quinta-feira, 22 de agosto de 2019

A VISITA DE JUSCELINO KUBITSCHEK A MIRACEMA – POR MAURÍCIO MONTEIRO



Sete anos e seis meses após a inauguração de Brasília, a cidade mais revolucionária do planeta, uma façanha sem precedente na história da humanidade, três anos e dois meses depois de ter perdido o seu mandato de Senador por Goiás, cassado seus direitos políticos e proibido de editar o seu livro de memórias e de visitar Brasília. Depois de passar dois anos e seis meses no exílio na Europa e na América do Norte, quando decide retornar ao país para responder a vários processos sobre seu período de governo. Depois de visitar sua terra natal, Diamantina, veio a Miracema para dançar num baile beneficente.

O Aeroclube de Miracema estava há vários anos interditado, e os bailes eram realizados no G. E. Dr. Ferreira da Luz, que não poderia ser cedido em virtude de JK estar com seus direitos políticos cassados por dez anos, o jeito então foi improvisar uma cobertura no Clube XV de Novembro.

A notícia da vinda do ex-presidente a Miracema era vista com total descrédito em virtude de não manter relações políticas ou pessoais com o político mineiro, mais do que isso, estava exilado na França, por mais de dois anos e, ao regressar, estava respondendo a vários inquéritos – os I.P.M.S.

Mas, ao anoitecer daquele sábado de 25 de novembro de 1967, em face de um desmentido formal de sua vinda e a saída do prefeito José de Carvalho rumo a Cantagalo era um sinal positivo de que viria e a cidade ficou sem nenhuma autoridade, a debanda foi geral. Outros preferiram se recolher em suas casas e não participariam da recepção.

O momento que dominou todo o dia resultou numa noite ameaçadora de muita chuva. À noite, em companhia de alguns amigos resolvi fazer uma visita a Pádua com um carro de propaganda. A viagem já foi em noite negra, fechada, com muitos relâmpagos e trovoadas. Fiz uma pequena parada no bar Tio Patinhas para um cafezinho enquanto o carro dava uma volta pela cidade anunciando a vinda do ex-presidente.  

Não demorou muito, fui informado de que o mesmo estava detido na Delegacia de Polícia e fui chamado para dar maiores explicações. Aí começou o aguaceiro, forte, torrencial. Meia hora depois o carro foi liberado e começamos a viagem de volta, devagar, vez por outra, tínhamos que parar porque o limpador de para-brisa não dava vasão.

Chegando a Miracema, rumamos para a sede do XV de Novembro, descemos e o carro subiu na calçada para melhor iluminar a quadra e o que restava do Barracão – não resistira à chuva e desabara – um monte de lonas e bambus gigantes amontoados na praça de esportes. Fiquei desolado. E a chuva intermitente por toda à noite até o amanhecer.

Só mais tarde é que fui informado que na mesma noite de sábado, depois que a TV informava a sua vinda a Miracema para dançar, uma tensa reunião no apartamento de JK se realizava para traçar os preparativos finais com os seus amigos, que viriam em sua companhia, quando entra em seu apartamento o ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda, com seu vozeirão, querendo um lugar em seu avião. Depois de muita discussão, finalmente foi aconselhado por JK, com receios fundados de sua fala que poderia gerar constrangimentos.

Pela manhã, bem cedo, procurei o presidente do Aero Club que, ponderou-me, descrente de sua vinda, o que seria uma temeridade realizar o baile pelo estado de abandono que se encontrava o Club. Mesmo assim, depois de uma visita, resolvi prepara-lo para uma eventualidade, já que a chuva tinha cessado.

Foi um tal de procurar eletricista, pedir enceradeiras emprestadas, cera, caminhão para buscar mesas e cadeiras, toalhas para cobris mesas, comandadas por um grupo de senhoras da Casa da Amizade através de Dona Mariza Mercante que, solicitou-me a renda do Baile para a Casa dos Pobres. Acreditava no evento e elevou o preço do ingresso.

Por volta de duas horas da tarde, finalmente foi dado com encerrado o trabalho de encerrar a pista e a colocação das mesas. Retorno e já encontro um grupo de desconhecidos em minha casa, aqueles que vieram de automóvel para dar apoio e mantinham uma conversa animada. Uma hora depois, começo a receber uma série de telefonemas, uns pedindo a confirmação ou não da vinda, até que recebo uma ligação do Rio, possivelmente de sua casa, sabendo se poderia iniciar a vinda. Volta a chover torrencialmente, e a conversa só girava em tornos de políticos, cassações, etc., e muito café para aliviar as tensões pelo tempo que continuava implacável.

