sexta-feira, 20 de março de 2020

SEU ERNESTINO E A REVOLUÇÃO - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


Ernesto Moraes Tostes, este era o seu nome, mas todos o chamavam de Ernestino. Ainda criança conheci o Seu Ernestino. Era gordo, olhos azuis, cabelos brancos. Gostava de andar sempre de chinelos de liga e calça amarrada com o cinto fora do passador.

Era casado com Dona Delmira. Sua casa vivia sempre cheia de gente. Tinha dez filhos, sendo sete homens e três mulheres. Dutra, Ernesto, Lelé, Bem, Gino, Lulu e Mariano. As mulheres Mariquinha, Julieta e Júlia. Ernesto era casado com Dona Filhinha, como era chamada; Gino casado com Nélia, Lelé com Catariana Coelho, Lulu com Carlota. O Bem casado com Aparecida, Mariano ficou viúvo e casou-se pela segunda vez com Maria Lopes. Mariquinha casada com Homero Padilha, Julieta com Bentinho e Júlia com Manoel Reinaldo.

Também vivia com o casal uma cozinheira negra chamada Faustina e um caseiro mulato chamado Durval; tinha olhos azuis e diziam que era seu filho natural. Ernestino tinha uma fazenda chamada Cachoeira Alta e Pinduca. Ficava a sei ou sete quilômetros da rua. Morava onde hoje é a Rádio Princesinha e tinha uma outra casa ao lado onde morava Homero Padilha. Mais à frente um açougue, onde Lelé era o açougueiro, um bar alugado para o Cabloco e na parte de trás, no outra rua, a João Pessoa, uma fábrica de manteiga onde trabalhavam o Reinaldo e o Mariano.

Bentinho, casado com Julieta, queria vender uma Fazenda. Homero saiu de casa para comprar. Ficou o dia todo com o Bentinho para fazer o negócio. Quando chegou em casa a Mariquinha perguntou: - Comprou a fazenda Homero? Homero respondeu: - Ele não falou nada, também não perguntei. Nenhum dos dois eram muito de conversa.

Manoel Reinaldo, casado com Júlia, era motorista e chefe dos Integralistas. Manoel era forte e bonito. Quando vestia o uniforme as mulheres ficavam indóceis. Em 1937 foi preso juntamente com outros integrantes do partido.

Na Revolução de 1930, no dia 3 de outubro, 60 a 70 soldados vindos de Juiz de Fora chegaram em Palma pela estrada de ferro, comandados por Asdrubal Gwyer de Azevedo e o tenente Lopes. No outro dia chagaram em Miracema, que era distrito de Pádua. A maioria do povo procurava abrigo nas fazendas, temendo a Revolução, e assim diversas famílias foram para a Fazenda do Pinduca, que pertencia ao Sr. Ernestino, e lá ficaram por 15 ou 20 dias até voltar à normalidade. Lá na Fazenda foram bem recebidos por Ernestino. Matavam capado, comiam frango, arrancavam aipim, abóbora. A comida era farta. Os homens dormiam na tulha e tomavam banho no valão ou na bica. As mulheres dormiam dentro da casa da Fazenda, no chão, em cima de cobertores ou lençóis, e tomavam banho em bacias.


Ao morrer Ernestino, a Fazenda foi dividida entre 10 herdeiros. Hoje, apenas um neto e dois bisnetos ainda têm a sua parte.

Altivo Linhares aderiu à Revolução e o General Asdrúbal nomeou um negro carroceiro chamado Galdino como cabo, e dias depois a Sargento. Cícero Bastos era o Prefeito de Pádua. Após a Revolução foi nomeado Altiva para o seu lugar.

Em 1929, quando houve as eleições, ganhou Júlio Prestes e foi eleito presidente da república Getúlio Vargas, que assumiu e chefiou a Revolução que durou 21 dias. 

Assumiu o governo e implantou a ditadura e lá ficou por 15 anos. Em 24 de outubro o presidente Washington Luiz foi intimado a deixar o governo, sendo levado para o Forte de Copacabana e exilado para a Europa.

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