sexta-feira, 29 de setembro de 2023

ADEUS A ACHILLES CHIROL, QUE UNIU A EMOÇÃO À ÉTICA NO FUTEBOL - POR PEDRO CUNHA

 

                                                       Achilles Chirol, Sergio Du Bocage e Januário de Oliveira (anos 1980)

                                              

Nota: transcrito na íntegra da Tributa da Internet, publicado em 1º de outubro de 2011. Foto que ilustra a matéria acervo Sergio Du Bocage.

 

Na manhã de quinta-feira, ao lado de sua mulher Edith, depois de dormir alegre com a vitória da Seleção Brasileira, o jornalista Achilles Chirol, que foi editor de esportes no Correio da Manhã, colunista de O Dia, integrou a mesa de debates da TV-E, deixou de viver. Tenho certeza que voou para o céu. Um dos últimos sobreviventes de uma geração que está desaparecendo com o passar do tempo, ao longo de sua vida profissional uniu a emoção à ética no futebol. No futebol só não. Tanto na magia das histórias de bola quanto nas demais modalidades do enfrentamento eterno que nasceu com a essência humana, desde que o mundo é mundo – como se dizia.


Pertencemos praticamente à mesma aventura, ele no futebol, eu na política, ambos na redação do Correio da Manhã, na passagem da década de 50 para a de 60. Era firme, sereno e brilhante, qualidades que aliava a uma honestidade absoluta, sem alarde, mas concreta. O apoio que ele destinou à candidatura de João Havelange para presidir a antiga CBD, hoje CBF, foi fundamental em 1957.


Estamos falando do Correio da Manhã, jornal de maior peso de uma época que se foi, principalmente no campo da opinião. Na redação, vale acentuar, trabalhavam três grandes editorialistas da imprensa brasileira: Otto Maria Carpeaux, Franklin de Oliveira e Álvaro Lins, que no início dos anos dourados foi Chefe da Casa Civil do presidente Juscelino.


Achilles, nos artigos que assinava, captou o estilo condoreiro dos editoriais. Quando recebi a notícia de sua morte, um deles me veio à lembrança: “Sem Pelé”, um título curto, forte, mas de sentido amplo inexcedível. Tínhamos sido campeões do mundo em 58, com Havelange na Confederação. Da Suécia, partíamos em busca do bi no Chile. Mas na primeira partida, contra a Tchecoslováquia, o rei chuta mal uma bola e distende o músculo. A torcida brasileira, e o próprio país, contavam com o gênio. Quando veio a notícia confirmando que estava fora da Copa, surgiram a decepção, a ansiedade, a dúvida. Foi então que de Santiago, onde se encontrava chefiando a cobertura, ele escreveu: “Sem Pelé”.


E disse no texto: Se a seleção para vencer dependesse de um só homem, por mais genial que ele seja, não seria o futebol brasileiro. Vamos em frente, vamos à luta, confiemos em Amarildo, o substituto.


Vencemos com o “Possesso”, como Nelson Rodrigues o chamava, conquistamos a Copa. O eco do artigo de Achilles continua no futebol e fora dele. É um hino ao esporte, um hino à própria vida, que é também luta. No “Ser e o Nada”, sua maior obra, Sartre afirma que às vezes a falsa coragem aguarda as falsas ocasiões. A verdadeira coragem é, ao longo da existência, enfrentar os pequenos inimigos do dia a dia. As seleções das equipes esportivas, incluídas nestas os atores dos confrontos individuais, estão cheias de insubstituíveis que foram substituídos e os substitutos deram certo. A expressão “Sem Pelé” é uma centelha na consciência humana. Assim não fosse, não seríamos tetra e pentacampeões do mundo. Os ídolos se renovam. Os gênios também.


