quinta-feira, 26 de março de 2020

SETE DE SETEMBRO: BRIGADEIRO E LÁGRIMAS - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


O Brasil vivia momentos políticos de intensa euforia. Os partidos PSD, UDN e PTB – partido de Getúlio Vargas, participavam de eleições democráticas. Getúlio, para voltar ao poder, tendo como adversário Eduardo Gomes, o Brigadeiro, que, naquela época era a esperança dos brasileiros para um país novo e progressista. Brigadeiro já havia visitado 20 estados, 216 cidades, fez nesta trajetória 242 discursos, percorrendo 85.600 km de estradas e, naquele dia, chegando em Miracema. O povo o aclamou e o carregou nos braços, da Rua da Laje até a Rua Direita. Foi uma verdadeira apoteose. Naquela ocasião fui tomado de grande emoção, e chorei pela primeira vez na minha vida.
Em 1957 eu já estava casado e já tinha nascido meu primeiro filho, trabalhando por conta própria no comércio, poderia dar aos meus pais uma existência com mais conforto, mas assim o destino não quis. Meu pai morreu 15 dias após meu filho ter nascido. Então, chorei pela segunda vez na minha vida.
Sete de setembro de 1822, nas margens do rio Ipiranga, Dom Pedro rompe os laços que prendiam o Brasil a Portugal. Daquela data em diante passamos a comemorar em todo Sete de Setembro a Independência do Brasil em todas as cidades brasileiras, participando destas solenidades até em Brasília, com as Forças Armadas com desfiles militares apresentando ao público o seu poderio armado com tanques e vasto material bélico. E nós, daqui dessa pequena Miracema, também desfilávamos quando criança pelo Grupo Escolar Ferreira da Luz, usando aquele tênis branco de sola fina chamado ‘come quieto’. Às vezes pisavam em nosso calcanhar e os tiravam dos pés. Passados já 73 anos vividos voltamos a desfilar pela Loja Maçônica por dever cívico e por amor a nossa Miracema.
Em 7 de setembro de 2004, após 182 anos da Independência do Brasil, o desfile em nossa cidade causou uma comoção geral. Após a alvorada da Banda Sete, primeiramente desfilou a APAE e, logo após, os grupos da terceira idade, o Tiro de Guerra, Lyons Club, Rotary, Maçonaria, colégios, bandas e outras agremiações.
Para terminar o desfile, o prefeito Gutemberg Damasceno fez uma prestação de contas ao povo de Miracema, desfilando pelas ruas de nossa cidade uma centena de carros tendo na frente uma UTI Móvel, carros da saúde, caminhões, carros escolares, ônibus e tratores novos adquiridos nesses quase oito anos de governo, sem deixar dívidas, recebendo do público presente uma verdadeira manifestação de apoio pela sua probidade administrativa. E, nesta manifestação espontânea, foi carregado nos braços do povo pela Rua Marechal Floriano, a nossa tradicional Rua Direita, onde havia mais de cinco mil pessoas.
E eu, ao presenciar tanta manifestação de carinho a um prefeito no seu término de governo, vendo muitas pessoas com lágrimas nos olhos, chorei, pela terceira vez em minha vida.


segunda-feira, 23 de março de 2020

ALTIVO LINHARES: ALTIVO ATÉ NO NOME - POR MAURÍCIO MONTEIRO

ALTIVO LINHARES, LUIZ FERNANDO E MARCUS FELIPE
(AO FUNDO O COLÉGIO ESTADUAL DEODATO LINHARES)


Nascido na zona rural, na fazenda Cachoeira Bonita, teve uma infância triste e sem colegas; inicia os seus estudos num Colégio Primário do povoado e depois é levado, como interno, para Leopoldina. Lá se envolve em brigas com os colegas e passa a dormir no quarto do roupeiro; depois foge pela linha férrea e chega a Miracema com os pés sangrando de tanto andar. Mandado para Campos e, sem sucesso nos estudos, retorna a Miracema a procura de emprego. Até os quinze anos andava descalço e vestia um “Riscado” como qualquer trabalhador braçal.

Adoece e durante a enfermidade entra em conflito com o padrasto e se retira para a fazenda e passa a morar numa das casas abandonadas desta. Não se empregando, ia muito cedo para Pádua a procura de Advogado para se apossar de suas terras; como era menor de idade esta luta seria demorada e difícil, mais um ano de lutas, para, finalmente conseguir o seu quinhão. Enamora-se de Zina Queiroz e após um ano estava casado, depois de conseguir um empréstimo com seu amigo Francisco Perlingeiro para pagar as despesas do casamento e comprar um carro de bois.

