segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

TEATRO E CINEMA - POR JOSÉ ERASMO TOSTES



Anos atrás assistimos uma peça no Clube XV (Mara Carvalho – Comédia). Com apenas dois artistas chamados Wilson Wagner e Lúcia Paloma; com apoio da Prefeitura, que recolheu alimentos não perecíveis para serem distribuídos à pobreza.

Iniciativas como essa deveriam acontecer sempre, já que somos privados desses espetáculos, que são uma maneira de divulgação da nossa cultura. Ficamos sabedores de que a Lei de Responsabilidade Fiscal não permite que se faça gastos com esta modalidade de espetáculo.

Em tempos idos, Miracema contava com diversos artistas amadores, que promoviam no Cinema XV peças teatrais, para onde levavam um grande público para assistir. Para quem não conheceu o Cinema XV, ficava onde é hoje o Supermercado Honno. Na parte de cima era onde a Banda ensaiava e, na parte de baixo, funcionava o cinema, que tinha um grande público. Tinha também como porteiro o Benjamim ou o Tião Baiano, e na bilheteria a Wanda Faria. Haviam artistas amadores, como Manoel Rabello e seus filhos Odyr e Olga, além de Aziz Richa, um grande cômico, Gicelda Coelho de Oliveira, Lúcia Gualter, Lubélia Tostes, Wandete Pereira, Ary Leite, que mais tarde trabalhou na Globo. No ponto ficava a Doralice Faria, filha do maestro Ernestino. Vários estudantes do Colégio Miracemense ali também se apresentavam, como Teteu Linhares, que sapateava e cantava em inglês, Hélio Sodré que gostava de cantar A Mulher que ficou na taça, e muitos outros.

Foi produzido em Miracema um filme, em maio de 1977, com muita dificuldade, pelo nosso amigo de infância Wander Vieira. Wander era músico, tocava pistão. Seu apelido era Boia. Boia era um padre no filme, sua irmã fazia o papel de mocinha. Joel Azevedo era um vilão. Alemão, motorista da Rio Ita, era o carabineiro atirador. Murilo Freitas era o fazendeiro. Toninho Calor, Bate-Bute, um policial.

Outros atores faziam parte do elenco: Paulo Ribeiro, Francisco Amaral, Oscar Cristiam, Wanderlei, de Bom Jesus, e de Pádua Francisco Antônio, Nilda Quintal e Magda Brum. Na época foram distribuídos diplomas pelo primeiro filme feito por amadores.

O filme tinha o nome de Carabineiros do Vale. Apresentava cenas com a Fábrica de Tecidos São Martino ainda em funcionamento, da Cooperativa de Leite, Fazenda do Conde e Hotel Assis. A maioria das cenas foram gravadas na zona rural. Numa delas, em que o Joel leva um tiro, ela cai, fingindo-se de morto, mas antes de mudar a cena ele levanta, pega o chapéu e sai andando. Em outra o Alemão tinha que bater no delegado, e exagerou, batendo com muita força. E mais outra, o Boia, que fazia o papel de padre, ao pegar carona com uma professora, a pessoa que estava ao lado disse: esse padre é um vigarista.

Passados muitos anos, Boia tentou recuperar o filme, mas várias partes estavam com defeito, sem conservação e também não achou quem lhe desse apoio.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

UM PASSEIO EM VOLTA DA PRAÇA - POR JOSÉ ERASMO TOSTES



Levanto cedo e vou dar um passeio em volta da praça Dona Ermelinda. Praça essa que foi reformada em 1931 e, mais tarde, sofreu outra reforma, em 1966.  

Vem à minha memória o meu tempo de criança, onde eu e meus colegas ali jogávamos bola de gude e futebol no rinque. Corríamos à noite brincando de pique. E nesse retorno ao passado começo andando pela Agência Ford do Waldemar Torres, tendo à frente de sua agência, Romero Braga, Cleber Padilha, Juca Torres e o Jacy, mecânico. Mais à frente, a residência e a farmácia do Azarias e depois a casa da Aída Perlingeiro, uma mulher alta, sempre de sandálias, distraída como sempre. Logo após, a casa do Antenor Rego, saindo com sua bicicleta velha para atender pessoas necessitadas que precisassem de remédio ou tomar injeção. Mais ao lado, Dona Afife, com sua casa de rendas e aviamentos. A coletoria do Edgar Moreira, sempre falando sobre política e Miracema. Demerval Moreira, com seu consultório dentário que mais tarde seria do seu filho Luiz Paulo, juntamente com o consultório médico do Dr. Saulo. Heitor Bruno, fazendeiro, saindo com seu caminhãozinho Ford 29, apelidado de caixa de fósforos. Geremias Freitas, também fazendeiro, tendo como vizinho Sr. Dolores, chefe do Departamento Nacional de Café. Sua casa foi demolida para dar lugar à criação da rua que vai em direção ao correio. Ali havia uma pinguela onde Joffre Salim pescava lambari. Mais à frente, o casarão onde morou o médico Aristides do Amaral, depois o professor Manoel Soutinho da Cruz. Ao lado, Dona Paulina Sodré. Em frente à sua residência havia um pé de sapoti onde a molecada fazia a festa. Depois o solar da Dona Brasileira, que mais tarde seria de seu filho Bruno de Martino, o separatista e poeta miracemense.

Volto e começo a andar, outra vez, em direção à esquina da Casa Cacheado de Tecidos. Mais à frente, o sobrado do Ventura Lopes, denominado Vila Ana. Na parte de baixo moravam diversas famílias. Mais à frente, a professora Wanda Perbelis, com parede e meia com o funcionário do DNC Adelino Souza, que todas as manhãs praticava, com seus filhos, ginástica pelo rádio, dirigida pelo professor Osvaldo Diniz Magalhães. Um pouco à frente, Álvaro Gonçalves, que fabricava urnas artesanalmente. Na esquina, Oscar Barros. Do outro lado da rua a cadeia pública, com o carcereiro Zé Ranheta e o soldado Atleta. Ao lado, uma casa assombrada onde morava a família Magacho, depois ocupada pela família do Sr. Said Mansur, tendo como vizinho João Cláudio. E, ao lado, Zinho Saco Frio, motorista. Em seguida, a Casa do Operário, Dona Ruth Passos e o italiano Paulante. Mais à frente, a padaria do Zé Povo, pai do Dudute e da Florinha. A última casa da Praça foi a do Pedro Soares, onde havia uma oficina de motores elétricos e mais tarde, após a venda, foi ocupada, nos fundos, pela Fábrica de Malas Leader, que tinha como proprietários Ely Coimbra, Amim e Newton Gouvêa. Atualmente, tem como moradores Magaly Siqueira e ao lado a residência do Sr. Joel Alvim e família. Nos fundos, a família de Manoel Reynaldo.

Hoje, olho a praça novamente. Vejo que pouca coisa mudou. As árvores são as mesmas. Mesmas são as palmeiras Imperiais. Diminuíram os pés de jambo. Fizeram uma fonte luminosa e um viveiro. Calçaram os passeios. Trocaram os bancos de madeira por cimento. Colocaram grade no Jardim de Infância e tiraram a cobertura do rinque.

Os moradores são outros. Subo as escadarias em direção à minha residência levando nos ombros uma mala cheia de recordações. Numa das mãos, um pote de saudade, na outra um baú de esperanças. Recordações do tempo da mocidade. Saudade dos moradores antigos da praça que já se foram. Esperança de uma Miracema cada vez mais progressista.