Em busca do hexa, vamos a 2014, mas agora sem Achilles Chirol nas teclas, na ética, na emoção, no jornalismo. Sua atuação ao longo da vida foi bela e exemplar. Jamais cometeu um deslize, desses veniais, como o de usar a página, que é dos leitores, para, por exemplo, valorizar o passe de um jogador. Ou para abalar a posição de um treinador para que um técnico amigo o substituísse.


No adeus que dirijo a ele, vejo, sua imagem fechando na redação da Gomes Freire mais uma página, a última das milhares que deixou para a história esportiva brasileira.

 

MINHAS CONSIDERAÇÕES: ESSE É O TIPO DE JORNALISTA QUE FAZ MUITA FALTA NA CRÔNICA ESPORTIVA. SEMPRE FUI FÃ DE SEU TRABALHO, NO JORNAL E NA TELEVISÃO.

 

terça-feira, 26 de setembro de 2023

CANTARELLI: A REGULARIDADE FOI SUA MARCA AO LONGO DA CARREIRA

 


Antônio Luís CANTARELLI, garoto ainda, aos 16 anos, deixou sua Além Paraíba, onde nasceu em 26 de setembro de 1953, para tentar a sorte no Botafogo. Os testes foram no meio do ano e ele deveria retornar no início de 1970. O olheiro Mineiro, que era massagista do Botafogo, também nascido em Além Paraíba, estava de malas prontas para o Flamengo e acompanhando um jogo da categoria juvenil em sua cidade natal, convidou Cantarelli e outros dois garotos para fazer um teste na Gávea, ainda em 1969. O sonho de menino estava prestes a se tornar realidade.  

 

De acordo com a informação do jornalista e radialista Sergio Luiz, radicado em Volta Redonda, que é de Além Paraíba e foi um dos três garotos escolhidos por Mineiro, após um mês de avaliação pelo técnico Joubert, a concorrência na linha era muito grande e Cantarelli foi o único aprovado. Sergio Luiz contou um detalhe interessante. Dudu era o apelido de Cantarelli e o Joubert não gostou e disse: “Dudu não é nome de goleiro. O seu nome de guerra será Cantarelli”. Começava assim a sua história no Flamengo.

 

Cantarelli e Mazzaropi são contemporâneos de Além Paraíba e defendiam times rivais. Maza jogava na equipe do Esporte Clube São José e o companheiro, à mesma época, no Esporte Clube Santa Maria. Em 1970, Mazzaropi chegava ao Vasco por intermédio de um tio. A rivalidade, dentro de campo, entre os times amadores de Além Paraíba, deu continuidade na capital carioca, agora com as camisas de Flamengo e Vasco, desde o juvenil ao profissional. Coisas do destino...

 

Cantarelli foi bicampeão carioca juvenil em 1972/73. Outro protetor apareceu na vida do garoto – Ubirajara – também goleiro, então reserva de Renato no time principal. Resolveu tomar aos seus cuidados o arqueiro que estava sempre disposto a treinar mais um pouco e, mais que isso, a aprender tudo que pudesse. Sem medo de errar, mas sempre disposto a tentar de novo até acertar.    

Seguro e eficiente nas bolas cruzadas sobre a área, mesmo não sendo sempre titular, participou da fase áurea do Flamengo do final dos anos 1970 e início dos anos 1980.  A regularidade foi sua marca ao longo de 20 anos de carreira. Jogou no Flamengo (campeão carioca em 1974/78/79/79-especial/81 e 86, brasileiro em 1980/82/83 e 87, e da Libertadores e do Mundial em 1981), e no Náutico – por empréstimo – em 1983. É o goleiro que mais vestiu a camisa do time rubro-negro – 557 jogos e 404 gols sofridos – com 347 vitórias, 131 empates e 79 derrotas. Sua estréia no profissional ocorreu em 30/06/1973, e o último jogo, em 06/02/1990.

 

Após encerrar a carreira, permaneceu no meio esportivo como treinador de goleiros. Trabalhou muitos anos com Zico, principalmente no futebol japonês.

