quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

PELÉ POR AÍ...

 




PELÉ NO VASCO...




Torcedor vascaíno durante a sua infância quis o destino que Pelé, com apenas 16 anos, quase conquistasse seu primeiro título profissional com a camisa do próprio Vasco, em pleno Maracanã.

Tudo aconteceu na disputa do Torneio do Morumbi de 1957, competição amistosa promovida pelo São Paulo para celebrar o início da construção de seu estádio – que foi inaugurado em 1960. Despontando com rara habilidade, a jovem promessa foi “cedida” ao Vasco – juntamente com os santistas Ivan, Urubatão, Brauner, Álvaro, Jair Rosa Pinto e Pepe – para formar uma espécie de combinado, já que o time principal do Vasco excursionava pela Europa. Até então, Pelé havia jogado 30 partidas como profissional vestindo a camisa do Santos.Torcedor vascaíno durante a sua infância quis o destino que Pelé, com apenas 16 anos, quase conquistasse seu primeiro título profissional com a camisa do próprio Vasco, em pleno Maracanã.

Foram três jogos e cinco gols com a camisa do Vasco: Belenenses/Portugal (6 x 1 para o combinado); Dínamo Zagreb/Iugoslávia (1 x 1); Flamengo (1 x 1).

Três partidas do combinado foram no Maracanã. Outros jogos foram realizados no Pacaembu. Inclusive, na fase seguinte o jogo do combinado Vasco/Santos contra o São Paulo foi no Pacaembu, empate de 1 a 1, e o combinado usou a camisa do Santos. O torneio não chegou ao fim, pois não despertou muito interesse do público, e os seus organizadores resolveram suspendê-lo devido aos prejuízos.

Em maio de 1965, no gramado do Maracanã, Pelé recebeu das mãos de Manoel Joaquim Lopes, presidente do Vasco, um escudo de ouro e um título de sócio patrimonial do clube. Pelé nunca negou suas condições de torcedor do Vasco. 

 

PELÉ NO FLUMINENSE...



Isso aconteceu em 1978, numa excursão do Fluminense ao continente africano, mais precisamente na Nigéria. Era um amistoso contra o Racca Rovers. Pelé não foi ali originalmente para jogar pelo Fluminense: ele havia sido convidado apenas para dar o pontapé inicial na partida, mas como as emissoras de rádio e os principais jornais da Nigéria acabaram divulgando o boato de que ele iria jogar e isso foi suficiente para superlotar o Estádio. Para evitar uma possível tragédia, Pelé jogou os primeiros 45 minutos pelo Fluminense, que venceu a partida por 2 x 1 e o Rei não marcou nenhum dos gols. 


PELÉ NO FLAMENGO...


 

Com 39 anos, Pelé vestiu a camisa 10 do Flamengo em 1979, deixando o Zico com a número 9, no confronto contra o Atlético Mineiro, que gerou uma renda de CR$ 8.781.290,00, com um público de 139.953 pagantes. O jogo foi em benefício dos mineiros que sofreram com a enchente naquele ano. Comandado por Zico, que marcou três vezes, e pelo ponta Júlio César, o Uri Geller, o Flamengo goleou o Galo por 5 a 1. Marcelo anotou o gol atleticano.

 

Flamengo: Cantarelli, Toninho, Rondinelli (Nelson), Manguito e Júnior; Andrade, Carpeggiani (Ramirez) e Zico; Tita, Pelé (Luisinho) e Júlio César (Reinaldo). Técnico: Cláudio Coutinho.

Atlético-MG: João Leite, Alves, Osmar, Luizinho e Hilton Bruniz; Cerezo, Marcelo (Carlinhos) e Paulo Isidoro; Serginho (Pedrinho), Dario e Ziza (Vilmar). Técnico: Procópio Cardoso.

 

 

PELÉ NA SELEÇÃO COMEMORANDO SEU CINQUENTENÁRIO...

 


Para comemorar o cinquentenário de vida do Rei Pelé, a CBF organizou para o dia 31 de outubro de 1990 um amistoso entre a Seleção Brasileira, com a participação do Rei do Futebol e o Combinado do Resto do Mundo, uma seleção dos melhores jogadores que disputaram a Copa do Mundo de 1990, ocorrida quatro meses antes. O jogo ocorreu no Estádio Giuseppe Meazza, em Milão (Itália).

