sexta-feira, 31 de agosto de 2018

OS DEFUNTOS - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


Há um tempo atrás, lendo as páginas dos jornais, vejo a notícia sobre as mortes, ou melhor, assassinatos de pessoas por um enfermeiro que desligava os aparelhos ou aplicava injeção letal nos pacientes. Ao todo, dizem, cento e trinta e um.

E, sobre este assunto que envolve mortes, ainda pequeno, presenciei que as pessoas que morriam na roça, nas fazendas, eram colocadas em padiolas, que consistiam em dois varões com fundo de madeira, carregadas por quatro pessoas que se revezavam com outras, sem diminuírem o ritmo do andar. Muitas das vezes, nesses revezamentos, acabavam jogando o defunto no chão. Aqui chegando, colocavam o defunto no “caixão da misericórdia”, que era fornecido pela prefeitura. Após o enterro, iam para uma venda beber cachaça e comer salame. Era uma festa e tanta, e muitas vezes acontecia outra morte.

Certa vez morreu um fazendeiro chamado Honório Catucho. Passados dois meses, a viúva lembrou que o dinheiro do falecido havia ficado no bolso do paletó. Mandou que desenterrassem o finado para pegar o dinheiro. E qual não foi a surpresa: o defunto estava de bruços.

Passados alguns anos, ocorreu outro caso parecido. Só que desta feita, o fazendeiro era muito rico, gostava de carros novos, mulheres amigas e praticava esportes. Amava o Flamengo e a amiga chamada Maria Tereza, além de ser político. Um gaiato qualquer chegou a escrever sobre seu túmulo: “Sou flamengo e tenho uma nega chamada Tereza”. Acabou também sendo desenterrado pela viúva, para resgatar uma joia de família.

Outro fazendeiro queria levar todo o seu dinheiro, e pediu aos filhos que assim fizessem. Os filhos, no seu velório, depositaram, um a um, o dinheiro no caixão. Quando chegou a vez do genro, que era turco, este pegou todo o dinheiro e colocou no lugar um cheque do Banco Ribeiro Junqueira.


terça-feira, 28 de agosto de 2018

OS PRACINHAS - POR JOSÉ ERASMO TOSTES




Foi comemorado neste 2005 os 60 anos do término da II Guerra Mundial. Parece que foi ontem, eu com 13 anos de idade, no Rio de Janeiro, vendo partir o IV Batalhão em direção ao campo de batalha. Podemos dizer que a Guerra foi dividida em três fases. A primeira, quando a Alemanha invadiu a Polônia: 1939 – 1941; a segunda fase, 1942 – 4943, quando os países do Eixo foram perdendo territórios. Depois que os americanos entraram na Guerra, eu recebia pelo Correios, gratuitamente e mensalmente, uma revista chamada A Guarda, onde lia e via os horrores que a Guerra produzia.

Miracema também participou dessa Guerra. Daqui saíram vários miracemenses para lutarem no campo de batalha, comandados pelo General Mascarenhas de Morais, chefe da FEB (Força Expedicionária Brasileira). A maioria regressou: Manoel Marques, Urbano Alves, Manoel Jurema, Nilo Peixoto, Zanco, Marcelino Tostes, Dico Moledo, João Fernandes da Silva (Caraça), Abib Salim Damiam, Américo Guimarães Bastos. Outros perderam a vida: Jacinto Lucas, de Paraíso do Tobias e Vasco Oliveira. Outros ainda se encontram entre nós: Orlando Mercante (Landico), Francisco Ribeiro dos Santos (Nem), assim como João Fernando da Silva (João Dama). Com a chegada dos Pracinhas em Miracema, foi rezada uma missa e o prefeito Altivo Linhares ofereceu um almoço aos mesmos.

Francisco Ribeiro da Silva (Nem) recebeu comenda e carta de elogios assinada pelo General Caiado de Castro pelo seu desempenho ao salvar um companheiro ferido. João Dama conta que ficou dentro de um buraco, com os alemães passando por cima dele, durante dois dias. Vasco morreu após o término da Guerra ao tombar um jipe. Jacinto Lucas foi atingido por uma granada. João do DER (Caraça) depois que voltou, parece que não batia bem dos miolos. Urbano Alves, após seis meses de sua chegada, faleceu. Abib virou comerciante e criou o Bar Pracinha e a Distribuidora de Bebidas Pracinha – esta última funciona até os dias atuais. Dico Moledo foi para São Paulo e não mais tivemos notícias. João Soares da Silva (Beroto), ao voltar, casou-se com uma filha do João Cláudio, morou muitos anos em Miracema e hoje reside um Juiz de Fora.

Francisco Ribeiro dos Santos (Nem), hoje aos 84 anos, vive rodeado pela família com seus netos e bisnetos. Orlando Mercante (Landico), virou fazendeiro, tem amor pelos animais, cria vaca, porco, carneiro, cavalo, galo e outros bichos. João Dama reside na cidade de Aperibé. Dirceu Barros foi convocado e ao chegar a Pernambuco foi desativado por insanidade mental e passou a marchar diariamente pelas ruas da cidade.

Quando a humanidade deixar de resolver suas diferenças com guerra, no mundo teremos Paz e Felicidade.



segunda-feira, 27 de agosto de 2018

PALMEIRAS: O ALVIVERDE IMPONENTE



A presença de dois times italianos no Brasil, no caso o Pro Vercelli e o Torino, impulsionaram  quatro jovens italianos a criar um time para a colônia italiana, eram eles: Luigi Cervo, Luigi Marzo, Vincenzo Ragognetti e Ezequiel Simone, funcionários das Indústrias Matarazzo (que contaram com o apoio da fábrica para fundar o clube).  

A carta publicada no Fanfulla – jornal da colônia italiana em São Paulo – por Vicente Ragognetti, no dia 13 de agosto, foi o pontapé inicial para a criação da nova agremiação esportiva. Nela, Ragognetti conclamava os italianos da cidade a se unirem num clube, exatamente como já haviam feito os alemães, ingleses e portugueses. No dia 19, o Fanfulla esgotou sua edição ao noticiar uma reunião marcada para as 20 horas, no salão Alhambra, quando seria debatida a criação de uma sociedade denominada Palestra Itália.

O clube Sociedade Esportiva Palmeiras foi fundado em 26 de agosto de 1914, sob o nome Palestra Italia (em italiano a palavra Itália não é acentuada). A ata de fundação foi redigida em italiano. O primeiro jogo só ocorreu em 1915, mais precisamente no dia 24 de janeiro, quando o Palestra venceu o Savóia por 2 a 0, clube da colônia italiana de Votorantim, cidade que, na época, pertencia a Sorocaba.