Meu pai, muito nervoso, começou a se sentir mal, manifestou o desejo de telefonar para a casa do ex-presidente e ponderar que a visita deveria ser adiada, temia um desastre aéreo: o dia estava escuro, com nuvens muito baixas e seria um pouso de alto risco. “Ninguém o demoverá de vir a Miracema”, foi a advertência do chefe de sua segurança. A esta altura, já devia estar a caminho do aeroporto Santos Dumont para conseguir autorização para levantar voo. Uma última rodada de cafezinho foi servida e começou a movimentação rumo ao Campo de Aviação e o pequeno trecho a ser vencido estava difícil: muita lama, carros enguiçados, outros fora da pista, e o cortejo avançava até o hangar onde já havia muita gente. Fui um dos últimos a chegar e o burburinho era grande dentro do hangar, conversa vai, conversa vem, o tempo ia passando até que se ouviu um barulho surdo do avião que logo desapareceu, teria errado o alvo e seguiu direto para Itaperuna, depois voltou para Muriaé.

O Suísso, Nilson Moreira e outros pilotos discutiam sobre a rota: achavam que estavam à procura do Rio Pomba, em sua cabeceira, para chegar até Pádua e, finalmente, a Miracema. O tempo passava e o pessoal começava a desanimar, iniciando então a descida, já que era quase impossível descer numa pista molhada e com nuvens muito baixas e toda rodeada por montanhas. Muitos carros já estavam na estrada quando o barulho do bimotor se torna mais latente, voando em círculos, a procura de uma brecha para o mergulho final que, não acontecia. Mais era mais consistente o ruído do motor, sinal que estava sobrevoando a cidade.


A manobra arriscada é finalmente executada, eis que surge na cabeceira da pista, fazendo um pequeno giro, para tomada de posição final com a aterrissagem, que foi feito com extrema facilidade, fazendo um pouso tranquilo com a metade da pista. O Cesna, de seis lugares, tinha um motor na cauda que fazia a reversão, era apropriado para pequenas pistas. JK foi sacado do avião e seguidamente ovacionado dentro do hangar, ficando visivelmente emocionado.

JK passa na Casa dos Pobres para uma visita e a seguir se dirige para casa de Adumont Monteiro onde recebe abraços e palavras de conforto por mais de três horas. Às sete horas se dirige para fazenda da Cachoeira para um jantar e ao seu final discursa afirmando: “Devolvendo ao meu coração sofrido, não a esperança, mas a certeza dos meus acertos à frente da presidência da República.

O baile que foi aberto com uma valsa com a Miss Estado do Rio, Maria das Graças Khoury, foi um fracasso com pouca gente e em virtude dos geradores da Rua Matoso Maia não serem ligados, a cidade escureceu. As três horas JK se retirou depois de dançar com todas as moças e senhoras e ficamos a conversar até o dia amanhecer.

OBS: TRANSCRITO DO JORNAL DOIS ESTADOS, EDIÇÃO 03 DE MAIO/2002. AS FOTOS SÃO DO ARQUIVO PESSOAL DO DR. MAURICIO MONTEIRO.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES:

Essa visita de Juscelino Kubitschek de Oliveira a Miracema, só foi possível porque Mauricio Monteiro, em término do curso de Direito na Universidade Federal Fluminense, com um grupo de estudantes que, ao invés de participarem das festas de fim de ano, decidiram gastar o dinheiro indo a Paris. Lá, sabendo que Juscelino estava na Capital das Luzes, após a cassação em 8 de julho de 1964, que lhe tirou os direitos políticos por 10 anos, o grupo decidiu fazer-lhe uma visita. Muito cortês Juscelino recebeu o grupo, mas com arguiu (perguntas) sobre o Brasil. Só Maurício fez um relato, inclusive dos acontecimentos políticos, e o ex-presidente disse-lhe que, ao retornar ao Brasil, faria uma visita a Miracema, "para tomar um café". Quando ele retornou do exílio, Maurício foi ao Rio, conversar. E, no trajeto de sua casa em Ipanema até uma clínica em Botafogo, o advogado e o ex-presidente tiveram uma conversa agradável, na qual ele convidou para dançar num baile na cidade.