Pelé jogou por 43 minutos, substituído por Neto. O Rei poderia ter marcado o último gol de sua carreira se não fosse o atacante Rinaldo, do Fluminense, que protagonizou um lance que entrou para a história. O jogador tricolor partiu pela esquerda contra apenas um zagueiro, enquanto Pelé vinha a seu lado totalmente desmarcado (propositalmente, talvez), só esperando receber a bola para marcar o gol. Rinaldo – infelizmente – não tocou e ainda perdeu o gol.

Neto fez o gol do Brasil, de falta, enquanto o espanhol Michel e o romeno Gheorghe Hagi marcaram os gols do Combinado do Resto do Mundo.

 

 

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

DO GUALICHO AO GARRINCHA – POR MÁRCIO SOUZA (JORNALISTA ESPORTIVO)

 


Até meados de 1953 o nome mais famoso das Américas era de um cavalo, o argentino Gualicho. Ele conquistou uma façanha, até hoje não igualada: venceu o Grande Prêmio São Paulo e o Grande Prêmio Brasil em 1952 e repetiu a proeza em 1953. Nenhum outro cavalo sequer igualou essa marca, vencendo os dois maiores prêmios do turfe sul-americano, por duas vezes consecutivas. Ao mesmo tempo, em General Severiano, surgia um jovem, super tímido, quase caipira, trazido pelo zagueiro Arati, após vê-lo barbarizando em jogos regionais, pelo time do Pau Grande FC, em Raiz da Serra, próximo a Magé, Estado do Rio. Ninguém levava fé na descoberta do Arati, principalmente porque o garoto tinha uma deficiência nas pernas, com joelhos visivelmente entortados, da direita para a esquerda, parecendo até dificultar para ficar em pé ou caminhar normalmente. Logo no primeiro treino, atuando pelos reservas, sabe quem o rapazinho teve pela frente? Simplesmente Nilton Santos, maior lateral esquerdo do futebol brasileiro e mundial, de todos os tempos. Em poucos minutos, o pontinha folgado deitou e rolou, dando dribles desconcertantes no famoso "Enciclopédia", a ponto de Nilton Santos pedir ao treinador, Gentil Cardoso, para que tirasse aquele moleque da sua frente, fazendo quase um apelo "nunca mais me bote prá marcar esse pirralho"! Imediatamente, Gentil Cardoso passou o garoto para o time titular e, daí em diante, jamais Nilton Santos enfrentou o rapaz, mesmo durante os treinamentos...

 

Agora, voltando à manchete dessa matéria: o quê tem a ver o Gualicho (cavalo) com o Garrincha (ponta-direita)? Tudo! Ainda em 1953, ao estrear no time principal, em jogo contra o Bonsucesso, o ponta Manoel dos Santos foi chamado, pela maioria dos narradores, pelo nome de Gualicho, achando que o apelido do jogador era uma espécie de homenagem ao cavalo campeão argentino. Eu mesmo, quando trabalhei na Emissora Continental, de 1963 a 1965, nos arquivos carinhosamente organizados pelo Agostinho Olivato Neto, cheguei a ouvir narrações de locutores da época, entre eles o Oduvaldo Cozzi e o Antônio Cordeiro, a maioria descrevendo lances criados pelo Gualicho, enquanto outros locutores, especialmente Waldir Amaral, já identificavam o jogador pelo apelido correto, Garrincha. A dúvida só foi desfeita quando Geraldo Romualdo da Silva, editor do Jornal dos Sports, recebeu o jogador, na redação do "cor de rosa", para uma entrevista esclarecedora. E o próprio Manoel Francisco dos Santos revelou que seu apelido era homenagem a um pássaro, Garrincha, e que não tinha a menor idéia de quem era o cavalo Gualicho. (Acrescento, por minha conta, que o Gualicho deve ter sido o primeiro "João" do Garrincha!)

 

Detalhe: no jogo em que fez sua estréia oficial no Botafogo, dia 19 de julho 1953, no campo do Bonsucesso, contra o time da casa, o alvinegro goleou por 6x3. Dino da Costa fez 2 gols e Vinícius fez um. Esses dois, pouco depois, foram para o futebol italiano, praticamente iniciando o êxodo de jogadores brasileiros para o futebol europeu. Na vitória por 6x3 sabe quem foi o artilheiro? Garrincha, com 3 gols.

