Foto acervo Sergio Pugliese
Nota: Sergio Pugliese é
jornalista e fundador do Museu da Pelada, que retrata a memória do futebol.
Essa crônica maravilhosa foi escrita em janeiro de 2021.
O velho Maracanã era
abarrotado de personagens, era como se você mergulhasse em um livro de contos
e fábulas. Havia o torcedor que cobria o corpo inteiro com pó de arroz, Dona
Dulce Rosalina, que comandava a galera vascaína, o sósia do Obama, o carinha
que vivia rezando com um galho de arruda acomodado na orelha, o alvinegro
Russão, o Mr. M, o árbitro Armando Marques cheio de caras e bocas, o
comentarista Mário Vianna gritando “errooooou!!!”, o locutor da Suderj
anunciando as escalações, o velhinho das embaixadas, enfim, o Maracanã era
uma espécie de ilha da fantasia, um mundo encantado que amenizava nossas dores
e coloria nossas emoções. Mike Tyson, o maqueiro fortão, era mais uma dessas
tantas figuras que ilustravam nossas tardes/noites e guardamos na memória até
hoje.
O cara era um guarda-roupas
e virou atração turística porque passou 20 anos entrando e saindo de campo
carregando gênios, como Zico e Maradona, e grandalhões, como Júnior Baiano e
Manguito. Quando sentia que a contusão era mais grave, nem esperava por
Geraldo, seu grande parceiro de trabalho, entrava correndo em campo, colocava o
atleta no ombro e voltava correndo com ele. A galera endoidava! Certa vez,
tropeçou, caiu e a Geral pegou no seu pé... ”negão, tá na hora de se
aposentar!”.
Quando o locutor Januário
de Oliveira anunciava “tá lá um corpo estendido no chão, vem aí o primeiro
carreto da noite”, ele entrava em ação, era seu estrelato. Vascaíno, o
primeiro jogador a carregar foi Zico. Ficaram muito amigos. Malhava como um
louco e nas horas vagas atuava como segurança de boates, clubes e para a
família do Galinho de Quintino. Nos finais de semana de folga, para
condicionar-se fisicamente, corria de Brás de Pina, subúrbio carioca, até a
Praia de Copacabana. Na chegada triunfal, o filho acenava, orgulhoso, da areia.
Durante o trajeto, muita gente o reconhecia e pedia autógrafos. O “negão da
maca” fez história no Maraca, foi um de seus reis, como Romário, Túlio,
Renato Gaúcho e Papai Joel. Claro, que tanto peso lhe rendeu problemas graves
na coluna, mas o glaucoma, que o deixou cego, é o que mais o aflige.
Aos 80 anos, está frágil
e saudoso da grama verde, de sua padiola e do respeitável público daquele
circo chamado Maracanã. Em nossa despedida, tentou levantar-se do sofá, mas
não conseguiu nem com o apoio de uma velha bengala. Segurei firme em seu pulso
e ofereci apoio ao maior reboquista da história do Maracanã. “Quem diria,
hein”, comentou. Quem diria. Rimos e caminhamos lentamente até a porta
amparados por um abraço e por doces lembranças.
Parabéns Nobre Amigo Pela Excelente Reportagem, com esta Figura Humana maravilhosa que trabalhou em Tardes e Noites Inesquecíveis no nosso Palco Maior do Futebol, o Grandioso Maracanã. Saúde e Vida Longa ao grande maqueiro Sansao.
ResponderExcluirGrande conteúdo , vejo sempre matérias relacionadas ao futebol brasileiro
ResponderExcluirAdoro essas histórias de vida . Mais para ficar boa alguns jogadores q hoje tem uma vida se regalias poderia ajudar esse super homem não custa nada uma favor a ele...
ResponderExcluirVi muitos jogos era figura emblemática,grande Sansão!
ResponderExcluirBons tempos esses com certeza, hoje isso tudo não passa de boas recordações, e você está de parabéns por essa sua linda postagem!! essa sua
ResponderExcluirPARABÉNS, NÃO PODEMOS ESQUECER DAS PESSOAS QUE NOS FAZEM BEM !!!
ResponderExcluirSaudade desse "GUINCHO" blusa rosa,na gozação nos dias de hoje o chamariam de OUTUBRO rosa.kkkkkkkkkkk.
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