Maurício Monteiro pediu ao presidente do Rotary local, advogado Roberto Ventura, que formulasse, em nome da entidade, um convite ao ex-presidente. "Peguei o convite e, com Maria das Graças Kouri, Miss Estado do Rio fomos convidar Juscelino”. E ele aceitou. Então, o Rotary assumiu a organização da visita, tendo Maurício sendo alvo até de ironias porque ninguém acreditava que a convite seu um homem daquela projeção visitasse Miracema. Todavia, temendo represálias por parte da ditadura militar e, demonstrando muito medo, o prefeito José Carvalho, os vereadores, o presidente da Câmara, Inácio Pires da Silveira, promotor, juiz e outras autoridades sumiram da cidade. Ao mesmo tempo os geradores que reforçavam a iluminação da cidade foram desligados.

A presença do ex-presidente em Miracema foi vigiada por policiais do SMI e do DPPS, que juntamente com as chuvas tiraram muito do brilhantismo das solenidades e das manifestações populares, sem, no entanto, se constituírem empecilho para a explosão de alegria que dominou os milhares de cidadãos que ali compareceram para homenagear o ilustre visitante.

No intervalo do baile o Deputado Nicanor Campanário, única autoridade do município que não se afastou da cidade, fez um discurso no qual agradeceu o Sr. Kubitschek a honra que concedia a Miracema lembrando que em outras circunstancias já haviam estados juntos e que aquela região e o Brasil eram agradecidos ao ex-presidente. A primeira quando autorizou a encampação da Companhia Força e Luz Norte Fluminense, beneficiando Miracema, a segunda pela desapropriação da Cachoeira do Inferno, um benefício ao estado e a terceira, quando concedeu a anistia aos revoltosos de Aragarças, após ter sofrido uma série de restrições em decorrência do Estado de Sitio em que o país se achava mergulhado, culminando seu Governo com a passagem da Faixa Presidencial, dando à democracia o mais exato sentido, que uma Nação sempre esperou dos homens públicos. O primeiro secretário da Assembleia Legislativa ressaltou que esta última atitude do ex-presidente foi um exemplo à Nação Brasileira. Os deputados José Kezen e Álvaro de Almeida também se encontravam na recepção ao ex-presidente.

Em 1988, Márcia Kubitschek – filha de JK – esteve em Miracema recebendo um título de cidadania Miracemense, em nome de seu pai, ocasião em que ficou na casa de Mauricio Monteiro. Em 1995, Mauricio vai a Brasília e visita o Memorial JK, tendo conversado com a Sra. Sarah Kubitschek e relembrado alguns fatos, que a emocionaram. 

OBS: COM INFORMAÇÃO DE JOÃO BAPTISTA FONSECA, PUBLICADO EM ECOS DO PASSADO Nº 46.  



domingo, 18 de agosto de 2019

JOSÉ MARIA DE AQUINO: UM MIRACEMENSE DE VERDADE


Nota: transcrito do jornal Dois Estados, de 27 de abril de 2006, com matéria assinada por Adilson Dutra.

Miracema é um berço do jornalismo brasileiro? Quem fala sobre este e outros assuntos é um dos mais brilhantes repórteres brasileiros, jornalista por opção, segundo ele a carreira de advogado tinha preferência, e cuja trajetória é conhecida no país inteiro. José Maria de Aquino, nascido na “Santa Terrinha”, como ele gosta de chamar a sua terra natal, está em São Paulo há exatos cinquenta e seis anos. Saiu daqui já rapaz e parou em terras paulistanas porque seu pai achou Paraná longe demais. “Meu pai queria que fôssemos para mais longe ainda, o Paraná, terra jovem 50 anos atrás e pronta para ser desbravada.  Paramos aqui. Eu sentia saudade, mas era longe demais para ir a todo instante. Na época nem ônibus direto havia".