 

O primeiro deles cobrando penalty, mostrando desde logo que tinha personalidade. Muita gente, inclusive que trabalha atualmente no meio esportivo, nem passa pela cabeça que, durante algum tempo, Garrincha foi Gualicho... ou que Gualicho foi Garrincha! Os dois até hoje, jamais foram superados, em seus respectivos "templos sagrados", os hipódromos e os estádios de futebol. Entre eles havia uma única diferença: o argentino era um quadrúpede fantástico, espetacular, formidável, garboso, enquanto o brasileiro era um bípede genial, incomparável, apaixonante, inesquecível!

sábado, 23 de dezembro de 2023

SERGINHO: O CHULAPA

 


Sérgio Bernardino nasceu na capital paulista em 23 de dezembro de 1953. Atacante de técnica razoável, mas de boa colocação na área, oportunismo e temperamento polêmico. Durante os anos em que desfilou sua capacidade de fazer gols, Serginho Chulapa também acumulou algumas confusões dentro de campo ao longo de sua trajetória desportiva. Com tudo isso, Serginho foi um artilheiro do nosso futebol. O apelido “Chulapa” foi dado pelo narrador Silvio Luiz, pelo pé tamanho 44. Sua movimentação desengonçada, usando muito os braços, rendeu mais um apelido: “Tamanduá-bandeira”, vindo do narrador Osmar Santos.


Seu nome é obrigatório na relação de grandes atacantes da história do São Paulo. É o artilheiro máximo do clube com 242 gols. Sua passagem pelo Santos também merece destaque. Ficou marcado no coração do torcedor santista ao fazer o gol que garantiu o título paulista de 1984, no jogo final contra o Corinthians.


Atuou no São Paulo – 393 jogos e 242 gols (campeão paulista em 1975/80 e 81, e do brasileiro em 1977), Marília (SP), por empréstimo, em 1973 – 20 gols, Santos, em quatro oportunidades – 202 jogos e 104 gols (campeão paulista em 1984), Corinthians – 38 jogos e 14 gols, Marítimo/Portugal, Malatyaspor/Turquia, Portuguesa Santista – 42 gols, São Caetano (SP) – 37 gols e Atlético Sorocaba (SP), onde encerrou a carreira em 1993.


Era um dos nomes cotados para a Copa de 1978, na Argentina, porém acabou perdendo a chance de jogar quando teve que cumprir um ano de suspensão por agredir um bandeirinha.


O ápice de sua carreira foi em 1982, quando foi titular da seleção de Telê Santana na Copa do Mundo de 1982, na Espanha, a única que participou. Disputou todas as partidas como titular, tendo marcado dois gols, contra Nova Zelândia e Argentina. Vestiu a camisa do Brasil em 22 jogos e marcou 9 gols, sendo 20 oficiais e 7 gols.

 

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

O TRÁGICO FIM DE UM TIME

 


Nota: matéria do jornal O Dia de 29 de outubro de 1995, assinada por Elis Regina Nuffer e fotos de Antônio Cruz.

 

Até o início daquele sábado fatal, o grupo de veteranos do Sanjoanense Futebol Clube, de São João da Barra, tinha um projeto: integrar as famílias no esporte. Foi tudo por água abaixo na viagem da tragédia que nunca sairá da cabeça do povo da cidade. A história do time começou no dia 08 de julho de 1986 com Sidney Moreira, 42 anos; Cileide Moreira, 41, o Leca; e João Batista Vieira, o Robalinho, 40, mas as alegrias nunca mais vão se repetir no grupo. O time acabou no acidente com o ônibus da Auto-Viação Gargaú, que caiu no Rio Macuco, com 55 jogadores e torcedores, após rolar de uma ribanceira de 80 metros.

Os três amigos também estavam no ônibus, mas escaparam. Sidney só quebrou o fêmur, porém, perdeu a mãe, Jurema Mota Moreira, 62. O destino não foi menos cruel com Leca, cuja mulher, Ângela Maria Moreira, também morreu na hora. Só Robalinho e a mulher, Noeli Vieira, tiveram apenas ferimentos leves. O filho de Leca, Everton, de nove anos, também estava no ônibus e é um dos sobreviventes. Ele não consegue falar no assunto, pois viu a mãe morta ao seu lado. Um jogador, Zulício Melo Novas, 57, morreu na hora. Na quinta-feira, às 16h, São João da Barra parou para agradecer pelos sobreviventes, com missa realizada na Igreja Nossa Senhora da Penha, na praia de Atafona.