Muda-se para a fazenda e lá começa a derrubar matas para o plantio do café, cana, arroz, mandioca, instala um Alambique para a Cachaça e uma Olaria. Inicia a construção da sede, mas por falta de recursos não consegue terminá-la; faz um tapume debaixo do assoalho e lá passa a residir; enquanto a lavoura ia se formando. Instala uma Serraria na Rua Santos Dumont, mas a economia do distrito estava estagnada, foram dois anos perdidos. Volta para a fazenda, é um ano farto em chuvas e as suas lavouras floresceram, era o tempo de fazer o pecúlio com seguidas colheitas fartas.

Foi aí que os seus olhos se voltaram para o povoado, sem estradas, sem escolas, muita gente vivendo de expediente e jogos de azar. Passa a se interessar pela política, pelos “Tenentes” revoltosos que queriam reformas drásticas para o Brasil. Através do tribuno Maurício de Lacerda, faz contatos com vários deles, abriga-os em sua fazenda, auxiliando-os. No Rio, encontra-se com Juarez Távora e dá uma ajuda substancial para a Coluna Prestes, de dez contos de Réis – uma soma respeitável para a época.

Os revoltosos chegam ao poder em 1930, com Getúlio Vargas e Altivo é a principal figura no norte do Estado, tomando Miracema, Pádua, Itaocara e Cambuci, chegando como orador em Campos do movimento Revolucionário.

Assume a Prefeitura de Pádua e abre as estradas de Pádua a Miracema, depois até o Porto de Itaocara. Aqui remodela o Jardim, a Praça Ary Parreiras e o Jardim de Infância. Para esta missão, aluga todas as carroças do distrito. Através de Ary Parreiras consegue mais duas grandes obras: o Grupo Escolar Ferreira da Luz e a ponte sobre o rio Paraíba, em Itaocara. Não chega a inaugurar em virtude de passar a responder um processo em Petrópolis.

Volta em 1936 como deputado classista, chega à líder do governo e é um dos deputados mais temidos da Assembleia: nenhum liderado assinada um projeto sem a sua prévia anuência, e chega a ser chamado por “O Lampião do Norte”. Um ano e meio depois, com o Golpe de Estado de 1937, ele está de volta como prefeito de Miracema. Foram oito anos de poder absoluto, ninguém fazia nada na cidade sem clássica pergunta “E o altivo?”. Deixa Prefeitura em 1945 e volta dois anos após como prefeito eleito, até 1950, quando preside a mais violenta eleição de nossa história, fazendo o seu sucessor, Plínio Bastos de Barros.

Depois de vinte anos de Poder, volta para a fazenda, mas três anos após é convidado pelo governador Amaral Peixoto para ser o interventor da capital do Estado que atravessava série crise financeira. Era um convite audacioso para um político do interior. Aceitou o convite e, em troca, seria nomeado ministro do Tribunal de Contas. Muda-se para o Rio, onde era o primeiro chegar à sede do executivo. O rigor de sempre, sabia impor respeito e ordem. Como a Prefeitura Municipal de Niterói estava com excesso de funcionários, começou a demitir, cada vez mais, todo mês era uma leva, para ao final, chegar a mil! Foi um escândalo na ex-capital do Estado.

Começou a fazer obras, implantou o serviço de trolley bus na cidade e recuperou as finanças da Prefeitura Municipal d Niterói. Os vereadores aproveitaram e dobraram os seus vencimentos e do prefeito. Ele recusou a pagar e também não recebia o seu porque fora votado fora de época. O presidente do PSD, Barcelos Feio, que era também Secretário de Segurança, se bate pelos vereadores e Amaral Peixoto fica entre a cruz e a espada, neutro, não queria também desagradar ao amigo e correligionário a quem confiara à missão.

O impasse vai se agravando, e ele não cede. Por fim escreve uma carta ao governador: “V. Exa. me conhece há muito tempo e sabe que não me eduquei na escola do esbanjamento do dinheiro público para formar clientela eleitoral”. Entrega a Prefeitura ao seu chefe de Gabinete, José Geraldo Costa, assassinado dias depois no Restaurante Monteiro e volta para Miracema.