COMEÇO DE TUDO

“Saí em janeiro de 50. Não pensava em ser jornalista. Nunca pensei, até dezembro de 1965. Eu pensava ser advogado criminalista ou promotor público. Fiz direito, trabalhei na promotoria, mas me decepcionei, porém essa é outra história”. Falando sobre a tradição da terra em ter grandes jornalistas, José Maria de Aquino cita alguns companheiros de imprensa, que segundo ele deixaram o umbigo na terra e eram sempre presentes. “Sempre me lembro de que muitos grandes jornalistas – o que não é meu caso – deixaram o umbigo aí. Lembro-me do José Maria Miguel fundando um centro, que batizou Cazuza (nada com o cantor/compositor). E a paixão do Ory por falar no serviço de alto falante com programa esportivo às 18h".

LAURO E POLACA

Sobre a bola, sua outra paixão, José Maria guarda com muito carinho algumas lembranças do Miracema FC, mas dois jogadores em especial, Jair Polaca e Lauro Carvalho, estão sempre em suas crônicas ou comentários. “O Lauro jogava muito. Vi, e vejo cada vez menos, profissionais regiamente pagos com bola igual à dele. Não gostava de correr, é verdade, ou não sentia necessidade, tal a diferença. Polaca não era craque, pelo menos não no meu tempo (ele já era veterano), mas tinha um ideal, manter vivo o futebol de Miracema, e isso me agradava. Pena que não souberam dar a ele o valor que tinha – pelo futebol e, depois, pelo carnaval".

PRÊMIO ESSO

Recebendo o Prêmio Esso
O Prêmio Esso de Jornalismo é um programa institucional da Esso Brasileira de Petróleo criado em 1955 e vem desde então promovendo o reconhecimento do mérito dos profissionais de imprensa através da indicação e escolha dos melhores trabalhos publicados nos jornais e revistas, segundo o julgamento de comissões independentes formadas exclusivamente por jornalistas e especialistas da área de Comunicação. Um desses premiados foi ele, José Maria de Aquino, em 1969, com o trabalho “O jogador é um escravo”, publicado no jornal Estado de São Paulo. O outro, ganho em 1966, foi com a equipe do Jornal da Tarde que cobriu, com um toque acima dos demais, o casamento do Rei Pelé. Ele fala sobre os prêmios. “Os dois prêmios ajudaram bastante. Antes eu já havia ganhado outros dois da Aceesp – Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo. Mas o jornal, revolucionário na época, ajudava bastante. A questão, e não problema, é que sempre fui retraído...”


MOMENTOS MÁGICOS E ETERNOS

Foram muitos, a começar pela Copa do México em 1970, quando cobriu pela Revista Placar. Os Jogos Olímpicos de Montreal, no Canadá em 76, também é indescritível segundo José Maria de Aquino. Moscou em 80, foi especial. “O assédio aos brasileiros era incrível, tínhamos sempre que ter em mãos algo sobre Pelé, e felizmente levei algumas revistas e pôsteres do Rei e pude abrir algumas portas”. Olimpíadas de Los Angeles, em 84, um grande evento promovido pelo mega país americano, foi outro grande momento vivido pelo jornalista miracemense.
“Mas gostoso mesmo, diz José Maria, é ser cercado em uma cachaçaria em São Paulo, por quase duas dúzias de jovens estudantes, todos sóbrios e ávidos por um autógrafo e um bate papo sobre futebol e a vida. Bom mesmo é saber que mesmo depois de deixar o Sportv, oito meses atrás, os jovens não se esqueceram de mim”, completa.

AMIGOS E COMPANHEIROS

Junto aos netos e de sua tia Antônia Aquino Lomba
“Amigos são poucos, infelizmente. Sou exigente para considerar alguém amigo. A menor mancada e, pronto... O Jobinha é do peito. Adilson Dutra, embora bem mais moço, que só fui conhecer anos depois – 1979 –, embora desconfiado no início está na pequena relação. Aqui mais perto? O Deco, o povo de Miracema não conhece. O Seco, meu cunhado. O Pedro Rocha – uruguaio e ex-craque do São Paulo – que é mais que um jogador. Na selva de pedras tem lugar para companheiros, mas não para muitos amigos. E, como já vim criado, com os “defeitos” de interiorano, não consegui fazer muitos, mas por aí deixei alguns. O Foguete, que me inventou no Miracemense Ausente. O Joãozinho Moreno, gente fina, o Ory, que não vejo há tempos. O zangado do Chapadão. Um especial: o Jofre Salim. Jofre foi, e ainda é, um tremendo incentivador. Acho que como ele, só meus filhos. E olhe que ele é bem mais velho que eu.”