O Palestra Itália foi forçado a mudar de nome por ocasião da Segunda Guerra Mundial. Após manter uma posição de neutralidade ao longo dos três primeiros anos do conflito, em 28 de janeiro de 1942 o Brasil rompeu relações diplomáticas com os Países do "Eixo" (Alemanha, Itália e Japão), sinalizando a posição que formalizaria em 31 de agosto do mesmo ano, quando declarou guerra a estes Países. A situação agravou-se com o decreto-lei de 17 de junho de 1942, exigindo que as agremiações esportivas que tivessem nomes estrangeiros mudassem suas denominações, e finalmente em 31 de agosto o governo brasileiro declarou formalmente o estado de Guerra contra os Países do “Eixo”. Entre os dias 28 e março e 13 de setembro de 1942, o time entrou em campo com o nome Palestra de São Paulo.

Na noite do dia 14 de setembro de 1942, a diretoria do Palestra reuniu-se em sessão extraordinária para discutir a exigência dos militares de mudança total do nome. Após horas de discussão e resistência, e da sugestão de nomes como Piratininga e Paulista, decidiu-se finalmente por Sociedade Esportiva Palmeiras, em parte pela preservação da letra “P” nos escudos e símbolos do clube, e em parte em homenagem à Associação Atlética das Palmeiras, clube então extinto, mas que sempre manteve excelente relacionamento com o Palestra Itália, tendo fornecido apoio decisivo em diversas ocasiões de litígio com dirigentes do futebol paulista.

A cor vermelha foi retirada, mantendo-se apenas o verde e branco, e no escudo foi removida a letra “I”, mantendo-se apenas a letra “P” sobre o fundo verde. Atendidas as exigências das autoridades, o Palmeiras entrou em campo no domingo seguinte para decidir o título do campeonato contra a equipe do São Paulo, trazendo duas novidades marcantes.

No dia 20 de setembro de 1942, com nome novo, o ex-Palestra venceu o Tricolor por 3 a 1 e conquistou o título paulista.


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

O TRÁGICO FIM DE GETÚLIO VARGAS


Uma das mais complexas figuras políticas da América Latina, Getúlio Vargas conseguiu ser detestado pela direita, pelo centro e pela esquerda e ser amado por grande parte do povo brasileiro que o apelidou de “o pai dos pobres”.

Levado ao poder por uma revolução que pretendia acabar com os arranjos políticos oligárquicos da República Velha, Getúlio, juntamente com os tenentes e os liberais de 1930, não conseguiu implantar a república idealizada, mas, de alguma forma, fez o País avançar social e politicamente, embora com muitos traumas e rupturas. Já no segundo ano de governo, os liberais de São Paulo se aliaram aos conservadores para exigir uma Constituição e eleições.  Foram vencidos, mas a Constituição foi votada em 1934 e Vargas confirmado presidente pelo Congresso.  

Em 1935, os comunistas tentaram tomar o poder com um golpe. Vargas o massacrou. Em 1937 fez-se ditador, proclamando o Estado Novo. Nesse período, que vai até 1945, dissolveu o Congresso, proibiu os partidos políticos, estabeleceu a censura à imprensa, promulgou leis trabalhistas significativas e importantes para a época, sufocou uma tentativa de golpe integralista (nazifascista) banindo seus líderes e também os liberais que se opunham ao governo. Rompeu com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), e iniciou com os Estados Unidos entendimentos para instalar uma grande indústria siderúrgica no país e equiparar as Forças Armadas, em troca da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. A ditadura caiu com o fim da guerra fria.

No dia 29 de outubro de 1945, Getúlio Vargas renunciou ante a iminência de ser deposto por um golpe militar, sendo conduzido ao exílio na sua cidade natal, São Borja (RS). Em dezembro do mesmo ano, foram realizadas eleições livres para o parlamento e presidência, nas quais Getúlio seria eleito senador pela maior votação da época. Era o fim da “Era Vargas”, mas não o fim de Getúlio Vargas, que em 1951 retornaria à presidência pelo voto popular.

No seu governo de 1951 a 1954, lançou as bases para a industrialização que seria realizada pelo governo JK. Criou em 1952 o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, para financiar o programa de industrialização. Elevou o salário mínimo de Cr$ 380 para Cr$ 1.200 (mais de 300%). Criou a Petrobrás em 1953, reequipou as ferrovias, construiu 600 quilômetros de rodovias por ano, aumentou em 67% a produção de energia e limitou a remessa de lucro das empresas estrangeiras.



Sua atuação nacionalista e populista o levou à queda em 1954. A crise surgiu quando homens de sua guarda pessoal contrataram pistoleiros para eliminar o jornalista de oposição, Carlos Lacerda, e estes mataram por engano um major da Aeronáutica. Diante do ultimato de renúncia feito pelas Forças Armadas, Getúlio Vargas suicidou-se com dois tiros no peito na madrugada de 24 de agosto.  

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A VISITA DE JUSCELINO KUBITSCHEK A MIRACEMA


Com a ausência dos representantes dos três poderes municipais: Prefeito, Presidente do Legislativo e do Juiz da Comarca - este por residir em Niterói não se encontrava na cidade - visitou o município de Miracema no dia 26 de novembro de 1967, o ex-presidente da Republica Sr. Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902/1976), que atendeu o convite formulado pelo advogado Mauricio Monteiro quando se encontrava em Paris e ali fez-se amigo do político mineiro.

A presença do ex-presidente em Miracema foi vigiada por policiais do SMI e do DPPS, que juntamente com as chuvas tiraram muito do brilhantismo das solenidades e das manifestações populares, sem, no entanto, se constituírem empecilho para a explosão de alegria que dominou os milhares de cidadãos que ali compareceram para homenagear o ilustre visitante. Foi recepcionado no campo de aviação, aonde chegou às 16:00 horas do domingo, num “Cesna” de 6 lugares. Regressou ao Rio às 08:00 da manha de segunda feira.

CARIDADE
O convite do advogado Mauricio Monteiro ao senhor Juscelino Kubistechek visou a dar ênfase à campanha para o Asilo São Vicente Paula, que foi beneficiado com toda a arrecadação decorrente das festividades programadas e nas quais o político compareceu, juntamente com a “Miss” Estado do Rio, Maria da Graça Kouri. O ex-presidente além de percorrer as instalações da instituição de caridade compareceu ainda ao jogo de futebol entre as equipes do Floresta, de Cambuci, e do Miracema, cuja partida terminou empatada em 1 a 1.