Na segunda-feira, mais de 800 pessoas acompanharam o enterro das cinco vítimas que foram encontradas logo após o acidente. O time estava com jogos agendados até dezembro, em várias cidades. A viagem para Friburgo foi marcada em junho. “Não sabíamos que estávamos assumindo um compromisso para a morte de nossos familiares”, desabafou José Martinho Sena, 57, um dos responsáveis pelo grupo desde 1989. Se tudo tivesse dado certo, ontem o time teria jogado em Itaocara, como aconteceu no ano passado.

 

‘Deus precisa do que é bonito’

Alexia dormia no colo da mãe, a dona de casa Antônio Ribeiro, 33, quando houve o acidente. O pai se lembra de tudo, desde o primeiro tombo do ônibus. Naquele momento, só gritava por Deus. Na última queda, percebeu as pessoas caindo por cima dele, mas não podia fazer nada. Lutou contra a morte dentro do rio, até conseguir segurar numa moita e subir no barranco. “Acredito que minha filha não era mesmo para este mundo e temos que nos conformar, pois Deus também precisa do que é bonito”, falou, chorando.

A pequena Alexia completou dois anos no último dia quatro. A casa da família está em obra e o quarto dela foi o primeiro cômodo a ficar pronto. Toda contente, a menina não se cansava de olhar na porta e dizer que estava bonito. Vaidosa, Alexia já tinha batom e não gostava de sair de casa sem antes passar perfume. Sentia a falta do pai, a quem chamava de Tutu, até quando ele estava em casa.

 

Uns se foram, outros ficaram...

Havia seis pessoas da família Sena no ônibus, mas só Alexia morreu. Uma das amiguinhas dela, Raísa Beatriz Brandão, de cinco anos, teve o mesmo destino trágico. O seu corpo foi o último a ser encontrado, no final da tarde de terça-feira, pelo avô Cezarino Brandão, um dos jogadores do Sanjoanense. Quando encontrou o corpo da neta, ele o abraçava e beijava o tempo todo. Duas semanas antes do acidente, Raísa foi eleita a garota do Colégio Estadual Alberto Torres, onde estudava. Sempre alegre, ela não perdia uma brincadeira, e nas festas públicas, era a primeira a subir no palanque e não deixava de dançar uma música, sempre ao lado da vovó Ercíria Brandão. Ela fraturou as costelas e ainda não aceita a morte da neta.

Raísa foi enterrada na quarta-feira, após rápido velório na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, onde foi batizada. No acidente também morreu o bebê Jaqueline Melet, a única que foi enterrada no Cemitério Caju, em Campos. Ela era filha de Eliana e Malvino Melet, um dos veteranos do time. Quem sobreviveu, jamais esquecerá aquele dia. Das crianças que ficaram – Everton, filho de Leca e Ângela – vai demorar muito para ter uma vida normal. Ele chora o tempo todo.

Os passageiros garantem que o acidente ocorreu por falha do motorista, Raimundo Augusto, que morreu na hora, e também culpam a Gargaú. Segundo eles, o ônibus estava sem embreagem e o motorista reclamava que estava trabalhando sem dormir há dois dias. No entanto, um dos donos da empresa, Sérgio Paes, garante que o veículo saiu da garagem em perfeitas condições mecânica e o motorista estava de folga há quatro dias. Por enquanto, as famílias não entraram na justiça para receber indenização.

 

Sena, um ídolo do futebol brasileiro

Esse time que hoje chora, tem muitas alegrias para contar. Uma delas, era a participação de Jorge Luiz Sena, 42 anos, um dos veteranos, que começou a carreira como jogador do Flamengo, em 1972, na época de craques como Zico, Júnior e Rondineli. Sena foi rejeitado pelo Vasco que o taxou de “franzino” – tem 1,72 metros e pesava 66 quilos – mas foi aceito pela equipe rubro-negra e de lá chegou ao profissional do São Cristóvão, sendo o terceiro artilheiro do Campeonato Carioca, em 1975. No mesmo ano, foi vendido para o Atlético de Madrid, da Espanha, e depois emprestado ao Rayo Valecano, ficando um ano e dois meses no futebol espanhol.