COPA DA ESPANHA DE 1982

Miracema abriu o coração para homenagear seu filho famoso. As ruas da cidade, principalmente aquelas em que os parentes mais chegados residiam, estenderam faixas de aplausos a José Maria de Aquino e a Globo, por ter levado um miracemense para comentar os jogos da Copa do Mundo. José Maria, na sua simplicidade, fala sobre o assunto: “Só soube da faixa depois da Copa, quando recebi umas fotografias. Emocionei-me. Acho que chorei um pouco".

AMOR POR MIRACEMA...

“Gosto de Miracema. Vivemos, eu e meu irmão, lembrando os casos da nossa época, contando para as pessoas daqui, que não acreditam em muitos. Não passa uma semana sem que contemos os casos da Batuquinha, da Nestorina, do Zé Colado. E eu, estou sempre forçando um jeito de falar da terrinha. Meus filhos (Paulo e Cecília) conhecem as histórias e a filha as repete tão bem quanto eu. Nunca me afastei. Apenas vim para muito longe. Como não tinha deixado namorada... Por isso lembro-me, que terminei meu agradecimento pelo título de Miracemense Ausente (fui apanhado de surpresa, não sabia que havia uma solenidade), disse que era ausente de corpo, porque de espírito estava sempre brincando nos jambeiros do jardim.”

OS CRAQUES

“Além do Lauro? Achei que o Zé Souto faria carreira – era bom goleiro – mas fez bem em seguir primeiro os estudos. O Vadeco era bolão. Talvez se tivesse sido levado... Estou falando de gente que jogaria em time principal e de primeira linha – não hoje, mas naquele tempo. Vadeco era um Dequinha, aquele médio volante do Flamengo." 









sexta-feira, 16 de agosto de 2019

ZICO E ROBERTO: ÍDOLOS QUE SE RESPEITAVAM


Ainda como revelações formadas, respectivamente, na Gávea e em São Januário, Arthur Antunes Coimbra e Carlos Roberto de Oliveira se enfrentaram pela primeira vez como profissionais em 7 de maio de 1972, quando Flamengo e Vasco empataram em 2 a 2 em jogo do Carioca. O equilíbrio marcou a disputa particular. Tantos nos resultados como no comportamento dos atletas. Apesar da rivalidade entre os clubes, os dois ídolos sempre se respeitaram dentro e fora de campo. 

Em 41 partidas com Zico vestindo a camisa rubro-negra de um lado e com Roberto a Cruz de Malta no peito do outro, cada um saiu vitorioso em 12 oportunidades. E ocorreram 17 empates. Roberto fez mais gols que o maior artilheiro da história do Maracanã. Dinamite balançou a rede rubro-negra 21 vezes. O 10 da Gávea marcou 14 gols no Vasco. 

Mas no confronto geral com o maior rival de seus clubes, Zico teve mais motivos para comemorar do que Roberto. Em 54 partidas contra o Vasco, o rubro-negro registrou 20 vitórias, 19 empates e 15 derrotas, marcando 19 gols. Roberto, em 67 clássicos, ganhou 19, perdeu 22 e empatou 26, assinalando um total de 26 gols.

Na seleção, os dois tiveram a alegria de estar do mesmo lado. Como parceiros no time titular, o Brasil ganhou o Torneio Bicentenário dos Estados Unidos em 1976. Também estiveram juntos nas Copas de 78 e 82.


Acervo particular 
Cada um em sua função, eles fizeram por merecer todo o prestígio que conquistaram dentro de campo. Zico foi um jogador mais completo, mais versátil, e teve o privilégio de fazer parte de uma geração de ouro no Flamengo que ganhou todos os títulos possíveis, entre os anos de 1978 e 1983. Em 1993, Zico vestiu a camisa do Vasco no jogo de despedida do amigo Roberto, em um amistoso contra o La Coruña, da Espanha, onde jogava o Bebeto.

Roberto foi um artilheiro nato e o que ele fez dentro de campo, marcando centenas de gols e conquistando diversos títulos, sendo o maior artilheiro e ídolo da história do Vasco, não pode ser esquecido em razão de sua passagem como presidente do clube que o revelou. É nosso dever ter consciência para separar os fatos e julgá-los de uma maneira imparcial.