O Sr. Juscelino Kubitschek foi, posteriormente, ao baile do Aero Clube, onde valsou com a mais bela fluminense tendo em seguida dançado com damas da sociedade miracemense. No intervalo do baile o Deputado Nicanor Campanário, única autoridade do município que não se afastou da cidade, fez um discurso no qual agradeceu o Sr. Kubitschek a honra que concedia a Miracema lembrando que em outras circunstancias já haviam estados juntos e que aquela região e o Brasil eram agradecidos ao ex-presidente. A primeira quando autorizou a encampação da Companhia Força e Luz Norte Fluminense, beneficiando Miracema, a segunda pela desapropriação da Cachoeira do Inferno, um benefício ao estado e a terceira, quando concedeu a anistia aos revoltosos de Aragarças, após ter sofrido uma série de restrições em decorrência do Estado de Sitio em que o país se achava mergulhado, culminando seu Governo com a passagem da Faixa Presidencial, dando à democracia o mais exato sentido, que uma Nação sempre esperou dos homens públicos. O primeiro secretário da Assembleia Legislativa ressaltou que esta última atitude do ex-presidente foi um exemplo à Nação Brasileira. Os deputados José Kezen e Álvaro de Almeida também se encontravam na recepção ao ex-presidente.  


RECEPÇÂO
Na residência do Sr. Adumont Monteiro, último presidente da UDN, ao Sr. Juscelino Kubitschek foi ofertado um jantar que teve apenas 30 participantes. O anfitrião exaltou a presença do ex-presidente que em seguida agradeceu a manifestação e o carinho recebidos. De política o Sr. Kubitschek falou apenas que há necessidade de criação de um terceiro partido afim de que não radicalizem as duas correntes partidárias existentes. De sua aliança com o Sr. Carlos Lacerda disse que é um imperativo da paz nacional e sobre a Frente Ampla disse que ia muito bem obrigado.


O COMEÇO
Essa visita de Juscelino Kubitschek de Oliveira a Miracema, só foi possível porque Mauricio Monteiro, em término do curso de Direito na Universidade Federal Fluminense, com um grupo de estudantes que, ao invés de participarem das festas de fim de ano, decidiram gastar o dinheiro indo a Paris. Lá, sabendo que Juscelino estava na Capital das Luzes, após a cassação em 8 de julho de 1964, que lhe tirou os direitos políticos por 10 anos, o grupo decidiu fazer-lhe uma visita. Muito cortês Juscelino recebeu o grupo, mas com arguiu (perguntas) sobre o Brasil. Só Maurício fez um relato, inclusive dos acontecimentos políticos, e o ex-presidente disse-lhe que, ao retornar ao Brasil, faria uma visita a Miracema, "para tomar um café". Quando ele retornou do exílio, Maurício foi ao Rio, conversar. E, no trajeto de sua casa em Ipanema até uma clínica em Botafogo, o advogado e o ex-presidente tiveram uma conversa agradável, na qual ele convidou para dançar num baile na cidade. Maurício Monteiro pediu ao presidente do Rotary local, advogado Roberto Ventura, que formulasse, em nome da entidade, um convite ao ex-presidente. "Peguei o convite e, com Maria das Graças Kouri, Miss Estado do Rio fomos convidar Juscelino”. E ele aceitou. Então, o Rotary assumiu a organização da visita, tendo Maurício sendo alvo até de ironias porque ninguém acreditava que a convite seu um homem daquela projeção visitasse Miracema. Todavia, temendo represálias por parte da ditadura militar e, demonstrando muito medo, o prefeito José Carvalho, os vereadores, o presidente da Câmara, Inácio Pires da Silveira, promotor, juiz e outras autoridades sumiram da cidade. Ao mesmo tempo os geradores que reforçavam a iluminação da cidade foram desligados. 

Estes fatos não constam das biografias do ex-presidente nem foram divulgados pela grande imprensa. Mas foram importantes, porque Juscelino estava vivendo momentos terríveis, com o afastamento de muitos dos seus amigos, com as pressões militares, a censura aos órgãos de comunicação que também não o entrevistavam. Sua angústia, confessada, era grande e ninguém o convidava para participar de atos públicos como o que ocorreu em Miracema. Inclusive, Juscelino mandou um emissário procurar Mauricio e, com ele, foi à fazenda Prosperidade, em São José de Ubá. Estava tudo acertado para Juscelino ficar na fazenda, caso se confirmasse o aumento da repressão, como de fato, ocorreu, com o AI-5. Mas não houve tempo e Juscelino foi preso.

Em 1988, Márcia Kubitschek esteve em Miracema recebendo um título de cidadania Miracemense, em nome de seu pai, ocasião em que ficou na casa de Mauricio Monteiro. Coincidentemente, no mesmo quarto em que dormira seu pai, 21 anos antes. Em 1995, Mauricio vai a Brasília e visita o Memorial JK, tendo conversado com a Sra. Sarah Kubitschek e relembrado alguns fatos, que a emocionaram.

ECOS DO PASSADO Nº 46, PUBLICADO POR JOÃO BAPTISTA FONSECA.

FONTE:
Jornal Dois Estados
Folha do Norte Fluminense
Fotos: Arquivo pessoal do Dr. Mauricio Monteiro

terça-feira, 21 de agosto de 2018

O SONHO - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


Ao entardecer, estava na varanda, deitado na rede, quando o sono foi chegando, e parece que fui transportado para o tempo de criança, em que todas as sextas-feiras, após as aulas, eu e meus primos íamos para a fazenda dos nossos tios Seudy e Guiomar.

Os cavalos já nos esperavam no quintal da casa de minha avó. Lembro-me bem que um daqueles cavalos era um piquira que usava uma sela marrom com debruns brancos e os outros usavam socados mais novos. Geralmente íamos na garupa um do outro, fazendo algazarra até chegar na fazenda. No dia seguinte, levantávamos bem cedo, ainda com escuro, e íamos para o curral que ficava na parte mais alta, onde lá se fazia a ordenha. O leite da vaca preta pintada de branco, chamada Figueira, era consumido na fazenda. Ali mesmo tomávamos o leite tirado na hora, ainda morno. Ao voltar para a casa da fazenda, o café já estava na mesa, com broas de fubá e outros quitutes. Em seguida, apanhávamos os apetrechos de pescaria, íamos para o açude ou para o valão pegar cascudo nas locas existentes, ou lambaris e carás com varas improvisadas.

Na época das colheitas, o tio Seudy fazia com que todos trabalhassem no corte do arroz, na colheita do milho e na apanha do algodão. O algodão era depositado num dos quartos da casa. Na sala ao lado, muito espaçosa, tinha uma eletrola movida à corda, um guarda-louça, um retrato grande pendurado na parede, um mesa comprida onde se fazia as refeições preparadas no fogão de lenha, e dois bancos para compor a mesa.

A Fazenda Santa Justa ficava num platô, o curral na parte de cima; no terreiro, um galinheiro, duas tulhas, onde se guardavam os produtos colhidos, um barracão onde ficava o carro de boi e um carroção, juntamente com as ferramentas agrícolas. Na parte de trás da fazenda, a mais baixa, onde a água era corrente, havia uma ceva com vários porcos. Do outro lado da estrada, uma roda d’água tocada pelo valão ali existente e o alambique onde se fabricava a aguardente Santa Justa, que era vendida no Mercado.