Voltou ao Brasil para se casar com Eliene Ribeiro Sena, hoje com 41 anos, mas a saudade apertou tanto que pediu para retornar de vez. Foi então para o América (RJ), Vitória (BA), Santa Cruz, Palmeiras, Bahia, Taquaratinga (SP), Leônico (BA), Flamengo (PI), Uberlândia, Taguatinga, Americano, Goytacaz e Guarapari, onde encerrou a carreira conquistando o título de campeão capixaba de 1987.

 

 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

TONINHO: O BAIANO QUE FEZ SUCESSO NO FUTEBOL CARIOCA

 


Antônio Dias dos Santos é baiano de Vera Cruz, onde nasceu em 07 de junho de 1948. Toninho Baiano iniciou sua carreira profissional no Galícia (BA), e depois veio se destacar no futebol carioca defendendo o Fluminense e o Flamengo. Posteriormente jogou no Al Nasser/Arábia Saudita e Bangu, onde encerrou a carreira em 1982, disputando 38 jogos e marcando 5 gols. Lateral-direito de muito fôlego, voluntarioso e ofensivo.  Tinha muita facilidade em chegar à linha de fundo e fazer o cruzamento com perfeição.   


A sua passagem por Fluminense – 248 jogos e 9 gols (campeão da Taça de Prata de 1970 e campeão carioca em 1971/73 e 75) e Flamengo – 241 jogos e 23 gols (tricampeão carioca em 1978/79 e 79-especial e campeão brasileiro em 1980), foi marcada com a conquista de títulos importantes que o levou a disputar a Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Na Seleção disputou 26 jogos e marcou 3 gols, sendo 18 oficiais.


Em 1976, o presidente Francisco Horta decidiu movimentar o cenário do futebol carioca anunciando grandes mudanças. Horta ofereceu ao Flamengo, além de Toninho Baiano, Roberto (goleiro) e Zé Roberto, enquanto Rodrigues Neto, Doval e o goleiro Renato desembarcaram nas Laranjeiras.


Toninho Baiano morreu novo, aos 51 anos, vítima de um derrame cerebral na capital baiana, em 08 de dezembro de 1999.  

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

ROBERTO DINAMITE – O SONHO RUBRO-NEGRO

 

                                                                                                    Fotomontagem 

Nota: transcrito na íntegra da revista FATOS & FOTOS/GENTE, de 1980, com reportagem de Eduardo Lacombe.

 

Junho de 1978. Local: Estádio Mar del Plata, no famoso balneário argentino, horas depois da partida entre Brasil e Áustria, cujo resultado – 1 a 0 pro Brasil – classificou nossa Seleção à segunda fase da Copa do Mundo. As cabines de rádio e TV estão vazias. Nas arquibancadas, apenas o pessoal da limpeza que, com uniformes trazendo a inscrição Mundial de La FIFA, recolhem os restos de papel e cigarros que o vento ajuda a espalhar.

 

No centro do campo, já bastante estragado, dois homens caminham lado a lado, tranquilamente. O mais velho é o médico da delegação, Lídio Toledo. O mais novo está chorando. Trata-se de Roberto Dinamite, que marcou o gol que classificou o time, dando um pouco mais de calma à agitada cúpula da CBD.

 

Roberto chora. Lídio Toledo entende o por quê. Minutos antes conseguira que ele fizesse o antidoping e colocasse, em um vidrinho, um pouco de urina. Foram necessárias duas garrafas de cerveja. Só naquele momento, Roberto estava se descontraindo. As lágrimas corriam calmamente, dando um pouco de alívio a um jogador que chegou a ser desprezado. Dias depois, meio tímido e entre sorrisos, ele confidenciaria:

“Naquele momento, tive vontade de correr para o telefone e dizer à Jurema: ‘Conseguimos! ’ Mas só vim a fazer isso à noite, na concentração. Foi um momento incrível! Inesquecível!”