Aqui, deixa o PSD e funda o PL levando quase todos os seus seguidores, menos Melchiades Cardoso e Dirceu Medeiros. Pela primeira vez conhece uma derrota eleitoral. Perde por apenas dois votos e Moacyr Junqueira é eleito. Volta a disputar a eleição para prefeito de Miracema e Niterói. Vence com folga em Miracema; e perde por pouco em Niterói – onde fez apenas dois comícios e com mais empenho seria eleito também. Completa a sua obra administrativa com mais duas construções: a Casa de Saúde e o Ginásio Cenecista. Não faz o seu sucessor e abandona a política.

“De cem em cem anos nasce um homem como o Altivo!”, dizia-me o professor Álvaro Lontra que hoje é nome de uma escola, com aquela autoridade moral, o sendo de autoridade. O Homem que nasceu com inata capacidade de intimidar e comandar os homens. Fundava um Partido Político com a maior facilidade, envolvia os adversários e os destroçava.

O “altivismo” foi quase uma religião em Miracema, os grandes oradores da UDN não conseguiam convencer os seus adeptos, exercia um fascínio sobre o homem da rua e nos poderosos de então. Homem mais de ação do que de palavras, mas o seu discurso de posse como prefeito de Miracema é uma peça oratória que deve figurar nos anais da cidade.

Nunca esquecia um agravo. Tempos depois, Amaral é nomeado embaixador nos Estados Unidos e veio a Miracema para inaugurar uma ponte; quando a caravana chegou a Miracema, Altivo reuniu os choferes de praça e deu uma “corrida” na caravana em plena rua Direita.

Afastou-se completamente da política cumprindo o seu último mandato de prefeito e o filho, Luiz Fernando é nomeado engenheiro do D.E.R. e começa a abrir estradas e asfaltar, pavimentando o seu caminho para sua candidatura a deputado. Eleito e reeleito por duas vezes, com expressiva votação, torna-se líder da Arena e em marcha batida para governar o Estado, representando dez municípios. A sua morte nos deixou órfão de representação popular. “Foi o maior desastre de minha vida”! É o choro silencioso do pai, com duas lágrimas grossas. Luís Fernando era mais um executivo do que político, mas tinha um professor em casa e ia longe.

Quando o seu busto foi inaugurado ao lado da Biblioteca, Amaral Peixoto e Moreira Franco vieram prestigiar a solenidade e foram fazer uma visita de cortesia. Ele os recebeu friamente, diante de um Amaral alegre por reencontrar um antigo amigo de lutas políticas, a quem devotava o maior apreço.

Na ausência do filho, continuei a fazer minhas visitas para colher informações visando um livro para resgatar a memória do município, ele ia enumerando as obras que fez – quase todas as existentes, as melhores, sempre – ainda sonhando com mais coisas para a sua cidade, dominado pelo amor à pátria que segundo Marcel Proust “É a grande frivolidade daqueles que estão morrendo.”


REMINISCÊNCIAS DO CAXAMBU - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


No mês de maio o dia 13 amanheceu sombrio, sem que o velho Sol desse as caras, e logo a chuva desceu para molhar os campos e as flores, como se também quisesse festejar o Dia das Mães. Em torno da mesa, os genros, as noras, os filhos e os netos a encher as mamães de presentes, cada um comemorando a seu jeito. Dia também de Nossa Senhora de Fátima, que apareceu pela primeira vez em 1917.

Em maio as noites são mais frias e as lembranças do passado começam a povoar o meu cérebro quando deito. Eu, ainda menino, sem compromisso com as coisas do futuro, com o pensamento voltado somente para o dia-a-dia. As brincadeiras como a bola de gude, o pião, a seta, os banhos no ribeirão e outras peraltices. E nesses pensamentos vem as dos “tipos de ruas”, assim como pedintes, andarilhos, pessoas simples que viviam nas ruas e dormindo ao relento, como a Isabel dos Cachorros, por ter vários cachorros à sua volta; Neca Solão, que usava sempre um botinão ou sapatos velhos de sola grossa, usados na época, sempre com um paletó ensebado pela sujeira; outro rapaz com os cabelos arrepiados era epiléptico, chamado de Zé Cambaleão da Lacraia; uma preta velha que brigava ao ser chamada de mãe do Rundunga, o seu nome era Verônica; o Lanceiro da Índia, pôr usar na época uma bermuda, andando sempre com um pau em forma de varal onde pendurava vários badulaques: roupas, arames, panelas e sapatos velhos; o Pedro Fernandes, entregador de convites para enterro, de casa em casa como era de costume; o Waltinho Cabeçudo, vendedor de gelo raspado por uma pequena plaina, que misturava com a groselha; havia uma cadela adestrada chamada Princesa, que ia ao açougue do Lelé com uma cestinha amarrada ao pescoço, pegava a carne dada pelo açougueiro e entregava direto ao seu dono, sem ser incomodada pelos outros cães. Certo dia ao entrar ela no cio, o cão do vizinho, chamado Pimpão, comeu a carne e a Princesa ao mesmo tempo.