Após cinquenta anos lá voltei, e ao passar novamente pelos mesmos lugares, o açude, a banqueta onde se represava a água para tocar o moinho de fubá, os pés de goiaba, as mangueiras, as jabuticabeiras, nada tinha mudado. Eu é que havia envelhecido, e as lágrimas a correr pela face ao lembrar os tempos de menino.

E assim, naquelas recordações, eu via o entardecer, e a hora de dormir, onde a tia Guiomar fazia com que todos lavassem os pés para não sujarmos os lençóis alvejados.

E naquele silêncio que produz a noite, só ouvíamos de longe o ladrar dos cães, o pio da coruja, o coaxar dos sapos, o zumbido dos insetos, o farfalhar das folhas secas batidas pelo vento, o marulhar das águas sobre as pedras e o barulho cadenciado da roda d’água.

E neste momento, o meu neto me chama: vovô, vovô, levanta da rede. A chuva está te molhando.

JAMBO E JABUTICABA PREVINEM DOENÇAS DA OBESIDADE


Uma tese de doutorado feita pela nutricionista Ângela Giovana Batista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que a jabuticaba e o jambo-vermelho ajudam a prevenir doenças associadas à obesidade e fazem bem à memória. A ação de compostos antioxidantes bioativos e fibras dessas frutas vermelhas ajudam a prevenir doenças. “Nosso grupo trabalha com a jabuticaba desde 2008 e, como os estudos foram mostrando efeitos benéficos da fruta, resolvemos dar sequência à linha de pesquisa”, explicou Ângela Batista. “O jambo é uma fruta que não conhecíamos e que decidimos investigar por não haver nenhum relato na literatura sobre seus efeitos, sendo que a produção de um jambeiro-vermelho é muito alta no Brasil. Na época da safra, a árvore produz muito e, a não ser no Norte e Nordeste, as pessoas não consomem as frutas, talvez por desconhecimento.”

A pesquisa, que foi orientada pelo professor Mário Roberto Maróstica Júnior, foi desenvolvida no Laboratório de Nutrição e Metabolismo, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), revelou que o jambo tem, em sua composição, quantidades expressivas de fibras e polifenóis, com destaque para antocianinas, que são compostos associados a propriedades benéficas contra doenças metabólicas.

Segundo a pesquisadora, a composição química da jabuticaba e do jambo se altera a cada ano. “A planta produz esses compostos bioativos (antioxidantes) para se defender dos efeitos de um clima indesejado para ela e, conforme o clima muda, ela apresenta quantidades diferentes destes compostos”, disse. Com base nesses compostos, a pesquisadora formulou dietas ricas em lipídios para os animais que participaram da pesquisa. Os animais foram alimentados com banha de porco para simular o que é consumido em termos de gordura nos fast foods.

Camundongos passaram dez semanas consumindo dietas com baixa e alta concentração de gordura, suplementadas com a casca de jabuticaba e a polpa de jambo-vermelho. “Após esse tratamento, os animais mostraram melhoras em marcadores de obesidade, como diminuição da massa corporal gorda, maior resistência à insulina periférica, redução de marcadores pró-inflamatórios e aumento da defesa antioxidante (que combate os radicais livres do organismo). Todos esses parâmetros estão associados com a prevenção de diabetes tipo 2 – um problema de saúde pública de grande escala no Brasil e no mundo”, explicou a nutricionista.

Os pesquisadores investigaram, ainda, o papel da jabuticaba e do jambo na memória dos animais. “No início das pesquisas, observamos que o hipocampo, que comanda a memória e o aprendizado (e uma das primeiras regiões do cérebro a ser afetada quando a doença de Alzheimer se inicia), sofria dano oxidativo devido à alta produção de radicais livres após o consumo de dieta gordurosa, além de não responder de forma adequada à sinalização da insulina nas células, promovendo a fosforilação de uma proteína chamada Tau.”

Quando isso acontece, os neurônios perdem suas conexões e sinapses, ficando impedidos de executar tarefas de acesso e aquisição da memória. “A suplementação da dieta gordurosa com ambas as frutas não só prevenia esse dano, como aumentava a sensibilidade à insulina, evitando a formação de marcadores do Alzheimer como a fosforilação da Tau”, explicou a pesquisadora.

Fonte: Correio Popular


segunda-feira, 20 de agosto de 2018

SÓCRATES: O DOUTOR DA BOLA


Por sua visão de jogo, habilidade e inteligência dentro de campo, Sócrates pode figurar tranquilamente no concorrido time dos melhores meio-campistas que o Brasil já teve. Assim como a marca de Leônidas da Silva era a bicicleta, a de Sócrates era o toque de calcanhar. Foram muitos desde o início da carreira, no Botafogo de Ribeirão Preto (SP), em 1973. Até os 24 anos o talento de Sócrates esteve restrito ao time do interior paulista, algo impensável atualmente. Sócrates brilhou em uma época em que talento era mais importante que preparação física. Pode-se dizer que ele foi um “jogador de futebol”, e não um “atleta”.  

Suas qualidades logo foram percebidas por um time grande da capital, sendo contratado pelo Corinthians em 1978.  Já no ano seguinte foi campeão paulista e passou a jogar também pela seleção. Polêmico, nunca escondeu que gostava de tomar umas cervejas. Foi com essa filosofia de mais liberdade dos jogadores, dentro e fora de campo, que se tornou um dos líderes da chamada “Democracia Corinthiana”. 

O clube foi bicampeão paulista em 1982/83 e Sócrates foi jogar a Copa da Espanha, em 1982. Um dos principais jogadores de uma geração de talentos que não conseguiu ser campeão do mundo, nem em sua segunda tentativa, no México em 1986, quando já não era mais o mesmo.   

Contratado pelo futebol italiano – para jogar na Fiorentina –, não se deu muito bem por lá e jogou só uma temporada (1984/85), voltando antes do término do contrato. Retornou ao Brasil e jogou ainda pelo Flamengo, Santos e Botafogo – onde iniciou a carreira – para encerrar definitivamente o seu ciclo de jogador, realizando sete partidas e marcando um gol, em 1989. Seu físico, que nunca foi exatamente o de um atleta, já não respondia aos comandos de seu cérebro genial com a mesma eficiência. Em 1986, atuou em uma única partida na conquista do título carioca pelo Flamengo.   

Após abandonar o futebol, e com um diploma de médico de antes do início da carreira, ele voltou ao seu consultório como o Dr. Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. Sobre o diploma de médico, ele não o ajudou a encontrar uma receita para ser campeão do mundo. No entanto, o "Doutor" encantou plateias com seu domínio de bola, chutes, passes, lançamentos perfeitos e o calcanhar, sua marca registrada. 

