Nota: postado em sua página no dia 08 de julho de
2020. Dudu faleceu no dia anterior. Mais uma narrativa maravilhosa do Sergio
(Museu da Pelada), do qual sou fã e admiro muito seu trabalho.
No carro, indo para Arraial do Cabo, parecia aquele
menino de 14 anos que não via a hora de entrar no Maracanã ou em São Januário.
Era impressionante, mas mesmo indo aos estádios semanalmente, a prazerosa
sensação não cessava. Acho que isso é o que chamam de magia. O campo gigante, o
gramado verdinho, a tal aglomeração, que hoje virou sinônimo de palavrão, os
bandeirões, as organizadas e eles, os ídolos, nossos super-heróis.
Eu sempre ficava com olhar fixo no túnel à espera da
entrada dos artistas do espetáculo. O primeiro que eu procurava era Dinamite,
meu maior ídolo no futebol, e, em seguida, buscava Dudu. Não era difícil
avistá-lo, afinal ele era grandalhão. Volta e meia eram publicadas matérias
criticando seus quilinhos a mais. E eu lá estava preocupado com isso! O cara
jogava uma barbaridade! Roubava a bola do adversário, avançava com um vigor de
touro faminto e disparava um míssil certeiro de fora da área. A torcida
delirava! "Esse gordinho joga demais!", era uma frase recorrente nas
arquibancadas. Mas Dudu não era um ídolo improvável, Dudu jogava muita bola e
em uma entrevista à Placar, que tenho guardadinha aqui comigo, Zico alertava
seus companheiros: "Preocupem-se em marcar Dudu".
Chegou a ser cotado para a Copa de 82. Mas logo saiu
do Vasco, foi para Portugal e nunca mais ouvi falar. Claro que ao longo do
tempo busquei outros ídolos na saída do túnel, mas Dudu ficou guardado em um
cantinho da memória afetiva. Jamais esquecerei o dia em que falando sobre
velhos ídolos com um motorista de táxi ele disse..." o Dudu sei que anda
muito doente e trabalha na Prefeitura de Arraial do Cabo". Foi impactante.
Dudu, doente? Aquele gigante? Impossível! Não falei nada, mas a maquininha do
tempo instalada em nosso cérebro foi rebobinando, rebobinando e voltei à
arquibancada, um menino e seu ídolo indestrutível.
Pouco tempo depois, Armando Carvalho e Marcelo Cortez,
parceiros do Museu da Pelada, nos deram o caminho das pedras para encontrarmos
um Dudu debilitado, trêmulo, mas com um humor ácido, saboroso. Que resenha! Na
companhia do próprio Marcelo e de Da Silva, campeão da Libertadores pelo Olímpia,
do Paraguai, rimos e acariciamos nossas almas com doces recordações. Não
bebemos porque seu fígado já havia pedido arrego há tempos, mas pude abraçá-lo
e agradecê-lo por aqueles momentos sublimes nos estádios. Que felicidade ter
chegado a tempo, nem sempre dá. Ontem, Dudu pendurou as chuteiras, saiu de
campo e entrou no túnel, o mesmo túnel que eu, ansioso, esperava que surgisse,
gigante, imbatível, iluminado.
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