer maneira, tem que engolir!


Se alguém tem história para contar na seleção brasileira, esse alguém é o Zagallo. Viveu momentos de glórias e de decepções à frente do time canarinho. Pelos títulos que conquistou, seja como jogador ou como técnico, pode-se dizer que as glórias superam com sobras as decepções. O "Formiguinha", como era conhecido na época, participou das Copas do Mundo de 1958 e 62, conquistando o bicampeonato. Foi o comandante do Brasil na conquista do tricampeonato mundial em 1970, no México, e ainda dirigiu a Seleção nas Copas do Mundo de 1974 e 1998. Em 1994, era o auxiliar técnico de Parreira. A maior decepção veio em 1998, na Copa da França, com a derrota na final para os donos da casa. 


Pela Seleção atuou em 34 jogos e marcou e 5 gols, sendo 32 oficiais e 4 gols. O retrospecto como técnico da Seleção principal é o seguinte: 135 jogos (99 vitórias, 26 empates e 10 derrotas).


A sua trajetória de técnico ficou mais restrita no futebol carioca e mundo árabe. A Portuguesa de Desportos – em 1999 – foi a única equipe que treinou fora do Rio de Janeiro. Comandou o Botafogo em quatro oportunidades; o Flamengo em três; o Vasco em duas; Fluminense e Bangu, uma vez cada. Treinou as Seleções do Kuwait, Arábia Saudita e Emirados Árabes, e o Al-Hilal, clube da Arábia Saudita, em 1979.


Foi campeão carioca como técnico em cinco oportunidades: Botafogo (1967 e 1968), Fluminense (1971), Flamengo (1972 e 2001). Em 1984, foi campeão da Copa da Ásia comandando a Arábia Saudita.


Após uma luta de anos com problemas de saúde, mas sempre com lucidez e uma memória privilegiada, Zagallo faleceu em 05 de janeiro de 2024, na capital carioca, aos 92 anos, de falência múltipla de órgãos. Foi se um grande homem e desportista, fica sua história eternizada.