 

 

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

ZICO E ROBERTO: AMIGOS PARA SEMPRE

 


Nota: transcrito na íntegra do caderno de esportes Ataque, jornal O Dia, de 13 de julho de 2008, com reportagem de Mauro Leão e foto (acima) de Carlos Moraes. 

 

Os tempos mudaram. O novo astral que tomou conta do Vasco, com a eleição de Roberto Dinamite, abriu até as portas de São Januário para o maior craque da história do Flamengo, Zico. Durante animado bate-papo na casa do novo comandante cruzmaltino, na Barra da Tijuca, foi levantada uma questão: Zico seria o técnico ideal para um dia assumir o comando do time vascaíno? Roberto rebateu de primeira: “As portas estão abertas. Mas o Zico atingiu outro patamar, acima de treinar times de clubes. Ele é técnico de seleção”, disse o Dinamite.

Atento, Zico devolveu: “Não fala assim não, Bob! Eu estou desempregado”, respondeu o Galinho, com uma sonora gargalhada.

Eles viajaram no tempo e contaram que a amizade entre ambos nasceu de tanto cara-ou-coroa que disputaram no passado, pois eram capitães de suas equipes. Hoje, aplaudem a rivalidade sadia no futebol e condenam a violência das torcidas.

O bate-bola histórico é o primeiro depois que Roberto marcou um gol de placa, assumindo os destinos no Vasco nos próximos três anos, pondo fim à um “coronelismo” que durava décadas no clube.


 

A CHEGADA

Um forte abraço e uma gozação de Zico marcaram e cara o início da conversa entre os dois velhos amigos.

“Acabou a moleza. Agora você vai ter que acordar aos domingos de madrugada para assistir às regatas lá na Lagoa Rodrigo de Freitas. Não vai curtir o Vasco só no futebol, não. Você é presidente de todos os esportes”, brincou o Galinho, lembrando que na Europa é mais fácil ser presidente. “Lá, o cara é o dono do clube, trata só do futebol. Aqui, é uma loucura, tem de cuidar com diretores de todos os esportes”.

Roberto matou a gozação no peito, assumiu que vai madrugar pelo bem do clube e passou a bola: “E você, Zico? Quando vai ser presidente do Flamengo. Tem planos para ser dirigente?”

“Fui mordido pela mosca azul. Achei que não daria certo como treinador, mas fui bem e acabei gostando. Estou em atividade e pretendo seguir na profissão por muitos anos. Agora, não penso em ser presidente. No futuro...”, rebateu Zico.

 

ZICO NO VASCO

“O Zico está muito acima de treinar times. Ele chegou a outro patamar. É técnico de seleção”, definiu Roberto.

“Olha só, Bob. Fala assim não, cara! Eu estou desempregado (gargalhadas)”, respondeu o Galinho, lembrando que, quando ainda estava no infantil do Flamengo, quase se mudou para São Januário. “Seu Antunes, meu pai, quis me tirar porque o clube não me dava almoço. Mas o George Helal bancou a comida do próprio bolso”.

 

VIOLÊNCIA EM CAMPO

“Os jogadores e torcedores de hoje em dia confundem tudo. Adversário é uma coisa; inimigo é outra bem diferente. Pode ter rivalidade no futebol, mas o ódio, jamais”, comentou Roberto.

“O futebol reflete o cotidiano de um povo sofredor. O torcedor absorve tudo dos seus ídolos. Por isso, profissionais não podem pregar a guerra. Têm que pregar a paz. Hoje, está tudo muito insano”, acrescenta Zico.

 

RIVALIDADE FLA X VASCO

“A maior mentira do futebol é falar que se o Vasco ganhar do Flamengo conquista um título. Pura castata. Para ser campeão tem que ganhar o máximo de adversários”, detona Roberto.