Os problemas de saúde foram se complicando e o alcoolismo, admitido por ele, foi minando aos poucos com sua vida até levá-lo à morte, devido a uma hemorragia digestiva, em 4 de dezembro de 2011, na capital paulista. O seu corpo foi enterrado na cidade de Ribeirão Preto. Nascido em Belém (PA), em 19 de fevereiro de 1954,  o “Doutor” morreu novo, aos 57 anos. Casou-se quatro vezes e teve seis filhos.

Números da carreira:
Botafogo (SP) – 269 jogos e 101 gols
Corinthians – 297 jogos e 172 gols
Fiorentina/Itália – 33 jogos e 9 gols
Flamengo – 20 jogos e 5 gols
Santos – 23 jogos e 7 gols
Seleção Brasileira – 63 jogos e 24 gols, sendo 60 oficiais com 21 gols

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O TROPEIRO - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


Chovia torrencialmente na Serra da Ventania, os burros e mulas desciam pela estrada escorregadia. Nino Machado vinha montado num burro chamado Rosado, comandando os dois lotes de animais carregados de café, que era colocado em bolsas de couro penduradas nas cangalhas. A madrinha da tropa, a mula Esperança, vinha guiando-a com a batida de doze cincerros pendurados no pescoço, que no silêncio da serra ouvia-se à grande distância.

O café, aqui chegando, era entregue ao comprador que pagasse o melhor preço, ou ia direto para o DNC - Departamento Nacional do Café, onde era ensacado, pesado e transportado por meio de escadas formando pilhas enormes. No DNC via-se vários homens trabalhando na lavagem do café, que corria em calhas feitas no terreiro e a água escoava através de um ralo feito de chapa de ferro. Na secagem, o café era esparramado no terreirão com grandes rodos de madeira. Após essa preparação, o café ia para a estação da Leopoldina por meio de carroças e carroções e aí embarcado nos vagões do trem.

O café trouxe riqueza para Miracema, para os fazendeiros e para os comerciantes, e fez com que se construísse muitos prédios em nossa cidade. Depois veio a derrocada, levando vários deles à falência. O presidente Getúlio Vargas mandou que em todos os DNC’s se fizesse a queima do café e guardas armados tomavam conta para que se cumprisse a ordem dada.

Na volta para a Fazenda Santa Cruz, na Serra da Ventania, a tropa do Nino Machado ia carregada com mercadorias para abastecer a venda: sal grosso, fumo de rolo, querosene etc.

Nino Machado era um homem forte, usava sempre chapéu, camisa aberta na altura do umbigo, fumava cigarro desfiado Cinco Pontas ou Coral, que era enrolado no papel Ambré, e tomava suas pingas para esquentar o frio. Nino gostava de fazer uma fezinha no jogo do bicho.

Após esses acontecimentos, Nino vendeu sua tropa e veio morar em Miracema. Montou uma cocheira para sobreviver, instalou-se perto da Igreja e do Cemitério, talvez para ouvir o bater do sino da Matriz e lembrar dos que ouviu por muitos anos no peito da mula Esperança, ou para se acostumar com o sino do Cemitério, que o levaria aos sessenta e tantos anos para sua última morada.

Ainda bem que não ouviu o bater do martelo das privatizações, onde o dinheiro recebido pela venda da Vale do Rio Doce não deu para pagar 17 dias de juros da dívida externa do Brasil.


ELVIS PRESLEY: O REI DO ROCK'N ROLL


Elvis Aaron Presley foi o maior símbolo da revolução provocada pelo rock’n roll nos anos 50.  Nasceu em Tupelo, Mississippi, em 8 de janeiro de 1935. Filho de um trabalhador rural pobre, aos 18 anos gravou um disco como presente para a mãe e impressionou os ouvidos de San Phillips, que pouco antes lançara o selo de discos Sun.  Três anos depois, em 1956, Elvis era o maior astro do planeta, com cabelo à la Yony Curtis e roupas espalhafatosas.

Para a classe média americana, Presley era a figura do demônio encarnado, um garoto branco que cantava como um homem negro. Contagiou os adolescentes americanos do pós-guerra com sua grande excitação de ser jovem, fundindo sexo, música e moda com uma decidida rebeldia. Os discos rapidamente se tornaram clássicos e, nos dois anos seguintes, aprimorou sua marca registrada no rock’n roll com canções como That’s all right, Blue moon of Kentucky, Hound dog e All shook up.

Em 24 de março de 1958, entrou para o Exército. Uma convocação facilmente descartável, porém aproveitada comercialmente por seu empresário.  Quando retornou dois anos depois, em março de 1960, as coisas não voltaram como antes. Dentro desse período que esteve no exército perdeu a sua mãe. Na década seguinte, foi forçado pelo empresário a participar de filmes de terceira categoria e gastou grande parte dos anos 70 revivendo glórias passadas em Las Vegas.

Vítima do uso abusivo de drogas e álcool, Presley morreu em 16 de agosto de 1977, aos 42 anos, tendo como causa uma disfunção cardíaca. Seu corpo foi encontrado no banheiro de sua residência.

Elvis tornou-se um dos maiores ícones da cultura popular mundial do século XX. Possui uma infinidade de fãs em todas as partes do mundo.  

terça-feira, 14 de agosto de 2018

MIRACEMA EM FOCO - A FAZENDA SANTA INÊS VAI ATÉ VOCÊ



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domingo, 12 de agosto de 2018

UMA VIAGEM AOS BONS TEMPOS DO RÁDIO ESPORTIVO...


O rádio não tem fronteiras. O rádio esportivo, então, por si só, sempre foi marcante e participativo. No dia 25 de setembro, data de nascimento de Roquete Pinto, o “Pai do Rádio Brasileiro”, comemora-se o Dia do Rádio. Em 1923, Roquete fundou a primeira emissora do país, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Era uma fase experimental do veículo, sem grandes avanços tecnológicos. O que se viu por aí adiante foi a popularização do rádio, um veículo de comunicação de massa com maior alcance e imediatismo, que só perdeu um pouco de sua popularidade com a chegada da televisão. 

FUTEBOL E RÁDIO: UM CASAMENTO PERFEITO

 Nota: transcrevo nos dois próximos parágrafos um texto de José Carlos Luck.

 “No Brasil, a primeira transmissão de futebol aconteceu no dia 19 de julho de 1931, por Nicolau Tuma. Foi a primeira narração integral de um jogo de futebol. Antes eram feitos boletins que informavam os lances principais. Antes de o jogo começar, Tuma foi aos vestiários do Campo da Floresta para fixar as características físicas dos atletas das seleções de São Paulo e do Paraná, pois à época os uniformes não tinham números às costas. Como o futebol ainda não era muito conhecido, Tuma se preocupou em explicar as regras durante a transmissão. Foi um sucesso no Vale do Anhangabaú pela Confeitaria Mimi, que pôs alto-falantes para reproduzir a transmissão. Tuma narrava tão rápido que ganhou o apelido de 'speaker metralhadora'.