As ruas não eram calçadas. O terreno onde é a prefeitura servia para armar os circos, as festas da igreja e outras. Festas de São João e São Pedro, com barracas, bandeirinhas, balões e fogueiras. Sempre no dia 13 de maio promovia-se o caxambu para comemorar a abolição da escravatura, comandado por uma mulher baixinha, de um metro e meio de altura, chamada de Maria Batuquinha, apelido esse pelo batuque dos tambores, e seus companheiros: Sebastião Salú, Augusto Munheca por faltar uma mão, Iberalina, Claudino, Isabel dos Cachorros, Pedro Lima, Bibiano, Dionizio e muitos outros. Tinha como organizador das festas o Chico Violeiro, sempre de roupa preta e colete, fumando charuto barato ou cigarro com piteira. 

Na batida dos tambores os cantadores tiravam o jongo, que era um desafio aos outros cantadores (jongo é uma espécie de samba-de-roda com cantoria, estrofe e refrão, ritmado com palmas, chocalhos e tambores). Havia um que dizia assim: Vela inteira não alumia, cotoco de vela quer alumiar/ Quem nunca viu vem ver caldeirão sem fundo ferver. Outro: Saia rodada de renda de bico, apanha a laranja no chão tico-tico/ Caxambu morreu, manda enterrar e chega na porteira maninha, caxambu tá lá. E iam entoando aquelas cantigas até altas horas da noite, e bebendo cachaça. E lá pela madrugada entrou um moço branco na roda, que mais tarde ficaram sabendo que era o Dizinho do Cacheado, e tirou um jongo que dizia assim: “Oh! Inhambu tão peladinho/ Oh! Urubu cê tão cabeludo”; e todos foram cantando e foi aumentando o tom, até que o Augusto Munheca gritou: Páaara, páaara, nós estamos cantando besteira. Parou a cantoria e ‘comeram o pau’ no Dizinho.



domingo, 22 de março de 2020

VEJA AS DICAS PARA SE PROTEGER DO CORONAVÍRUS




Confira:

Higienize as mãos
Lave suas mãos frequentemente com água e sabão ou com uma solução de álcool em gel.
Por quê?  Esfregar as mãos ajuda a eliminar traços do vírus que podem estar presentes em lugares de uso comum.

Mantenha distância social
Mantenha pelo menos um metro de distância de pessoas que apresentam tosse ou espirros constantes.
Por quê? A tosse e o espirro propagam pequenas gotas de secreção e saliva que podem conter vírus. Com a proximidade, a chance de respirar ou ter contato essas gotículas aumenta.

Evite tocar os olhos, o nariz e a boca
Evite coçar, esfregar ou ter qualquer tipo de contato com as mucosas. Essas áreas têm contato direto com a corrente sanguínea e são mais sensíveis à presença de agentes de contaminação
Por quê? As mãos estão em contato constante com superfícies que podem ser vetores de transmissão de vírus e bactérias. Mantê-las longe das mucosas diminui a chance de ficar doente.

Pratique higiene respiratória
Tenha boas práticas de higiene respiratória. Isso significa cobrir a boca e o nariz com o braço curvado ou com um lenço de tecido ou papel ao tossir e espirrar. Descarte ou higienize o material usado imediatamente.
Por quê? Gotículas de saliva e secreção são vetores do Covid-19. Evitar que outras pessoas entrem em contato com saliva contaminada evita não apenas o coronavírus, mas uma série de doenças respiratórias.

Em caso de febre ou dificuldade respiratória, busque ajuda médica rapidamente
Não saia de casa se estiver com febre. Se os sintomas persistirem e caso haja dificuldade respiratória, busque atenção especializada imediatamente.
Por quê? Apesar de serem sintomas comuns, uma ação rápida pode evitar problemas mais sérios e o desenvolvimento de sintomas mais graves de infecções respiratórias.

