Na garagem do prédio,
uma Kombi Luxo 1968, pintada de "verde Caribe", tem placa preta. Há
sinais de que jamais fora restaurada: as calotas um pouco desgastadas, as
lanternas simpaticamente descoloridas e os bancos com discretos indícios de
cansaço. Quantos programas cancelados por causa da chuva, peças repostas,
dinheiro e tempo investido.
Quantos desafios
impostos pela vida e superados pela determinação em seguir com a companheira de
tantas histórias e viagens? Dificuldades financeiras, mudanças de casa, de
Estado ou país; tempo para curti-la cada vez mais escasso; baterias
arriadas porque o tempo para curti-la está cada vez mais escasso;
"despejos" de garagens alugadas. Eventos que, a bordo dela,
certamente renderam boas histórias. Quanto amor. E não é fácil manter a dignidade
de um carro antigo.
O caminho
A primeira coisa é se filiar a um
clube de autos antigos que seja associado à FBVA (Federação Brasileira de
Veículos Antigos). O procedimento inclui o pagamento de uma taxa, que gira em
torno de R$ 120, e uma inspeção. Agendada, um especialista do
auto-clube avaliará no seu carro: mecânica, elétrica, visual externo e
interior. A cada item mal conservado ou não original, pontos são ceifados. Se
baixar de 80 pontos, tente outra vez. Se o veículo for aprovado, um certificado
de originalidade será emitido.
Com ele, siga até o Detran do seu
Estado para atualizar o documento, no qual a categoria "Passageiro"
(PAS/Automóvel) será mudada para "Coleção" (COL/Automóvel). Porém, há
poucos benefícios. Na prática, os veículos com a placa preta são isentos de
inspeção veicular, mas ninguém busca esse reconhecimento apenas para burlar a
inspeção -- cada vez mais em desuso, aliás.
Corre-se atrás da chapa preta
para dizer a si mesmo: "Você conseguiu! Valeu a pena, parabéns". E,
claro, para que seu vizinho fique babando na garagem, imaginando o quanto foi
difícil -- e ao mesmo tempo mágica -- essa viagem.
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