Nosso intuito não é ridicularizar os personagens aqui
retratados, apenas mostrar aos leitores tipos e fatos que ficaram em nossa
memória ao longo de nossa vida.
Rozário Zap
era um imigrante italiano. Foi praticamente o responsável pela arborização do
nosso jardim. A maioria das árvores foi por ele plantada. Depois de aposentado,
já com idade avançada, passou a vender alhos nas ruas da cidade.
O nosso
jardim sofreu uma remodelação em 1931, pelo então prefeito Altivo Linhares.
Existe um banheiro público em estilo choupana, imitando troncos de madeira que
foi desativado há muitos anos. Após sua remodelação foi construída a escada que
fica à esquerda, do lado do Jardim de Infância.
Os bancos
eram de madeira com pés de ferro. Depois foram substituídos por bancos de
cimento com propaganda das firmas que os ofertavam. Com o passar do tempo, dos
43 bancos existentes, 27 já não fazem parte do comércio local: Banco Ribeiro
Junqueira, Banco Crédito Real de Minas Gerais, Agência Ford, Agência Chevrolet,
Bar Rio Branco, Bar Central, Casa Aguiar, Casa Rainha, Casa Santa Helena, Casa
Provinciali, Casa Garcia, Casa das Máquinas, Farmácia Central, Serraria
Miracema, Posto Shell, Usina Santa Rosa, Açougue São Sebastião, Fábrica de
Móveis São Geraldo, Migramar, Alfredo Crespo, Genserico Câmera Castro,
Tipografia Souza, Cia Telefônica Brasileira, Oliveira & Mendonça, Barros
& Nacif, Joalheria Siene e A Predileta.
Em um desses
bancos estão sentados dois senhores de idade avançada. Neste momento chega um
rapaz e diz: - Como é, papai? Vamos embora ou o senhor vai ficar aí? Estou com
pressa.
O mais idoso
se dirige ao outro e diz: - Eu queria que as pessoas, ou nossos filhos, tivessem
mais paciência conosco, que já estamos velhos, no terminal da vida. Já não
temos a mesma agilidade que eles; nossas pernas estão trôpegas, a nossa audição
está falha. Às vezes pedimos para repetir o que dizem. Às vezes molhamos a
roupa pela incontinência urinária. Reclamam por não comermos, não sabem que os
nossos dentes são poucos. Às vezes nos sentimos inúteis diante da modernidade
atual. Entornamos a bebida ou derramamos a comida sobre a mesa. Eu queria que
eles soubessem que muitas vezes, eu trocava as suas fraldas. Que lhes dei
comida para os alimentar. Que acordei muitas noites e os embalei para dormir. Que
tive paciência em fazer com que andassem. Que suportava seus choros altas horas
da noite.
Hoje é o “Dia
dos Pais”. Recebemos presentes, recebemos carinhos de nossos entes queridos,
mas o que mais precisamos, ao chegar à velhice, é mais compreensão, que não nos
desprezem quando não somos mais úteis, que não nos abandone em um asilo no meio
de pessoas desconhecidas. Que respeitem a nossa surdez, que desculpem a nossa
incompreensão. Que respeitem o nosso andar lento, a nossa pouca visão e as
nossas mãos trêmulas.
E saibam que
também, um dia, serão pais e que também ficarão velhos.
SETEMBRO/2003
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