sexta-feira, 1 de outubro de 2021

ESTÁDIO JAIR SIQUEIRA BITTENCOURT, DO ITAPERUNA: PALCO DE GRANDES EMOÇÕES NOS ANOS 80 E 90




Longe de ser um Maracanã... mas quem vivenciou esses momentos compreenderá o título do post. O interior do estado está órfão de "emoçoes" desse tipo. A grande massa de torcedores acompanha o seu time apenas pela TV. Aquele contato de proximidade do torcedor com o seu ídolo é coisa do passado. É uma triste constatação! 

A partir da segunda metade dos anos 80, até o final dos anos 90, as regiões Noroeste do estado do Rio, Sul do Espírito Santo e Zona da Mata de Minas Gerais, participaram ativamente dos jogos do Porto Alegre/Itaperuna contra os “chamados“ grandes da capital em diversos confrontos pelo certame estadual. Caravanas de todas as cidades se exprimiam no acanhado estádio com capacidade aproximada de 10 mil pessoas. Se contarmos o público que ficava no morro ao lado, em uma posição até privilegiada, o total chegava a 15 mil. Era uma verdadeira festa!

Independente do tamanho do estádio passou por aquele gramado grandes nomes  do futebol brasileiro: Zico, Leandro, Roberto Dinamite, Sócrates, Renato Gaúcho, Júnior, Romerito, Assis, Mauro Galvão, Aldair, Josimar, Romário, Bebeto, Edmundo, Túlio, Felipe, Zinho, Juninho Pernambucano e muitos outros craques, desfilando seus talentos e fazendo a alegria do torcedor, ávido por ver seu ídolo tão próximo.

Ronaldo Perereca
O Porto Alegre/Itaperuna também têm seus ídolos, como Adãozinho, Alexandre, Alcer, Pestana, Pacato, o miracemense Ronaldo Perereca, Déo, Cacaio, Claudio Gomes, Chicão, Januário, Jair, Zé Carlos, Almir e tantos outros que vestiram e honraram essa camisa e são reverenciados até hoje pelos torcedores itaperunenses. Nas redes sociais, em qualquer foto publicada do time, são emocionantes os depoimentos daqueles que tiveram a felicidade de vivenciar aquela época.

E por muito pouco o velho e tradicional estádio não foi demolido. Em 2015, com as dívidas só aumentando, o estádio foi vendido por R$ 15 milhões para uma construtora. Desse total, R$ 4 milhões seriam destinados ao pagamento de dívidas e o restante investido na construção de um novo estádio, no Vale da Seringueira, no bairro Aeroporto. No entanto, através do decreto municipal nº 4764, de 3 de novembro de 2015, foi determinado como área de utilidade/necessidade pública o complexo do estádio, com uma área aproximada de 12.534 m2. O documento ressalta, para fins de desapropriação, todos os imóveis que fazem parte do estádio. Isso impede qualquer leilão sem a anuência do poder público municipal. O negócio foi suspenso e a demolição, que já havia se iniciado, interrompida. Posteriormente os reparos da demolição foram feitos e o estádio, muito aquém do desejado, continua de pé.

Em entrevista ao meu blog, os ex-jogadores Alcer e Alexandre lamentaram o fato e expressaram toda a tristeza com a situação do clube. Esse é mais um exemplo concreto da falência dos times considerados pequenos do interior do nosso imenso Brasil.

Voltando aos bons momentos do estádio, presenciei inúmeras partidas ao longo desses anos, de todos os clubes, e em algumas delas os apuros também se fizeram presentes. Relato um fato ocorrido em outubro de 1992: junto com mais três amigos saímos para assistir ao jogo do Vasco em uma quarta-feira à noite. Próximo ao distrito de Venâncio, debaixo de um forte temporal, o carro apresentou problemas e ficamos pela estrada. A chuva continuava intermitente e pelo rádio veio a informação que a partida havia sido adiada para o dia seguinte. Depois de arrumar um mecânico –  que não resolveu o problema – empurramos o carro e deixamos próximo a uma residência para no dia seguinte buscá-lo. Retornamos à estrada para esperar o ônibus, que não passava. O que nos salvou foi uma carona com amigos de Miracema, que retornavam de Itaperuna após o adiamento do jogo, e não sei como colocamos a turma toda – nove marmanjos – dentro do carro. 

No dia seguinte, com o mesmo carro e o "time" de amigos da noite anterior, partimos novamente para o jogo, que foi às 17h. O Vasco fez uma homenagem muito bonita ao Friaça, à época residindo em Porciúncula - sua cidade natal e próxima a Itaperuna - que recebeu uma placa das mãos do Roberto e deu o pontapé inicial do jogo. O Vasco venceu por 3 a 0, com Edmundo, Bismarck e Roberto marcando os gols.  