Na primeira transmissão, narrou 10 gols e o jogo foi vencido pelos paulistas por 6 a 4. As transmissões de Nicolau Tuma ganharam tantos ouvintes que, em 1937, ele foi proibido de entrar no estádio para narrar um jogo entre Palestra e DCB porque se temia perder público. Transmitiu o jogo de cima de uma escada de 14 metros, fora do estádio. O rádio desde as primeiras transmissões sempre levou muito mais emoção para o torcedor e continua sendo assim.”

A ERA DO RÁDIO

Em oito de junho de 1938, Brasil e Polônia jogavam em Strasbourg, na França, a 9.416 km do Rio de Janeiro, pela Copa do Mundo. Era a primeira vez que os 1,7 milhões de cariocas podiam acompanhar o destino da Seleção ao pé do rádio. O speaker - como se convencionava chamar os narradores - era o paulista Gagliano Netto, contratado em meados dos anos 30 pela Rádio Club do Rio de Janeiro. A Seleção não levantou o caneco, mas Gagliano Netto conquistou uma vitória pessoal: mesmo estando num outro continente, iniciou a era do rádio no Brasil.

Em um post que publiquei com uma foto da equipe de esportes da Rádio Nacional, de 1978, o jornalista Maurício Menezes fez um comentário, como sempre, muito pertinente, sobre aqueles anos de ouro do rádio esportivo:
“Transmitíamos futebol, vôlei, basquete, futsal, tudo. Pelo trabalho realizado, que colocou a Nacional lá em cima, na audiência, é que fomos convidados para dar sequência ao trabalho na Rádio Globo, o que foi também um sucesso. A equipe esportiva da Nacional tinha quase 30 pessoas. Somente narradores esportivos eram 12. O rádio, na época, era muito forte. Hoje em dia, por exemplo, emissoras consideradas grandes no país têm, em média, apenas 2 narradores".

Quem teve o privilégio de acompanhar essas feras com o rádio grudadinho no ouvido, viveu momentos maravilhosos que, no final dos anos 1990 foi perdendo seu encanto. A emoção da transmissão nos levava pelas ondas do “dial” para dentro do estádio, imaginando lance por lance, detalhe por detalhe. Os locutores nos traziam uma narrativa muito acima da realidade: um lateral próximo à sua área de defesa era um terror, tudo era dramático ao extremo, desligava e ligava o radinho a cada ataque contra meu time, esperava o grito de gol vindo do rádio em alto volume do vizinho que torcia para o adversário. Era um alívio ao ouvir aquele adorado "silêncio”.... hoje, o excesso de jogos transmitidos pelas TVs mostra uma realidade morta. Além dos locutores, tínhamos ótimos trepidantes e comentaristas que, tentavam traduzir em 3 ou 4 minutos do intervalo, o que teria acontecido. Até hoje eles tentam, na verdade. As Rádios Globo (Rio e São Paulo), Nacional, Tupi, Eldorado, Tamoio, Capital (Rio e Minas), Continental (Rio), JB, Carioca, Bandeirantes, Excelsior, Record (São Paulo e Rio), Gazeta, Jovem Pan, Itatiaia, Inconfidência, Cultura, Difusora, Cidade e Continental (as quatro últimas de Campos dos Goytacazes), e outras que, a memória pode ter falhado, são inesquecíveis para minha geração. 

A história do nosso rádio esportivo deixou marcas que o tempo não consegue apagar para quem vivenciou diariamente aquela época.


Abaixo relaciono nomes com seus bordões – que marcaram época na fase áurea do rádio esportivo carioca, paulista e mineiro – narrando, comentando, nas reportagens ou na retaguarda, e alguns deles ainda continuam na ativa. Procurei dar ênfase aos profissionais com maior identificação com o rádio e que trabalharam no período entre as décadas de 1970 e 1990 - que vivenciei ativamente -, quando curtir o rádio era um "vício" saudável e diário ininterruptamente, em toda a sua programação. Certamente nomes são esquecidos quando se propõe a fazer um levantamento desse tipo. Peço desculpas de antemão por aqueles que não foram citados. 

Jorge Curi ( o grito de gol que ecoava por todos os cantos do velho Maracanã), Waldir Amaral – “Indivíduo competente”, Sérgio Moraes – “Dos pampas aos seringais”, Vitorino Vieira, Orlando Baptista – “Mais laureado locutor esportivo do Brasil”, José Cabral – “Moço da Maricota”, Paulo César Tenius, Celso Garcia (O Garoto do Placar) – “Não adianta chorar, a nega tá lá dentro”, Doalcey Bueno de Camargo – “Mais vibrante locutor esportivo”, Luís Penido (Garotão da Galera) – “Nas ondas do rádio”, José Carlos Araújo – “Cheguei! Vai mais, vai mais, vai mais Garotinho”, Jota Santiago – “Locutor show que emociona - Aumente o volume do seu rádio”, Júlio César Santana, Luiz Carlos Silva – “O que faz a cabeça da galera”,  José Cunha – “Tá lá”, Cesar Rizzo – “Sorrindo e sacudindo o futebol do Brasil”,  Antônio Porto – “Bola para o mato, porque o jogo é de campeonato”,  Edson Mauro – “Bingo, olha o gol, olha o gol”, Maurício Menezes (Danadinho) – “Ah, mas que joguinho gostoso!”, Márcio de Souza, Carlos Marcondes, Oswaldo Moreira, Dalton Ferreira, Benjamim Wrigth, Rujany Martins, Januário de Oliveira – “É disso que a torcida gosta”, Ayrton Rebelo – “Ora, ora, ora, prá fora!”, Agostinho Gomes, Paulo Roberto Braga, Pedro Paradella, Washington Rodrigues (Apolinho), Luís Mendes – "Palavra Fácil”, Rui Porto, João Saldanha – “Meus Amigos”, Affonso Soares, Alberto Rodrigues, Gérson Canhota, Roberto Mércio - "Comentarista Enciclopédia", Roberto Porto, Ademir Menezes, Tárcio Santos, Tércio de LimaFelipe Cardoso, Jaime Luís (esse conhece tudo do futebol português), Luiz Orlando Baptista, Osvaldo Baptista, Evaldo José, Áureo Ameno, Mário Vianna – “Goool Legal”,  Jairo de Souza – “tiriri-tiriri-tiriri”, Mário Silva, Deni Menezes, Kleber Leite, Loureiro Neto, Danilo Bahia, Gilson Ricardo, Eraldo Leite, Elso Venâncio, Pedro Costa, Zildo Dantas – “Nem o Sol cobre melhor o Flamengo”, João Ferreira (Grandão), Rui Guilherme, Fernando Carlos, Fernando Pedrosa, Eldio Macedo, Arnaldo Moreira, Alberto Brandão, Arlindo Moreira, Alexandre Serquiz, Wagner Menezes, Iata Anderson, Ronaldo Castro, Renato Brandaris, Ricardo Carpenter - "Fantasma", Luís Fernando, Sérgio Américo, Wellington Campos, Waldir Luiz, Sebastião Pereira, Sidnei Amaral, Dário de Paula, Rui Fernando, Uiara Araújo, Carlos de Souza, Carlos Borges, Ricardo Mazella, Zoulo Rabello, Napoleão Nascimento, João Guilherme, Marcus Vinicius, Cláudio Perrot, André Luís (Plantão Esportivo), Daniel Pereira, Maurício Torres, Sérgio Maurício, Eduardo Henrique, Cícero Mello, Eugênio Leal, Rodrigo Campos, Victor Emanuel, Walter Salles - "Garimpeiro da notícia", Luiz Ribeiro, Rubens Leão, João Adad, Garcia Junior, Fernando Luís, Affonso Ribeiro, Isaac Junior, Duque, Sansão, Maurílio de Souza, Pierre Carvalho, Paulo Júnior, Manolo Martins, Marco Aurélio, Antônio Luís, Fábio Tubino, Edir Lemos, Luís Brandão, Flavio Dias, Hélio Augusto, Carlos Campelo, Riedel Alves, Geraldo Silva, Ivan Mendes, Marcus Tinoco, André Ribeiro, Sérgio Fernandes, Sidnei Marinho, Geraldo Sena - "Locutor que agita a galera", Marcelo Castilho,   entre outros. 
Jorge Curi e Waldir Amaral

