quinta-feira, 18 de abril de 2019

A DIÁSPORA DA FAMÍLIA DE MARTINO – POR MAURÍCIO MONTEIRO (1ª PARTE)


Nota: transcrito de uma edição do jornal “O Tempo”, de maio de 2004. Por ser um texto grande, dividi o mesmo em duas partes.

San Guivan Piro, uma pequena cidade situada na Província de Palermo, na Itália, e de lá que são oriundos os de Martinos, que imigraram para o Brasil no século XIX. O primeiro deles foi o padre Francesco de Martino, que chegou a ser responsável pela Capela de Santo Antônio dos Brotos, em 1867. O outro, Bruno, continuou em Piro. Sustentava a família como pescador. Seus quatro filhos adolescentes passaram também a seguir os passos do pai no comércio de peixes, em pequena embarcação que deixava a sua esposa aflita, quando se distanciava muito da terra com os filhos menores.

Francisco, o filho mais velho de Bruno, aconselhado pela mãe, resolve deixar o povoado, vindo para o Brasil em companhia dos irmãos menores: Geraldo, Miguel e Pepito. O primeiro, com 15 anos, fica com o pároco da Capela e os outros dois se dirigem para o Uruguai. Francisco inicia a sua vida em Miracema como camareiro da Pensão Braga, uma pequena hospedagem. No resto do dia faz entregas nas casas com uma pequena carroça. Depois, comprou mais uma e outra mais. Era conhecido como “Chico Carroceiro”.

Prosperou e abriu uma pequena venda. Suas carroças traziam produtos da lavoura para o comércio no povoado. Abriu uma barbearia e com sua tesoura Solingem melhorava o visual de nossos antepassados e tosava cabelo dos índios puris. Deixa de ser conhecido como Chico Carroceiro e torna-se Chico Barbeiro. Nesta época que chega ao distrito uma senhora com a filha Brasileira Lídia Souza Lobo, menor de idade, acompanhada por duas escravas e se instala no final da Rua da Capivara, dedicando-se a criar perus.

Deodato Mendes Linhares era dono da Fazenda Cachoeira Bonita e de muitos escravos. Vinha ao povoado fazer compras e passava em frente à casa de Brasileira, que vivia com sua mãe, a senhora Lobo. Prestava atenção à moça, que ajudava a mãe no comércio de aves e ia ao centro comprar na venda de Francisco de Martino. Daí nasceu um flerte, platônico.

Brasileira acabou aceitando o convite de Deodato para morar na Fazenda Cachoeira Bonita com ele, um quase cinquentão, enquanto ela, uma menina-moça. Deodato tinha hábito de usar um lenço na cabeça, o chamado “lenço quatro pontas”, sob o chapéu.

Da união de Brasileira e Deodato nasceram quatro filhos: Olava, Homero, Antônio e Altivo, o caçula dos Linhares, que era o “barulho”. Deodato e Brasileira viam com os filhos até a Estação Ferroviária, onde embarcavam para visitar os parentes em São Fidélis e Pádua.

De Martino não conseguiu casar-se com seu flerte, Brasileira, mas deixou esses versos:

Debalde o mundo me chama
E eu para o mundo já morri
Perdi o gosto das festas
Desde o dia em que te vi.
Triste a vida de quem ama oculto
Dobrada pena padece
Passando por seu bem,
Fingindo que não conhece.

Ele, então, casou-se com Angélica da Silva Vidal. Ela morreu pouco depois do casamento. Não deixou filhos. Quase dez anos após quem falece é Deodato e seu casamento com Brasileira foi feito às pressas para que os filhos herdassem a Fazenda Cacheira Bonita.

Viúvos, Francisco de Martino e Brasileira finalmente consolidam o antigo namoro e casam-se, ela, então, com 28 anos. Tiveram quatro filhos: Orlando, Maria Itália, Bruno e Maria Emília.

continua... 

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