A seguir, faço um breve resumo da trajetória do representante itaperunense no futebol profissional:

O ano de estreia foi 1984, no Campeonato Carioca da Terceira Divisão. A temporada serviu como experiência para tentar o acesso no ano seguinte. Fazendo de seu estádio um alçapão, o Porto Alegre atropelou seus adversários e conseguiu o título da Terceira Divisão de 1985. O primeiro passo foi alcançado e chegar à divisão principal já não era um sonho tão distante. Na Segunda Divisão de 1986, enfrentou times tradicionais da capital e do interior. Fez uma campanha brilhante e sofreu apenas 3 derrotas em 22 jogos: Serrano, Madureira e Volta Redonda. Números suficientes para conseguir o acesso junto com a Cabofriense, que venceu a competição. A ascensão tão rápida despertou o interesse da imprensa nacional e o Porto Alegre foi matéria da Revista Placar, ainda em 1986, sob o título: UMA APOSTA FELIZ - Com orações e dinheiro do jogo de bicho, sobe o pequeno Porto Alegre, que em 1987 irá enfrentar os grandes do futebol carioca.

Na elite do certame, o Porto Alegre teve ótimos momentos e conseguiu se manter por um bom tempo entre os grandes, sem aquele sobe e desce muito frequente com os times considerados pequenos. Em 11 de março de 1987, num jogo histórico contra o Flamengo de Jorginho, Leandro, Mozer, Andrade, Adílio, Sócrates, Renato Gaúcho, Zinho, entre outros, em Itaperuna, conseguiu a façanha de uma vitória improvável por 2 x 0, com os artilheiros Alexandre e Adãozinho ofuscando os craques rubro-negros. O jogo foi numa quarta-feira à tarde e a cidade parou. 

Após a fusão do Porto Alegre com o Unidos e o Comércio Indústria - clubes amadores, mas velhos rivais - nasceu em 21 de julho de 1989 o Itaperuna Esporte Clube. Nos anos de 1989 e 1996, conquistou o quinto lugar na Taça Guanabara. Ainda em 1996, em sua melhor participação no Estadual, na classificação final ocupou a quinta colocação geral. O ano de 1999 foi o último em que o Itaperuna enfrentou os quatro grandes do estado no certame regional. Em 2000 e 2001, disputou uma fase preliminar do Campeonato e não se classificou para a fase final. Nesse período o clube já apresentava sinais de um processo de decadência. 

Em 2002, com sérios problemas financeiros, não teve condições de disputar a Segunda Divisão. Retorna em 2004 e, desde então, ausentando-se em alguns anos das competições promovidas pela FERJ, atualmente se encontra na Série C, a Quinta Divisão do futebol carioca. 

Em 1988, estreando em competição nacional - na Série C - conseguiu a 11ª  colocação entre 43 participantes. Entre os anos de 1989 e 1992, o clube disputou o Campeonato Brasileiro da Série B. Em 1989, fez uma ótima campanha e foi eliminado pelo Remo nas quartas de final, ficando na sétima colocação geral. Em 1995, quando participou de sua última competição nacional - Série C - ficou na 78ª posição entre 107 equipes.

Fiz um levantamento de todos os confrontos do Porto Alegre/Itaperuna contra os quatro grandes da capital. Os dados correspondem aos jogos a partir de 1987. O Vasco é o único que tem 100% de aproveitamento. 

Botafogo - 21 jogos; 14 vitórias; 6 empates; 1 derrota; 40 gols pró; 15 gols contra
Flamengo - 19 jogos; 13 vitórias; 4 empates; 2 derrotas; 39 gols pró; 11 gols contra
Fluminense - 20 jogos; 16 vitórias; 2 empates; 2 derrotas; 43 gols pró; 13 gols contra
Vasco - 22 jogos; 22 vitórias; 49 gols pró; 10 gols contra




 


3 comentários:

  1. Meu nome é Antônio José e sou de Itaperuna. Realmente é com muita tristeza que presenciamos esse fato lamentável. O clube não merecia passar por isso. Citando esses jogadores do Itaperuna vc me fez viajar no tempo e relembrar esses momentos inesquecíveis. Quem não viu, não vê mais. Um abraço e parabéns pelo seu blog e por mais essa postagem.

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  2. Sensacional esse relato. Quantas vezes saí aqui de Muriaé para ver o meu Vasco. Em todos os jogos dos times grandes saíam caravanas em direção a Itaperuna. Francisco Cardoso

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