“Não é para dar uma de saudosista, não. Mas na nossa época levávamos 100 mil ao Maracanã. Todos se divertiam, sem brigas. Fizemos partidas memoráveis, com vitórias e títulos para os dois lados. Hoje, transformaram numa guerra”, recorda Zico.


 

RELAÇÃO COM A TORCIDA

“A situação financeira do Vasco está muito complicada. Não dá mais para o clube distribuir ingressos de graça. O verdadeiro vascaíno, aquele que ama o Vasco, vai ter que ir às bilheterias e comprar o seu bilhete para ajudar o clube. Não dá para distribuir R$ 30 mil em ingressos. A gente quebra de vez se continuar agindo assim. Não quero ter relação de dependência com as torcidas, e sim a união de todos”, convoca Dinamite.

“Além do mais, as torcidas organizadas já ganham dinheiro dos clubes. Vendem produtos, camisas e têm até quadro de associados, pagando mensalidades. As organizadas têm arrecadação própria. Têm mais é que ajudar os clubes”, acrescenta o rubro-negro.

 

AMIGOS DE FÉ

“Nós nos conhecemos desde os tempos de juvenis. Sempre houve respeito entre nós. Nossas mães, Dona Neusa (Roberto) e Dona Matilde (Zico) assistiam aos nossos jogos juntas, ficaram amigas. Depois, como capitães dos times, tiramos tanto cara-ou-coroa no início das partidas que acabamos ficando amigos. Mas quando a bola rolava, acabava o amor”, brinca Dinamite.

“Valia o respeito mútuo e a vontade de vencer. Roberto morava na Ilha, e quando se mudou para a Barra a amizade se fortaleceu ainda mais. As convocações para a seleção brasileira também nos uniram mais”, salienta o Galo.

 


BOAS LEMBRANÇAS

“O Mozer e o Leandro eram sacanas e ficavam me zoando na Seleção, brincando de mexer nos meus peitos e falavam. ‘Olha, que peitinho bonito’. No primeiro Fla e Vasco, nos cumprimentamos e nos primeiros lances, o Mozer me deu três porradas, uma por trás. Reclamei e ele não ligou, mas no fim ficou tudo bem. É assim que tem que ser”, lembra Roberto.

“Eu nunca vou me esquecer. O Vasco foi o único clube que me homenageou  quando eu encerrei a carreira. O Antônio Soares Calçada, seu ex-presidente, foi ao Maracanã e me entregou uma placa agradecendo os serviços que prestei ao futebol. Isso me emocionou”, agradece Zico.

 

CONSELHO

“Faça o que lhe der na cabeça. Siga sempre com suas convicções. Até consulte as partes, ouça opiniões. Mas na hora H a decisão tem que ser sua. Porque irão cobrar de você, do presidente. Certo ou errado, a decisão tem que ser sua”, ensina Zico, que é presidente do CFZ.

“Eu agradeço. É impossível dirigir um clube da grandeza do Vasco sozinho. Mas a batida do martelo é minha. A palavra final é do presidente”, agradece Roberto.

 

ZICO E ROBERTO

“O Zico era um craque. Acabava com o jogo num piscar de olhos. Foi um jogador completo, habilidoso, matador”, elogia Roberto.

“O Roberto evoluiu muito. Começou como centroavante fixo até cair nas mãos do meu irmão Edu, que treinou o Vasco. O Edu ensinou Roberto a se posicionar para fazer lançamentos buscando os velocistas Romário e Mauricinho. Além de tudo, era exímio cabeceador e batia faltas com perfeição. Dava muito trabalho”, diz Galo.

 


MÁGOAS

“o Flamengo sacaneou o meu filho. Não deu oportunidade ao garoto. Mexeram com o meu sentimento de pai, numa perseguição barata”, desabafa Zico.

“Meu orgulho de pai foi ferido quando o ex-presidente me expulsou das sociais de São Januário. Eu estava com meu filho, que tinha 9 anos e ficou chocado. Naquele momento, eu decidi pôr fim aos desmandos no clube”, recorda Dinamite.