Uso de máscaras
Pessoas saudáveis, sem sintomas como febre, tosse ou espirros não precisam usar máscaras.
Por quê? Apenas profissionais de saúde e pessoas que apresentem sintomas parecidos com os do novo coronavírus precisam usar máscaras. A função das máscaras é conter a propagação do vírus em quem já está infectado. A OMS recomenda o uso racional das máscaras.

Fique bem informado e siga os procedimentos do Ministério da Saúde
Por quê? Autoridades nacionais e locais têm a informação mais atualizada sobre a situação de saúde na sua área. Tomar atitudes preventivamente ajuda o sistema de saúde a distribuir e compreender de maneira ágil a disseminação de qualquer doença.

Fonte: Agência Brasil – Edição Lílian Beraldo



sexta-feira, 20 de março de 2020

SEU ERNESTINO E A REVOLUÇÃO - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


Ernesto Moraes Tostes, este era o seu nome, mas todos o chamavam de Ernestino. Ainda criança conheci o Seu Ernestino. Era gordo, olhos azuis, cabelos brancos. Gostava de andar sempre de chinelos de liga e calça amarrada com o cinto fora do passador.

Era casado com Dona Delmira. Sua casa vivia sempre cheia de gente. Tinha dez filhos, sendo sete homens e três mulheres. Dutra, Ernesto, Lelé, Bem, Gino, Lulu e Mariano. As mulheres Mariquinha, Julieta e Júlia. Ernesto era casado com Dona Filhinha, como era chamada; Gino casado com Nélia, Lelé com Catariana Coelho, Lulu com Carlota. O Bem casado com Aparecida, Mariano ficou viúvo e casou-se pela segunda vez com Maria Lopes. Mariquinha casada com Homero Padilha, Julieta com Bentinho e Júlia com Manoel Reinaldo.

Também vivia com o casal uma cozinheira negra chamada Faustina e um caseiro mulato chamado Durval; tinha olhos azuis e diziam que era seu filho natural. Ernestino tinha uma fazenda chamada Cachoeira Alta e Pinduca. Ficava a sei ou sete quilômetros da rua. Morava onde hoje é a Rádio Princesinha e tinha uma outra casa ao lado onde morava Homero Padilha. Mais à frente um açougue, onde Lelé era o açougueiro, um bar alugado para o Cabloco e na parte de trás, no outra rua, a João Pessoa, uma fábrica de manteiga onde trabalhavam o Reinaldo e o Mariano.

Bentinho, casado com Julieta, queria vender uma Fazenda. Homero saiu de casa para comprar. Ficou o dia todo com o Bentinho para fazer o negócio. Quando chegou em casa a Mariquinha perguntou: - Comprou a fazenda Homero? Homero respondeu: - Ele não falou nada, também não perguntei. Nenhum dos dois eram muito de conversa.

Manoel Reinaldo, casado com Júlia, era motorista e chefe dos Integralistas. Manoel era forte e bonito. Quando vestia o uniforme as mulheres ficavam indóceis. Em 1937 foi preso juntamente com outros integrantes do partido.

Na Revolução de 1930, no dia 3 de outubro, 60 a 70 soldados vindos de Juiz de Fora chegaram em Palma pela estrada de ferro, comandados por Asdrubal Gwyer de Azevedo e o tenente Lopes. No outro dia chagaram em Miracema, que era distrito de Pádua. A maioria do povo procurava abrigo nas fazendas, temendo a Revolução, e assim diversas famílias foram para a Fazenda do Pinduca, que pertencia ao Sr. Ernestino, e lá ficaram por 15 ou 20 dias até voltar à normalidade. Lá na Fazenda foram bem recebidos por Ernestino. Matavam capado, comiam frango, arrancavam aipim, abóbora. A comida era farta. Os homens dormiam na tulha e tomavam banho no valão ou na bica. As mulheres dormiam dentro da casa da Fazenda, no chão, em cima de cobertores ou lençóis, e tomavam banho em bacias.


Ao morrer Ernestino, a Fazenda foi dividida entre 10 herdeiros. Hoje, apenas um neto e dois bisnetos ainda têm a sua parte.