Acompanhei também as emissoras de São Paulo, com diversos nomes marcantes do rádio esportivo brasileiro. Por sinal, o interior paulista sempre foi um celeiro e uma escola na formação de novos jornalistas esportivos, para o rádio e televisão: Fiori Giglioti – “Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”, Oscar Ulisses - "Pro gol!", Joseval Peixoto - "No trabalho, nas escolas, nas praias, nos bares, nos lares flutua nos ares uma alegria que não morre nunca: Brasil campeão mundial futebol!", Haroldo Fernandes - "Quem ganhou, ganhou, quem não ganhou, não ganha mais!",  Osmar Santos – “Ripa da chulipa e pimba da gorduchinha”, José Silvério – “Pai do Gol”, Oswaldo Maciel – “Se toda vez que eu pensasse em você, sumisse um pedacinho de mim... êpa... êpa... cadê eu?”, Pedro Luiz Paoliello, Geraldo Bretas, Randal Juliano, Leônidas da Silva - "O Diamante Negro", Mário Moraes, Roberto Petri, Jota Junior, José Roberto Papacídero, Antônio Edson, Roberto Oliveira, José Carlos Guedes, Reinaldo Costa, Flávio de Araújo, Braga Junior, Marco Antonio Mattos, Carlos Aymard, Altair Baffa, Paulo Roberto Martins, Ávila Machado, José Ribeiro, Mauro Pinheiro - "Senador", Cléber Machado, José Roberto de Múcio, Oswaldo dos Santos, Ennio Rodrigues - "O que vale é bola na rede", Wilson de Freitas, Ney Costa, Sérgio Carvalho, Jorge de Sousa, Sílvio Filho, Edemar Annuseck, Aluani Neto, Constantino Ranieri, Alfredo Orlando, Fausto Silva (Faustão), Loureiro Junior, Roberto Carmona, Henrique Guilherme, Ulisses Costa, Juarez Soares, Ely Coimbra, Milton Camargo, Vitor Moran,  Orlando Duarte, Dalmo Pessoa, Dirceu Maravilha – “Se for pro gol, me chama, me chama, que eu vou...”, Cláudio Carsughi (profundo conhecedor de Fórmula 1), Israel Gimpel, Silvio Luiz, Cledi Oliveira, Flávio Adauto, João Zanforlin, Luís Carlos Santos Quartarollo, Sylvio Ruiz (grande setorista do Santos), Nilson César - "Alô São Paulo, alô Brasil!", Flávio Prado, Octávio Muniz, Paulo Soares, Sérgio Cunha, Roberto Silva - "Olho Vivo", Borghi Junior, Marco Antônio, Jorge Vinicius, Regiani Ritter (uma voz feminina no rádio paulista), Wanderley Nogueira, Mário Garcia, Darcy Reis, José Goes, Tony Lourenço (a voz marcante do plantão esportivo), Chico de Assis, Manoel Ramos (um grande nome do plantão esportivo da Tupi), Ricardo Wagner, Antônio Euryco, Paulo Edson, José Roberto Ramos, Octávio Pimentel, Suhel Neves, José Diniz Neto, Lucas Neto, Barbosa Filho,  Ovídio Nascimento, Valdir Nogueira, Tim Teixeira, Raul Gonzalez, Luiz Augusto Maltoni, Odir Cunha, Paulo Mattiussi, Marcos Barreto, Dirceu Cabral, Pedro Bassan, Sérgio Barbalho, Edson Scatamachia, César Teixeira, Milton Neves, Guto Loureiro, Rogério Achilles, João Carlos Albuquerque, Arlérico Jácome, Elias Awad, Romeu César, Mauro Beting, Ricardo Capriotti, Ângelo Ananias, Éder Luís, Augusto Quelhas, Castilho de Andrade, Reginaldo Gomes, Odinei Edson, Márcio Bernardes, Zancopé Simões, Nilson Reigada, Alexandre Santos, Sérgio Carvalho, Osmar Garrafa, Roberto Monteiro, Osvaldo Pascoal, Valmir Jorge, Marcelo Di Lallo, Cândido Garcia, Reali Junior, Antônio Rangel, Pedro Luiz Junior, Jorge de Souza, Eduardo Luiz, "Ligeirinho", Eduardo Barazal, e por aí vai...

Minas Gerais é outro estado muito representativo nesse tema em questão, e as Rádios Inconfidência e Itatiaia chegavam com um som nítido e com nomes de destaques, tais como: Alberto Rodrigues - "gol-gol-gol-gol", Januário Carneiro, Jota Júnior, Osvaldo Faria, José Lino, Vilibaldo Alves - "Adivinhe!", Waldir Rodrigues, Milton Naves, Gérson Mendes, Alair Rodrigues, Roberto Abras, Jairo Anatólio Lima, Aloísio Martins, Dirceu Pereira, Kafunga, Juarez Távora, Maurílio Costa, Willy Gonser - "Mais completo do Brasil", Paulo Rodrigues, Celso Martinelli, Edson Rodrigues, Flávio Anselmo, Gil Costa, Haroldo de Souza (que começou em Minas e depois foi trabalhar no Rio Grande do Sul), Carlos Valadares, Fernando Sasso - "Tá no filó", Osvaldo Reis (o Pequetito) - "Gol, gol, gol, gol...", Tancredo Naves, Afonso Alberto, Arthur Moraes, Teixeira Neto, Paulo Roberto Pinto Coelho, José Calazans, Luiz Carlos Alves, Carlos César Pinguim, Orlando José, Emanuel Carneiro, Geraldo Martins, Lísio Gonzaga "Biju", Mauro Neto, Gil Costa, Luiz Chaves, Lucélio Gomes, e outros mais.


