![]() |
| Maurício Monteiro |
Naquele 1º de agosto de 1953, os jornais (que só chegavam no dia seguinte, à noite, na banca do Neném Amaral) davam notícias da crise do governo de Getúlio Vargas, através da CPI do jornal “Última Hora”, de Samuel Wainer, que era fustigado por um seu ex-colega, Carlos Lacerda. Estampava também o governador de Minas, Juscelino Kubistcheck, que dizia que era cedo para falar em sucessão presidencial, prevendo que a crise teria fim.
Em Miracema, com o término das férias de julho, os
estudantes retornam ao convívio no internato e na pensão da dona Julica e o tradicional
passeio das internas, de duas a duas, animam a Rua Direita. Aos sábados, José
Ferreira de Assis ligava as luzes de néon do magazine “Ao Reis dos Barateiros”.
No domingo, o Esportivo venceu o Miracema por culpa do Jair Polaca, que, ao
invés de cruzar a bola para o Parafuso cabecear e marcar os gols, preferiu, ele
mesmo, arriscar. Resultado: acabou por erra seguidamente o gol e acertar uma
pacata lavadeira do outro lado da rua, jogando-a na cacimba. Socorrida no
consultório do Dr. Moacyr Junqueira, lamentava: “Eu não sabia que o Jair
jogaria hoje, senão teria ficado dentro de casa”. Chicralla Amim, presidente do
Miracema, aborrecido com Polaca, criticou severamente o ponta-direita. Mas
Chicralla não podia repreender o Polaca, pois ele, Chicralla, passara a semana
toda sem ir em sua concessionária Chevrolet, no centro de Miracema, passando
este tempo todo acompanhando o poeta Olegário Mariano em recitais no Aero Clube
e no Rotary. E foi o Polaca quem ficou tomando conta da empresa para ele.
No sábado, o temperamental porteiro do Cine Sete,
Burú, passou com várias tabuletas na cabeça, anunciando o faroeste estrelado
por Charles Starret e o seriado do Perneta. Dizia que o Polaca entraria de
graça. Depois da fita, já alegre, de passo rápido, ainda alcança o Farid Felix
naquele passo arrastado. Bateu nas suas costas, dizendo: “O Coruja, precisa
tomar um banho”. Farid retrucou: “Não amola”. E continuou a conversar com
Fernando Moura até o seu botequim. Abriu a porta, que rangia, acendeu a luz e
ligou aquele velho rádio RCA valvulado que, cansado de ficar ligado à noite,
demorava a começar a falar. Acendeu o fogo e veio aquela cinza nos óculos, o
que o tornava ainda mais sujo, cego e surdo. E o Burú continuava falando,
rindo. Já não era mais o temido porteiro que dava corrida na garotada.
No fim de semana, Sebastião Soares da Costa, naquela “oca” do
jardim, ligava o serviço de alto falante no programa de notícias da cidade e do
Colégio. Ao som do bolero “assim se passaram dez anos”, lia as notícias fazendo
pose e puxando pelos erres. Lia “A Hora do Estudante Faltoso”. Havia alunos que
faltavam à aula só para ouvir o seu nome no programa. O Colégio tinha
um jornalzinho, fundado por Evandro Freire, intitulado “Avante”, e que tinha
como redator um aluno do curso científico, Maurício José Corrêa, que mais tarde
se tornou o todo poderoso presidente do Supremo Tribunal Federal. Maurício
José, como era conhecido, morador em Cisneiros, distrito de Palma (MG), era
magro, alto, narigudo e quem levava o jornal para a gráfica para ser impresso. Na
coluna humorística dizia que um aluno, o Edomar Vargas, tentou dar um golpe do
baú ao pedir em casamento a filha de um homem rico da cidade.
- O senhor tem emprego para sustentar a minha filha? –
perguntou o pai.
- Não, mas acredito que o senhor não vai deixar sua
filha passar fome – respondeu Edomar.
![]() |
| Maurício José Corrêa já presidente do STF. |
continua...



Corrigindo. Quem apresentava A Hora do Estudante Faltoso era eu, ás 20 h, na PM4, juntamente com o saudoso Sebastião Ferreira Couto.Como eu trabalhava na secretaria do Colégio e controlava a frequência dos alunos anotava as faltas e criei esse programa. Muitos odiavam. Passei muitos finais de semana na casa do Maurício José Correa, cujo pai era o chefe da estação ferroviária de Cisneiros
ResponderExcluirJá corrigido. Obrigado pelo esclarecimento!
Excluir