 

GOZAÇÕES

“O Roberto não engole até hoje o gol do Rondinelli. O Bob tinha que tê-lo marcado e deu mole”, provoca Zico.

“Pior que o Rondinelli vive disso até hoje. Toda vez que me vê, lembra do gol de cabeça. Mas ele se esquece que perdeu um título porque me deu uma cotovelada. Ficou de bobeira, nervoso, passei rindo por ele, ele perdeu a cabeça e ganhamos a Taça Guanabara pelo erro dele”, rebate Roberto, sorrindo.

 

DESTAQUES DE HOJE

 "No Flamengo o Obina é o cara. A torcida adora ele. Tem o Bruno e os dois laterais”, elege Zico.

“No Vasco, gosto muito do Tiago, Edmundo e Leandro Amaral”, cita o vascaíno.

 

ÚLTIMA PERGUNTA

De Zico para Roberto:

“Qual jogador você quer no Vasco?”

“Cristiano Ronaldo”.

De Roberto para Zico:

“O que você prefere. Ser técnico de seleção ou de clube?”

“De clube. Na seleção, não dá para você fazer o seu trabalho, não há tempo”.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

MARINHO PERES: UM ZAGUEIRO DE MUITA QUALIDADE

 


Mário Peres Ulibarri nasceu em Sorocaba-SP, em 19 de março de 1947. Zagueiro de muita segurança, sabia se impor pelo jogo duro, mas também se destacava pela seriedade e, principalmente, a liderança que exercia dentro de campo. Foi um dos grandes zagueiros do futebol brasileiro na década de 70. Teve uma passagem marcante pelo Internacional.


Iniciou sua carreira no São Bento, de sua cidade natal. Logo aos 20 anos despertou o interesse da Portuguesa de Desportos, onde ficou até 1971. O Santos foi seu próximo destino. Jogando ao lado de Pelé & cia conquistou o título paulista em 1973 – que foi dividido com seu ex-clube, a Portuguesa – e vestiu a camisa do Peixe em 94 jogos e marcou 5 gols.


Esteve uma temporada (1974/75) no Barcelona, da Espanha, mas retornou ao Brasil (com o apoio do clube) quando foi convocado para o serviço militar espanhol, por ter a nacionalidade daquele país em virtude de seus pais terem nascido na Espanha. Assim sendo, retornou ao Brasil para brilhar com a camisa do Internacional (campeão gaúcho e do brasileiro em 1976). Formou uma dupla de zaga inesquecível com o chileno Figueroa, até hoje muito lembrada por torcedores do Colorado.

                                                                                              Marinho e Figueroa 

Em 1978 retornou ao futebol paulista para vestir a camisa do Palmeiras. Teve bons momentos no Alviverde, mas só conseguiu o vice do brasileiro de 1978. Atuou em 72 jogos e marcou 1 gol. No início dos anos 1980, o futebol carioca foi seu destino, para defender América, onde ficou até 1981 e nesse mesmo ano encerrou sua carreira, iniciando a de técnico no mesmo clube. Trabalhou por muitos anos no futebol português e marcou sua passagem em terras lusitanas. Foi campeão da Taça de Portugal pelo Belenenses, em 1989. Comandando o Sporting, entre 1990 e 1992, foi um dos responsáveis por revelar o craque Figo. Aqui no Brasil foi técnico, além do América, de Santos, União São João de Araras, Botafogo (RJ), Juventude (RS) e Paysandu.


Participou da Copa do Mundo de 1974 e vestiu a camisa do Brasil em 15 jogos, sendo 12 oficiais e um gol marcado.  


Após sofrer um AVC, em 2019, sua saúde ficou muito debilitada. Estava há cerca de um mês internado, em Sorocaba, após uma pneumonia e complicações nos rins e no coração. O quadro se agravou depois de uma infecção urinária, quando passou a não responder mais aos medicamentos, conforme informação do ge. Marinho Peres faleceu em 18 de setembro de 2023, aos 76 anos.

