Muito se comentou sobre
o fato de que os jogadores da Seleção Brasileira praticamente ignoraram a morte
de Carlos Alberto Torres. Somente Gabriel Jesus fez um post sobre a perda de um
dos, senão o maior capitão da história do nosso futebol. Infelizmente isso não é
novidade. Como sempre lembrado por Juca Kfouri, uma vez Robinho disse não
conhecer Nilton Santos, por exemplo. Só que isso não é exclusividade de
“jogadores com origem humilde que não tiveram boa educação de base”. É
disseminado.
Primeiro que, de fato,
valoriza-se pouco a história no Brasil. Em qualquer área, falamos e conhecemos
pouco sobre o passado, e com o futebol não é diferente. Mas a peculiaridade
dessa paixão nacional é que as gerações mais novas, em geral, tendem a querer
desqualificar o passado. Pensam que os mais velhos “romantizam tudo”, que
“futebol antes era fácil” e têm uma voracidade por “testemunhar a História” que
me impressiona. Aliás, não só a juventude, como a própria imprensa, mas apenas
no futebol europeu, claro: qualquer classificaçãozinha de País de Gales as quartas
de final de Eurocopa rende um emocionado “Estamos vendo a História ser feita!”,
enquanto no nosso quintal, a tal da “História” parece só ser evocada para
coisas negativas: “o mais fraco São Paulo de todos os tempos”, “pior fase da
historia do Botafogo”, “se rebaixado, será a primeira vez na história do
Internacional”…
Nasci em 1982 e comecei
a acompanhar futebol no fim da década de 80. Lembro que era comum que se
apelidasse qualquer dupla de um negro e um branco – fossem dois garotos ou dois
cachorros, por exemplo – como “Pelé e Garrincha”. Cresci vendo o “Rei” ser
tratado como realmente de outro planeta. Garrincha, Didi, Rivellino, Tostão,
etc. sendo valorizados como verdadeiros monstros do futebol.
Sinto que tudo mudou
após a conquista das Copas de 1994 e 2002. Acabou o encanto daquele período em
que dominamos o planeta. É como se Zinhos, Mazinhos e Klebersons nos levando ao
topo “humanizassem” o peso de ser “campeão do mundo”.
Para exemplificar isso,
durante as Olimpíadas do Rio, o programa “Balada Olímpica” (que ia ao ar na
Globo durante as madrugadas) trouxe uma reportagem feita nas Olimpíadas de
1992, pelo Marcos Uchôa, sobre o time americano de basquete, o “Dream Team”.
Nela, o repórter exaltava Magic Johnson, e comparava suas assistências “aos
lançamentos milimétricos de Gerson”. Isso já 22 anos depois da Copa de 1970.
Alguém imagina hoje uma
reportagem dizendo algo como “Djokovic voou para dar o voleio, tal qual
Taffarel para evitar um gol”? Eu não. E isso tem a ver com os
referenciais. Naquela época, nosso orgulho eram as Copas, antes restritas ao
período 1958-1970. Depois, veio a globalização, ganhamos outras duas
(protagonizadas por craques que atuavam no exterior) e surgiu a tal da Bola de
Ouro da FIFA, que é tratada quase como uma prova matemática da qualidade de um
jogador.
Agora, sejam atletas,
sejam jovens torcedores (mesmo de clubes nos quais ele foi ídolo), praticamente
ignoram a morte de um colosso do esporte. E, se bobear, é até
melhor assim. Se essa patrulha se intensificar, vão pipocar posts protocolares
feitos por assessores dos jogadores. Fora que, às vezes, até algum conhecimento
do passado é prejudicial, como quando jovens dizem coisas como “Pelé só tem
mais de 1000 gols porque conta até os que fez pelo exército”.
Agora imaginemos só
qual é a tendência futura de valorização do passado recente do nosso futebol,
em que ninguém cria raízes, que nossos clubes são subjugados pelos mercados
árabe e chinês, que a criançada torce por times europeus, a Seleção é um balcão
de negócios…
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