Adilson em Miracema recebendo uma Comenda. 
Gostaria de fazer um adendo e homenagear o meu amigo e conterrâneo Adilson Dutra, jornalista que teve o privilégio de trabalhar no rádio esportivo dentro desse período dos anos 80 e 90. Com o surgimento da Rádio Princesinha do Norte, em 1982, o narrador Adilson Dutra formou sua equipe que foi vanguarda nas transmissões em outras cidades, acompanhando jogos no Maracanã, Niterói, Campos, Itaperuna e outras da região. Trabalhou também, por um breve período, na Rádio Feliz, de Santo Antônio de Pádua.

Miracema ficou pequena e a cidade de Campos, que já o conhecia, adotou definitivamente o jovem que buscava seu espaço em um centro maior.  Teve a oportunidade de trabalhar nas principais emissoras de rádio campista, tais como: Difusora, Cidade, Continental, Cultura, Diário FM, entre outras. Na imprensa escrita, trabalhou na “Folha da Manhã”, como editor de esportes, em “A Cidade”, como redator e colunista, e no “Diário NF”, como colunista.

Um momento muito especial de sua trajetória no jornalismo ocorreu no ano de 1987, quando foi agraciado com o Troféu Bola de Ouro do rádio esportivo no Brasil. Nessa época ele trabalhava na Rádio Cidade. Para se ter uma ideia da importância desse prêmio, o evento tradicional homenageava os destaques do ano no rádio, jornal e televisão em todo o Brasil. Era considerado “O Oscar da Comunicação Esportiva”.

Retratando agora o rádio esportivo de Campos dos Goytacazes, muito representativo no interior do estado do Rio, revelando profissionais para as principais emissoras da capital, tais como: Eraldo Leite, Elso Venâncio e Cláudio Perrot. Arthur Moraes seguiu para fazer sucesso na capital mineira.

Vamos aos outros craques do microfone da "terra do chuvisco", que também já foi a "terra da goiabada": Josélio Rocha, Luís Paulo Ribeiro, Moreira Filho, Luiz Cândido Tinoco, Sérgio da Mata Tinoco, Barbosa Lemos, José Maria Mattar, Helvio Santa Fé, Nicolau Lousada, Diney Monteiro, Edson França, Aloysio Parente, Sérgio Morais, Adilson Dutra, Elimar Santiago, Cacau Borges, Nilson Maria, José Nunes da Fonseca, Paulo Ourives, Pessanha Filho, Dalvan Lima, Walace Oliveira, Eraldo Bento, Ronaldo Correia, Antônio Carlos Paes, Aylton Junior, Sidinei Ribeiro, Luís Augusto Barcelos. Arnaldo Garcia, Fernando Antônio, Luiz Mário, Carlinhos Manhães, Eduardo Ribeiro, Amaro Lírio, Antunes Clayton, Mário Márcio, Paulo Lacerda, João Neto, Evaldo Queiroz, Carlos Augusto Cruz (Gugu), Edel Freitas, José de Souza, José Augusto, Renato Borges, Francisco Cespon, Herval Santos, Almeida Sales, Elmir Ferreira de Oliveira e etc... 



 


sábado, 11 de agosto de 2018

O JARDIM E O “DIA DOS PAIS” – POR JOSÉ ERASMO TOSTES



Nosso intuito não é ridicularizar os personagens aqui retratados, apenas mostrar aos leitores tipos e fatos que ficaram em nossa memória ao longo de nossa vida.
Rozário Zap era um imigrante italiano. Foi praticamente o responsável pela arborização do nosso jardim. A maioria das árvores foi por ele plantada. Depois de aposentado, já com idade avançada, passou a vender alhos nas ruas da cidade.
O nosso jardim sofreu uma remodelação em 1931, pelo então prefeito Altivo Linhares. Existe um banheiro público em estilo choupana, imitando troncos de madeira que foi desativado há muitos anos. Após sua remodelação foi construída a escada que fica à esquerda, do lado do Jardim de Infância.
Os bancos eram de madeira com pés de ferro. Depois foram substituídos por bancos de cimento com propaganda das firmas que os ofertavam. Com o passar do tempo, dos 43 bancos existentes, 27 já não fazem parte do comércio local: Banco Ribeiro Junqueira, Banco Crédito Real de Minas Gerais, Agência Ford, Agência Chevrolet, Bar Rio Branco, Bar Central, Casa Aguiar, Casa Rainha, Casa Santa Helena, Casa Provinciali, Casa Garcia, Casa das Máquinas, Farmácia Central, Serraria Miracema, Posto Shell, Usina Santa Rosa, Açougue São Sebastião, Fábrica de Móveis São Geraldo, Migramar, Alfredo Crespo, Genserico Câmera Castro, Tipografia Souza, Cia Telefônica Brasileira, Oliveira & Mendonça, Barros & Nacif, Joalheria Siene e A Predileta.
Em um desses bancos estão sentados dois senhores de idade avançada. Neste momento chega um rapaz e diz: - Como é, papai? Vamos embora ou o senhor vai ficar aí? Estou com pressa.
O mais idoso se dirige ao outro e diz: - Eu queria que as pessoas, ou nossos filhos, tivessem mais paciência conosco, que já estamos velhos, no terminal da vida. Já não temos a mesma agilidade que eles; nossas pernas estão trôpegas, a nossa audição está falha. Às vezes pedimos para repetir o que dizem. Às vezes molhamos a roupa pela incontinência urinária. Reclamam por não comermos, não sabem que os nossos dentes são poucos. Às vezes nos sentimos inúteis diante da modernidade atual. Entornamos a bebida ou derramamos a comida sobre a mesa. Eu queria que eles soubessem que muitas vezes, eu trocava as suas fraldas. Que lhes dei comida para os alimentar. Que acordei muitas noites e os embalei para dormir. Que tive paciência em fazer com que andassem. Que suportava seus choros altas horas da noite.
Hoje é o “Dia dos Pais”. Recebemos presentes, recebemos carinhos de nossos entes queridos, mas o que mais precisamos, ao chegar à velhice, é mais compreensão, que não nos desprezem quando não somos mais úteis, que não nos abandone em um asilo no meio de pessoas desconhecidas. Que respeitem a nossa surdez, que desculpem a nossa incompreensão. Que respeitem o nosso andar lento, a nossa pouca visão e as nossas mãos trêmulas.
E saibam que também, um dia, serão pais e que também ficarão velhos.
SETEMBRO/2003