Altivo Linhares aderiu à Revolução e o General Asdrúbal nomeou um negro carroceiro chamado Galdino como cabo, e dias depois a Sargento. Cícero Bastos era o Prefeito de Pádua. Após a Revolução foi nomeado Altiva para o seu lugar.

Em 1929, quando houve as eleições, ganhou Júlio Prestes e foi eleito presidente da república Getúlio Vargas, que assumiu e chefiou a Revolução que durou 21 dias. 

Assumiu o governo e implantou a ditadura e lá ficou por 15 anos. Em 24 de outubro o presidente Washington Luiz foi intimado a deixar o governo, sendo levado para o Forte de Copacabana e exilado para a Europa.

quinta-feira, 19 de março de 2020

GRIPE ESPANHOLA: MAL MISTERIOSO QUE DIZIMOU MILHÕES DE VIDAS

Um hospital dos Estados Unidos, em 1918, lotado de vítimas da gripe espanhola

                               



Era a primavera de 1918. A Primeira Guerra Mundial se aproximava do fim. Subitamente, os soldados começaram a cair doentes, com febre, dores e mal estar generalizado. Em poucas semanas a gripe misteriosa varria acampamentos militares nos Estados Unidos e trincheiras na Europa. Daí para as populações civis foi um pulo: em menos de um ano, a mais destrutiva epidemia da História já havia se alastrado por todos os continentes. Com sua dispersão facilitada pelas carências típicas de um tempo de guerra, fez mais de um bilhão de doentes, metade da população do mundo. Nunca se chegou ao número exato de mortes. Estima-se que a gripe espanhola tenha vitimado entre 50 e 100 milhões de pessoas em todo o mundo, se tornando um dos desastres naturais mais letais da história humana.  

Ninguém sabe a origem do vírus que matou mais gente em um ano do que a guerra em quatro. O nome gripe espanhola deve-se à virulência com que atacou na Espanha, cujo rei foi uma das primeiras vítimas. Nos hospitais americanos instalados na França foram tratadas 70.000 pessoas, 30% das quais morreram. Mas a tragédia maior foi na África e na Ásia. Em Tânger, os cortejos fúnebres engarrafavam estradas. Na Índia, onde a doença matou 4% da população, os mortos eram empilhados nas ruas. Na China, as cenas eram igualmente dramáticas. Daí a epidemia também ter ficado conhecida como gripe asiática.

No Brasil, o vírus chegou em outubro, pelo porto do Rio. Só naquele mês, contaram-se 12.000 mortos na cidade. Logo morreria até o presidente eleito, Rodrigues Alves, antes de tomar posse. A pandemia chegou a matar mais de 35 mil pessoas no país, segundo o Instituto Butantã.  Os períodos de periculosidade de infecção levaram à imposição de medidas sanitárias. Foram fechadas escolas, estabelecimentos comerciais, cinemas, cabarés, bares, festas populares e partidas esportivas foram proibidas, tudo isso para evitar a aglomeração de pessoas. Isto, pois, as atividades que exigiam maior contato interpessoal aumentavam as chances de contaminação. Foram meses em que a vida social limitou-se ao máximo.

A epidemia acabou do modo súbito como tinha começado. Deixou um saldo de um crescente interesse médico pela epidemiologia e pela pesquisa de vacinas. Mas só em 1933 cientistas britânicos identificaram o vírus que causara tanto medo e sofrimento ao mundo.

As três fases da Gripe Espanhola

- A primeira fase aconteceu entre março e abril, no Kansas, Estados Unidos, num campo de treinamento de tropas destinadas ao front da 1ª Guerra e, apesar de ter sido considerada branda, levou à morte, em todo o primeiro semestre, aproximadamente dez mil pessoas, grande parte atribuídas à pneumonia.
- A segunda fase aconteceu quando, depois de percorrer os continentes, retornou aos Estados Unidos em agosto, matando milhões, transformada “em algo monstruoso, parecendo-se muito pouco com o que é comumente considerado gripe”, com uma taxa de letalidade de 6 a 8%.
- A terceira fase foi mais moderada e aconteceu no início de 1919, de fevereiro a maio daquele ano. No entanto, “Nada – nem infecção, nem guerra, nem fome – jamais tinha matado tantos em tão pouco tempo”.

segunda-feira, 16 de março de 2020

TELEFONISTAS - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


O posto telefônico era no mesmo local onde hoje está implantado um moderno conjunto arquitetônico da Telemar. Era uma casa residencial adaptada, onde muitas telefonistas se revezavam durante os dias para prestar o serviço.