 

sábado, 9 de setembro de 2023

QUEM INVENTOU O FUTEBOL?



Esta pergunta recua no tempo milênios antes de Cristo. E, no entanto, ainda não foi convincentemente respondida. A versão mais aceita aponta para a China, onde certas datas eram comemoradas com um jogo que reunia multidões. O povaréu se dividia em dois grupos que tentavam se ultrapassar chutando bolas de papel. Mais tarde a diversão foi adotada pelos romanos. E as bolas de papel substituídas por bexigas cheias de ar ou, simplesmente, pelas cabeças dos inimigos mortos em combate. A novidade chegou aos burgos da Bretanha, que a aperfeiçoaram, cuidando, antes, de civilizá-la, abolindo o uso das cabeças como bolas. Mas jogavam de forma tão brutal que nasceu, então, um slogan que marcaria o futebol por muitos anos: o de ser o violento esporte bretão. Tal violência gerava acidentes fatais, a ponto de o jogo ser proibido. Ele só reviveria muitos anos mais tarde, na Itália renascentista sob o nome de cálcio e na Inglaterra como football. Era, então, a diversão predileta de lordes e barões da Europa. Até que, em 26 de outubro de 1863, Mr. Kiburn, de Oxford, resolveu padronizar o jogo, dando-lhe regras cujas bases permanecem até hoje. A reunião foi na Old Freemanson’s Tavern, de Londres, onde foi fundada a Football Association. Foi na Football Association que regulamentou a separação do futebol e do rugby (que permite o uso das mãos). E o novo jogo ganhou, a partir de então, o nome de soccer. Futebol para os íntimos, no mundo inteiro.

 

A EXPANSÃO DO FUTEBOL PELO MUNDO

 

Começou em 1870, quando os ingleses levaram para a Alemanha e Portugal. Em 1872, chegou à França, em 1876 à Dinamarca e, três anos depois, aos Países Baixos e à Suíça. A primeira partida noturna foi jogada em 1878, num campo de Bramall Lane, em Sheffield, na Inglaterra, assistida por uma platéia recorde de 15 mil pessoas. Finalmente, em 1893, o futebol apareceu oficialmente na América do Sul, quando foi fundada a Associação de Futebol Argentina.

O Século XX chegou com a bola rolando no mundo inteiro. Aqui e ali com mais violência. Mas em alguns lugares já com uma certa esperteza. Em 12 de outubro de 1902, realizou-se, em Viena, a primeira partida entre seleções nacionais fora do Reino Unido, e a Áustria derrotou a Hungria por 5x0. A partir dali, os encontros internacionais tornaram-se comuns. Começou-se a falar, então, num organismo que controlasse as relações futebolísticas intercontinentais.  A sugestão partiu do holandês C.A.W. Hirschman e, em 13 de janeiro de 1904, foi criada, em Paris, a Fedération Internationale de Football Association (FIFA). Assinaram a ata de fundação representantes da França, Bélgica, Espanha (representada pelo Real Madrid), Suíça, Países Baixos, Dinamarca e Suécia. No ano seguinte aderiram a Alemanha, Áustria, Itália, Hungria e Inglaterra.

Em 1930, o francês Jules Rimet, eleito para a presidência da FIFA, organizou a primeira Copa do Mundo. O Uruguai foi escolhido como país-sede por ser o último campeão olímpico (1928) e comemorar o centenário da sua independência. Dali para frente o futebol transformou-se no mais universal dos esportes. Profissionalizou-se. A FIFA adotou seus próprios códigos esportivos e disciplinares.