 

No dia seguinte ao da partida contra a Áustria, o mundo inteiro comentava que Dinamite classificara o Brasil. Dois anos depois, o mesmo grito – Dinamite! – foi ouvido nas arquibancadas do já lendário estádio do Barcelona, o Nou Camp. Roberto, em sua estreia na equipe espanhola, fez dois gols e saiu de campo sob delírio de uma das mais exigentes torcidas da Europa. Entretanto, um mês depois, o mesmo jogador deixava o campo, aos 10 minutos do segundo tempo, debaixo de vaias.

 

Em casa, naquele momento, sua esposa Jurema pensava:

“Aqui, ele vai morrer. Tenho que levá-lo de volta ao Brasil.”

 

A oportunidade surgiu com a proposta feita por Márcio Braga, presidente do Flamengo, que sonhava reunir em sua equipe a dupla de ouro do futebol carioca: Zico e Roberto. No Rio, ele já afirmara: “Com Roberto, seremos campeões dez anos seguidos. E haja taça para comemorar.”

 

Dinamite, apelido que ganhou de Aparício Pires, no Jornal dos Sports, sempre foi um atacante perigoso.  Não foram poucos, entretanto, que afirmaram: “Mais perigoso que Roberto, só sua esposa, Jurema, no momento de uma renovação de concreto”. Em março do ano passado, em entrevista à Manchete Esportiva, quando o acerto entre Roberto e Vasco estava difícil, ela dizia:

“Hoje, falam de mim. Mas se esquecem que na época da Copa do Mundo, quando ele teve problemas, fui eu quem o ajudou a contorná-los. Coutinho não escondia que Roberto seria sua última opção para o ataque. Tínhamos problemas em casa e tudo isso o perturbava. Mas eu não o deixei desanimar.”

 

Um ano depois, ela justificaria à FATOS & FOTOS/GENTE o porquê de sua conduta, afirmando em alto e bom tom:

“A vida de um jogador não é mole. É preciso que ele tire o máximo em cada contrato. Sei que muitos afirmam que ele não discute nada. É mentira. Tudo é conversado entre Roberto e eu. Não faço nada com o qual ele não esteja de acordo. Luto, apenas, para que ele tenha tudo.”

 

E nesse tudo estaria, com certeza, o retorno ao Rio. Para o Flamengo, mais precisamente, já que no Vasco – para quem o Barcelona tentou devolvê-lo – não há mais ambiente para o jogador. O próprio Márcio Braga, na tentativa de comover os torcedores do Rio da necessidade de trazer Roberto, chegou a comentar:

“No Barcelona ele vai morrer. Será enterrado em caixão de ouro, é verdade. Mas vai morrer.”

 

Durante duas semanas, Roberto e Jurema viveram a expectativa de arrumar as malas e desembarcar no Rio. E nos planos de toda a diretoria do Flamengo, sua estreia estava prevista nos mínimos detalhes: Roberto não posaria com a camisa nove do time. Esse privilégio seria dos torcedores que pagassem o ingresso do jogo cuja renda já estava prevista em torno de Cr$ 20 milhões, incluídos os direitos da televisão (dizem que a Globo já os comprou).

 

Mas o que Márcio e o próprio Roberto não esperavam é que mesmo antes de assinar seu contrato, Roberto já apareceria com a camisa do Flamengo, em uma montagem, nesta página. A imagem é ótima. Faz sonhar todo mundo. O Flamengo paga o que Roberto quer. Márcio e Jurema já acertaram tudo. O Barcelona aceita receber o que o Flamengo quer pagar. Diz Márcio que os detalhes são mínimos. Então, o que falta para Roberto jogar com Zico? Segundo o técnico Cláudio Coutinho, apenas uma coisa: ele desembarcar.




Minhas considerações: Roberto desembarcou no Rio, mas seu destino não foi a Zona Sul. Fez o caminho de sempre e seguiu para a Zona Norte. Sob pressão e revolta de torcedores cruzmaltinos, que já davam como certo o acordo entre Roberto e Flamengo, os mandatários do Vasco, tendo na pessoa de Eurico Miranda, à época assessor especial do presidente Alberto Pires Ribeiro, o clube de São Januário também entrou firme na disputa para trazer o camisa 10 de volta. Eurico foi à Espanha tentar uma última cartada e fazer Dinamite e esposa mudarem de ideia. O esforço foi recompensado e o Vasco conseguiu que a quantia ainda devida pelo Barcelona na negociação fosse fator decisivo no retorno do ídolo.