quinta-feira, 8 de novembro de 2018

HELENO DE FREITAS: UM GÊNIO DA BOLA, UM CRAQUE TEMPERAMENTAL



Um dos atacantes mais clássicos e brigões que o futebol brasileiro já teve, faleceu em 08 de novembro de 1959, ainda muito jovem, aos 39 anos, na Casa de Saúde São Sebastião, na cidade mineira de Barbacena, onde estava internado desde 1954 tratando de uma enfermidade mental – sífilis cerebral. Paralisia geral progressivo foi a causa de sua morte, constatada no óbito. Ele foi enterrado em São João Nepomuceno - MG, sua cidade natal. 

Atacante impetuoso e artilheiro nato, deixando-se conduzir pelo entusiasmo, eram constantes os atritos que provocava em campo, até mesmo com seus próprios colegas, porque não gostava de conhecer o sabor da derrota. Não aceitava passe errado de companheiros e cobrava-os a todo momento. Era um profissional com alma de amador e espírito de menino brigão. Anjo e demônio no futebol.

Quando começou no juvenil do Fluminense, como médio esquerdo, Heleno já mostrava seu espírito irrequieto, sendo expulso pela primeira vez. Não chegou a atuar no time principal do Tricolor, mas conquistou o Campeonato Carioca Juvenil de 1939. Em 1940 decidiu ingressar no Botafogo, e por lá ficou até 1948, marcando 206 gols em 234 jogos. Faz parte da história do Alvinegro e está na galeria dos maiores artilheiros do clube. Estreou no selecionado brasileiro em 1944, atuando em 18 partidas e marcando 11 gols, todas oficiais. O seu melhor momento na Seleção foi no Sul-Americano de 1945, no Chile. O Brasil ficou em segundo lugar, mas o futebol mostrado pelo atacante foi suficiente para despertar a atenção dos dirigentes do Boca Juniors, que mais tarde vieram buscá-lo. Em abril de 1948 vestiu pela última vez a camisa do escrete, seguindo para o exterior. Pela Seleção foi campeão da Copa Roca (1945), e da Copa Rio Branco (1947).

Saiu do Botafogo para o Boca Juniors, na maior transação do futebol brasileiro até então, onde atuou ao lado de vários nomes respeitáveis e deixou a marca de sua personalidade contraditória. Voltando ao Brasil, Heleno de Freitas ingressou no Vasco, em 1949, então sob as ordens de Flávio Costa. Seu futebol ainda era de qualidade e fez ótimas partidas, ajudando o clube na conquista do Campeonato Carioca daquele ano. Mas a sua condição de brigão não foi esquecida. Depois de várias tentativas, deixou São Januário após 24 jogos e a excelente marca de 19 gols, desgastado com o treinador, e mais uma vez seduzido por uma proposta do exterior. Jogou no Atlético de Barranquilla, da Colômbia, tornando-se um verdadeiro ídolo da torcida, como demonstra o fato de ter uma estátua em praça pública na cidade.  Ganhou muito dinheiro dos argentinos e colombianos. 

Quando foi contratado pelo Santos, em 1951, vestiu a camisa na apresentação e não fez sequer um jogo oficial. As confusões se tornaram corriqueiras e acabou sendo demitido. Ninguém mais acreditava no seu retorno ao futebol, quando recebeu e aceitou um convite para jogar no América. No clube rubro, Heleno fez uma única partida, sendo essa a primeira (e última) vez que jogou no Maracanã. O América perdeu por 3 a 1 para o São Cristóvão, Heleno não conteve o seu nervosismo, que chegou ao extremo, foi expulso mais uma vez e nunca mais apareceu no clube. Mais tarde, assim descreveu Heleno sobre esse fatídico jogo: “Eu não podia morrer sem jogar no Maracanã”.

Essa sua fama de brigão era somente dentro de campo. Invariavelmente procurava os companheiros que tinha ofendido para desculpar-se. Heleno era boêmio e frequentador assíduo dos bares e dos bordeis. Ele gastou a bola, mas também teve vida social intensa, embora não fosse de beber. Preferia as mulheres, que conquistava com seu charme e com a elegância que não abria mão de apresentar. Por conta dessa vida tão desregrada, acabou contraindo a sífilis, doença altamente contagiosa.

Em 1952, Heleno é internado pela primeira vez, em uma clínica na Tijuca. A sífilis continuou avançando e consumia a cabeça do jogador, que acabou ficando louco. Declarada a enfermidade de que era vítima, sua família providenciou seu internamento no Sanatório de Barbacena, em 1954. Lá começou a engordar e também a ingressar no time da Casa de Saúde São Sebastião. Mas não esquecera a briga e criava sucessivos casos em campo, tal como fizera muitos anos antes como atleta profissional. Aos poucos foi sendo deixado de lado. Sua mania era guardar recortes que falassem de futebol, assim como discutir táticas e técnica do esporte que sempre o empolgou.

O craque era formado em Direito e falava inglês e espanhol fluentemente. Heleno tinha pinta de ator e ganhou o apelido de “Gilda”, personagem bela e explosiva interpretada pela atriz Rita Hayworth. Vestia-se com ternos sempre bem cortados. O ex-jogador deixou um filho de dez anos.  

Em 12 de fevereiro de 2012, foi homenageado em sua cidade natal, São João Nepomuceno, que fica na Zona da Mata mineira, com uma estátua de bronze de 2,30m na praça Barão do Rio Branco, no centro. Homenagem essa efetuada pela prefeitura municipal, quando seu filho ilustre completaria 92 anos.

Heleno nasceu bem de vida e terminou precariamente em um sanatório, completamente louco. A sua trajetória no futebol foi marcada por lances geniais, mas seu temperamento incontrolável prejudicou e muito a sua carreira.

Resumindo: Heleno de Freitas faz parte do seleto grupo dos maiores atacantes do futebol brasileiro de todos os tempos.


2 comentários:

  1. Só para enteder o filho de Heleno é vivo?Obr.

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    1. O "filho ilustre que completaria 92 anos", mencionado no texto, é o próprio Heleno. Filho ilustre de São João Nepomuceno. Foi essa sua dúvida?

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