 

O SURGIMENTO DO FUTEBOL NO BRASIL

 

Oficialmente, o futebol chegou ao Brasil, em 1894, quando Charles Miller, paulista do Brás, nascido em 1874 de pai inglês e mãe brasileira, trouxe da Inglaterra a primeira bola. Miller estudou no Benister Court School, em Southampton, onde conheceu o futebol e tornou-se um bom jogador, a ponto de chegar à seleção do Condado de Hampshire, como Center-forward.

Quando retornou ao Brasil, trouxe consigo toda a parafernália do jogo. Foi, até 1910 – quando parou – o melhor jogador do país. Depois tornou-se árbitro e, em 1914, desligou-se totalmente do esporte. Morreu em 1953, sempre no Brás. A história é contada assim. Mas há indícios de que a bola chegara até nós bem antes de Charles Miller. Em 1972, os padres do Colégio São Luís, em Itu, interior paulista, teriam organizados partidas entre seus alunos, seguindo as regras de Eton, da Inglaterra; em 1874, marinheiros ingleses teriam batido bola na praia da Glória, no Rio; e, em 1878, outros ingleses, tripulantes do navio “Criméia”, teriam disputado a primeira pelada nacional diante da casa da Princesa Isabel, também no Rio. Há referências, ainda de jogos entre funcionários da City e da Leopoldina Railway, antes do retorno do artilheiro Miller.

Mas, para os registros oficiais, foi com a sua bola e os seus uniformes que se jogou a primeira partida de futebol no Brasil, na Várzea do Campo, em São Paulo, reunindo ingleses e brasileiros da Cia de Gás, da São Paulo Railway, do London Bank, e do São Paulo Athletic Club, agremiação que, mais tarde, passou a sediar os jogos. Em 1910 o futebol já era regularmente praticado na Associação Atlética Machenzie College, no Sport Club Internacional, no Sport Club Germânia, no Clube Atlético Paulistano e no pioneiro São Paulo Athletic Club. Foram eles, que, em 1901, fundaram a liga paulista. Não eram, porém, clubes especialistas no futebol. Os primeiros, no gênero, foram o Sport Club Rio Grande, de Rio Grande, interior gaúcho, fundado em 19 de julho de 1900, por um grupo de imigrantes europeus, que buscavam implementar a prática do esporte no país, e a Associação Atlética Ponte Preta, de Campinas, fundada em 11 de agosto de 1900, por um grupo de estudantes do Colégio Culto à Ciência, que praticavam futebol no bairro da Ponte Preta, sendo, portanto, o time em atividade mais antigo do estado de São Paulo e o segundo clube mais antigo do Brasil.

No ano em que os paulistas se organizavam em liga, os cariocas conheciam a bola, por iniciativa de Oscar Cox que, como Miller, colocara material de jogo na bagagem, quando voltou dos estudos em Lausanne, na Suíça. Os cariocas começaram no Rio Cricket, de Niterói, mas andaram depressa. Já em 1901 mesmo, jogaram duas vezes com os paulistas (1 a1 e 2 a 2, em São Paulo). Em 1902 fundaram o Fluminense Futebol Clube. Outros clubes surgiram e, em 1906, disputaram o primeiro campeonato da cidade. Seis clubes participaram: Fluminense, Paysandu, Rio Cricket, Botafogo, Bangu e Football Athletic. O Fluminense conquistou seu primeiro título ao vencer o Rio Cricket por 4 a 1, na cidade vizinha de Niterói.

Em 1910 o Fluminense trouxe ao Rio o Corinthians londrino, na época, o supra-sumo do futebol inglês. Foi um sucesso. Finalmente, em 1919 – quando o Brasil ganhou seu primeiro campeonato sul-americano – o futebol já era jogado em todo o país. Mas a sua consagração internacional só começou em 1925, depois que o Paulistano foi à Europa, ganhando oito jogos e só perdendo um. A partir dali o futebol se popularizou de tal forma que, quando o Vasco da Gama, no Rio, e o Corinthians, em São Paulo, resolveram democratizá-lo, aceitando jogadores negros e operários, os elitistas não resistiram. Era a conquista das multidões. E a transformação do futebol como esporte nacional do Brasil.