Como gerente geral havia o Zé do Telefone e Dona Elisa, casada com o Joaquim do Correio, como chefe das telefonistas.


As telefonistas da Cia Telefônica Brasileira eram a Célia, Celeste, Edyr, Nice, Maria das Graças, Solange, Janete, Maria Tereza, Bolinha e Maria Luiza, que morreu recentemente e pertencia ao Grupo Reviver, e outras que não lembro. Os funcionários Newton do Telefone, José Corrêa, Domingos, Walfrido, e sempre um garoto como mensageiro.

As ligações eram difíceis de completarem. Tínhamos que pedir à telefonista que ligasse para o número tal e esperar vários minutos ou várias horas, dependendo do caso, para completar.

No jogo do bicho o resultado vinha por telefone. O banqueiro pedia uma ligação aprazada para as 02h30min e ficava na linha aguardando o resultado. Quando não conseguia, brigava com a telefonista e arranjava uma confusão dos diabos, até que um dia a telefonista mandou chamá-lo para ele ter uma ideia de como funcionava aquela parafernália, com fios para todos os lados. Em certa ocasião em que o telefone não estava funcionando, um cambista ficou sabendo do resultado antes e preencheu a pule com o bicho que havia dado e recebeu o prêmio.

Em Miracema depois foi fundada um companhia telefônica chamada Temisa, que funcionou vários anos. Após ser vendida, com o dinheiro foi adquirido o Vale do Cedro, posteriormente loteado.


Para se fazer uma ligação interurbana de Miracema para Palma, a telefonista chamava Campos, Campos chamava Cataguases, Cataguases chamava Palma e a telefonista de Palma mandava um mensageiro chamar a pessoa desejada para vir até ao posto telefônico. Nessas alturas dos acontecimentos, o defunto já havia sido enterrado.

Hoje as comunicações estão muito adiantadas, 70% da população tem um celular, mas ainda guardo na lembrança o velho Telefone, com aquela caixa grande fixada na parede e nós levávamos o fone até o ouvido para conversar sem compromisso e jogar conversa fora.

Em tempo: Meu telefone era o número 27. Passou para 277 e depois para 477. Depois acrescentaram um 520 e ficou 520477, e hoje é 38520477 – Alô, quem fala?


sábado, 14 de março de 2020

ECONOMIZAR - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


Hoje vemos estampado em todos os jornais que haverá ‘apagão’ se não economizarmos energia.

Lembro-me da época em que Miracema dependia da Companhia Força e Luz Norte Fluminense. As lâmpadas eram como tomate aceso; as ruas escuras; os cinemas funcionavam com geradores; greves quase todos os dias para melhoramentos dos serviços.

Foi eleito deputado Nicanor Campanário, por ter feito campanha contra a Companhia. Nós pagávamos, mesmo sem termos energia, preços absurdos. E parece que daqui a alguns dias viveremos os mesmos problemas, só que hoje será muito pior. Hoje temos à nossa disposição aparelhagens modernas e sofisticadas. 

E isso me faz lembrar do Romão, um fazendeiro abastado, dono da Fazenda Morro Azul. Não jogava peteca com medo de abrir a mão, de tão econômico que era. Comprava café e vendia para uma firma de Juiz de Fora, que mais tarde lhe deu um grande prejuízo, e daí para frente ficou mais apegado ao dinheiro. Sua neta um dia estudava em seu quarto, e para economizar luz, ela acendeu uma lamparina a querosene. O Romão, do outro lado, grita: “Apaga a lamparina, pois está gastando o querosene”. “Mas vô, eu comprei o querosene”, disse a neta, ao que Romão respondeu: “É, mas o pavio é meu”.

Um fazendeiro por nome Heitor, que morava em frente à Igreja Matriz, assistia sempre a missa da janela que ficava a uns trezentos metros, usando um binóculo. Na hora em que vinha a bandeja para colher o óbolo, ele retirava o binóculo rapidamente. Um dia quis tomar aulas de economia com o Romão. Este, chegando em sua casa para a primeira aula, sentou-se à mesa, na qual havia uma gaveta para quando, na hora do almoço, se chegasse uma visita, o Heitor colocava os pratos dentro dela e fechava.

Sentaram-se de frente um para o outro, e disse o Romão: “A primeira lição é apagar a luz para conversarmos”. “Já apaguei”. “Agora tira a calça para não gastar nos fundilhos”; e responde o Heitor: “Já estou sem calça”. Levanta o Romão e diz: “Eu já posso ir embora, você sabe mais que o professor como economizar. Ainda bem que tenho um discípulo muito bom, o Genuíno.”

E assim, meu amigo, se quiser que a sua luz não seja cortada, faça como o Romão: apague-a ao conversar com a mulher, tome banho somente aos sábados, desligue o freezer; a não ser que queira pagar multa.


segunda-feira, 9 de março de 2020

PAULO AQUINO: O VANGUARDA DA FAMÍLIA NO JORNALISMO - POR JOSÉ MARIA DE AQUINO

Acervo José Maria de Aquino

Paulo Aquino foi um miracemense apaixonado por esportes. Não era craque em nada, mas praticava de tudo. Basquete, vôlei, futebol. Jovem, antes de cumprir o Tiro de Guerra e mudar-se para São Paulo, foi centroavante do time B do Esportivo. Em São Paulo treinou como zagueiro no Juventus, mas preferiu seguir a vida fora dos campos, apenas na várzea, como zagueiro e presidente do E.C. Mauá e do Auto Escola Jurandy - antigo goleiro do Flamengo, camisa 9 no time que montou na região do Mercado Central de São Paulo.

Formado em contabilidade, deixou o curso de economia para seguir sua paixão: jornalismo, depois de ganhar vários prêmios enviando crônicas e comentários sobre futebol para a Rádio Pan-americana, hoje Jovem Pan, no início da década de 1950, sendo convidado para fazer parte da equipe.

Trabalhou no jornal O Tempo, Correio Paulistano e Estadão. Cobriu as Copas de 1966, na Inglaterra e de 1970, no México. 

Trabalhou na TV  Paulista, hoje Rede Globo, como repórter e apresentador. Na Tupi, como comentarista, sendo o primeiro a apresentar lutas livre, em ringue montado no então Circo Piolim, na avenida General Olímpio da Silveira. Trabalhou na Tv Cultura, como redator. Apaixonado por boxe foi o jornalista que cobriu a primeira luta do Éder Jofre, contra Joe Medel, pelo mundial dos galos, em Los Angeles.

Tinha paixão por Miracema e Campos dos Goytacazes, trazendo vários amigos dessas cidades para trabalhar em São Paulo, na área do esporte e fora dela. Trouxe de Miracema Marconi Moledo, seu primo, e Ori Rangel, outro apaixonado pelo esporte e jornalismo, que não suportou muito tempo o frio e a distância dos amigos e do futebol do Rio e Niterói, voltando após alguns meses. 

Foi quem levou o cunhado Luiz Carlos Secco, ciclista de voltas internacionais, para o jornalismo, tornando-se o primeiro repórter a cobrir automobilismo, especialmente Fórmula Um,  pelo Estadão. E pela ida do irmão José Maria de Aquino para o Jornal da Tarde, nos fins de 1965.

Nota: Paulo Aquino nasceu em 21 de janeiro de 1926. Morreu em São Paulo, aos 85 anos, em 12 de junho de 2011.  

domingo, 8 de março de 2020

A MULHER É UM EFEITO DESLUMBRANTE DA NATUREZA


Mulher, você recebeu o dom Divino de GERAR e dar VIDA, só isso já bastaria para tamanha importância do seu SER. Mas você é muito mais do que isso, e não é necessário buscar palavras para homenageá-la no dia de hoje, pois devemos fazê-lo nos outros 364 dias.

Mesmo assim, vim fazer uma homenagem a todas as mulheres e, principalmente, àquelas que compartilham o meu amor de esposo – Renata, e de filha – Lívia Maria, que são uma das razões da minha vida.

Mulher que é minha mãe - Cleia, com quem aprendi a ser um cidadão de bem e que me ensinou o caminho da verdade e do respeito, com muita sensibilidade, bravura e perseverança.

Mulher que é minha sogra – Ilma, por quem tenho muito respeito, carinho e uma grande admiração. É a minha segunda mãe. 

Ainda tenho mulheres irmã – Áurea Maria, tias, primas, madrinhas, amigas, amigas e amigas... que não citarei nominalmente para não ser injusto com nenhuma delas. Sintam-se todas homenageadas.

Um forte abraço e um beijo com muito carinho em todas vocês!