O Brasil não só se transformou no futebol, como passou a formar uma constelação de craques ao longo dos anos. Chegou ao ponto máximo com a eleição de Pelé como o “Atleta do Século”.

 

Fonte: 50 anos de emoção e gol. A história da Copa do Mundo/1980.

Editor Ney Bianchi / Bloch Editores S.A.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

sábado, 2 de setembro de 2023

GUSTAVO PINTO POEYS: O VITORIOSO! - POR GISELLE PINTO POEYS

 


No dia 02 de setembro de 1972 veio ao mundo Gustavo Pinto Poeys, filho de João Batista Ranquine Poeys e Kathia Maria Pinto Poeys. Gustavo nasceu com Hidrocefalia. No entanto, brilhantemente e de forma positiva e sempre de bem com a vida, superou e supera diariamente todos os obstáculos, não apresentando, felizmente, as possíveis consequências mentais da doença, ficando apenas com uma pequena dificuldade para andar. Sua infância e adolescência foram vividas em Miracema, juntamente com seus pais e seus três irmãos, Guilherme, João e Giselle, os quais sempre o apoiaram e o trataram sem distinção. Outra presença importante foi do seu irmão do coração Luís Alberto. Luís Alberto chegou à família Poeys para cuidar de Gustavo, contribuindo muito para o seu desenvolvimento e tornando-se amigos inseparáveis. Teve apoio incondicional também dos tios Kilza e Roberto e dos avós Sebastião e Olga, Dinah e Moreno.

 

Iniciou os seus estudos no Colégio Cenecista Nossa Senhora das Graças. Um marco significativo dessa época foi que Gustavo, devido à deficiência, foi isentado de frequentar as aulas de Educação Física, porém o mesmo, educadamente, pediu ao professor que o deixasse participar, mostrando desde criança que não se sentia diferente dos demais e que obstáculos existem para serem superados. Durante o ensino médio estudou no Colégio Estadual Deodato Linhares. Nessa ocasião, começou a trabalhar no escritório João Poeys Contabilidade, de propriedade do seu pai, no qual permaneceu por três anos. Posteriormente, concluiu o Curso Técnico em Contabilidade, no Colégio Miracemense.

 

Aos 20 anos foi morar em Niterói com os irmãos no intuito de fazer Faculdade e seguir na cidade grande sua carreira profissional. Assim, na primeira tentativa, passou no vestibular para Direito da Universidade Gama Filho, tendo por inspiração o seu pai, o advogado João Poeys. Também na primeira tentativa, obteve resultado positivo no exame da OAB e, apenas dois anos após sua formação, tomou posse como Oficial de Justiça Federal – TRF 2ª Região, aos 26 anos, sendo o 6º colocado na lista dos aprovados.

 

Como Oficial, nunca gozou de privilégios e trabalha intensamente, como os demais colegas de trabalho. Soma-se ainda em seu currículo uma Pós Graduação em Direito da Integração Econômica entre União Europeia e Mercosul, pela Universidade de Coimbra conjuntamente com UNIVERSO e TRF 2ª Região, e ainda, participa de concursos públicos para Juiz Federal e Procurador da República, pois Gustavo é determinado e não desiste de seus objetivos.

 

Anualmente em suas férias, faz questão da presença dos seus pais em suas viagens. Juntos já desbravaram todas as regiões do Brasil e países vizinhos, Chile, Argentina e Uruguai. Gustavo é considerado pela família e amigos como exemplo de superação, um exemplo de autoestima e, acima de tudo, um exemplo de ser humano: íntegro, honesto, amigo, amoroso, atencioso e VITORIOSO.

 

Nota: transcrito na íntegra do Jornal Liberdade de Expressão, edição nº 196, abril/2016.