terça-feira, 19 de setembro de 2023

MARINHO PERES: UM ZAGUEIRO DE MUITA QUALIDADE

 


Mário Peres Ulibarri nasceu em Sorocaba-SP, em 19 de março de 1947. Zagueiro de muita segurança, sabia se impor pelo jogo duro, mas também se destacava pela seriedade e, principalmente, a liderança que exercia dentro de campo. Foi um dos grandes zagueiros do futebol brasileiro na década de 70. Teve uma passagem marcante pelo Internacional.


Iniciou sua carreira no São Bento, de sua cidade natal. Logo aos 20 anos despertou o interesse da Portuguesa de Desportos, onde ficou até 1971. O Santos foi seu próximo destino. Jogando ao lado de Pelé & cia conquistou o título paulista em 1973 – que foi dividido com seu ex-clube, a Portuguesa – e vestiu a camisa do Peixe em 94 jogos e marcou 5 gols.


Esteve uma temporada (1974/75) no Barcelona, da Espanha, mas retornou ao Brasil (com o apoio do clube) quando foi convocado para o serviço militar espanhol, por ter a nacionalidade daquele país em virtude de seus pais terem nascido na Espanha. Assim sendo, retornou ao Brasil para brilhar com a camisa do Internacional (campeão gaúcho e do brasileiro em 1976). Formou uma dupla de zaga inesquecível com o chileno Figueroa, até hoje muito lembrada por torcedores do Colorado.

                                                                                              Marinho e Figueroa 

Em 1978 retornou ao futebol paulista para vestir a camisa do Palmeiras. Teve bons momentos no Alviverde, mas só conseguiu o vice do brasileiro de 1978. Atuou em 72 jogos e marcou 1 gol. No início dos anos 1980, o futebol carioca foi seu destino, para defender América, onde ficou até 1981 e nesse mesmo ano encerrou sua carreira, iniciando a de técnico no mesmo clube. Trabalhou por muitos anos no futebol português e marcou sua passagem em terras lusitanas. Foi campeão da Taça de Portugal pelo Belenenses, em 1989. Comandando o Sporting, entre 1990 e 1992, foi um dos responsáveis por revelar o craque Figo. Aqui no Brasil foi técnico, além do América, de Santos, União São João de Araras, Botafogo (RJ), Juventude (RS) e Paysandu.


Participou da Copa do Mundo de 1974 e vestiu a camisa do Brasil em 15 jogos, sendo 12 oficiais e um gol marcado.  


Após sofrer um AVC, em 2019, sua saúde ficou muito debilitada. Estava há cerca de um mês internado, em Sorocaba, após uma pneumonia e complicações nos rins e no coração. O quadro se agravou depois de uma infecção urinária, quando passou a não responder mais aos medicamentos, conforme informação do ge. Marinho Peres faleceu em 18 de setembro de 2023, aos 76 anos.

 

sábado, 9 de setembro de 2023

QUEM INVENTOU O FUTEBOL?



Esta pergunta recua no tempo milênios antes de Cristo. E, no entanto, ainda não foi convincentemente respondida. A versão mais aceita aponta para a China, onde certas datas eram comemoradas com um jogo que reunia multidões. O povaréu se dividia em dois grupos que tentavam se ultrapassar chutando bolas de papel. Mais tarde a diversão foi adotada pelos romanos. E as bolas de papel substituídas por bexigas cheias de ar ou, simplesmente, pelas cabeças dos inimigos mortos em combate. A novidade chegou aos burgos da Bretanha, que a aperfeiçoaram, cuidando, antes, de civilizá-la, abolindo o uso das cabeças como bolas. Mas jogavam de forma tão brutal que nasceu, então, um slogan que marcaria o futebol por muitos anos: o de ser o violento esporte bretão. Tal violência gerava acidentes fatais, a ponto de o jogo ser proibido. Ele só reviveria muitos anos mais tarde, na Itália renascentista sob o nome de cálcio e na Inglaterra como football. Era, então, a diversão predileta de lordes e barões da Europa. Até que, em 26 de outubro de 1863, Mr. Kiburn, de Oxford, resolveu padronizar o jogo, dando-lhe regras cujas bases permanecem até hoje. A reunião foi na Old Freemanson’s Tavern, de Londres, onde foi fundada a Football Association. Foi na Football Association que regulamentou a separação do futebol e do rugby (que permite o uso das mãos). E o novo jogo ganhou, a partir de então, o nome de soccer. Futebol para os íntimos, no mundo inteiro.

 

A EXPANSÃO DO FUTEBOL PELO MUNDO

 

Começou em 1870, quando os ingleses levaram para a Alemanha e Portugal. Em 1872, chegou à França, em 1876 à Dinamarca e, três anos depois, aos Países Baixos e à Suíça. A primeira partida noturna foi jogada em 1878, num campo de Bramall Lane, em Sheffield, na Inglaterra, assistida por uma platéia recorde de 15 mil pessoas. Finalmente, em 1893, o futebol apareceu oficialmente na América do Sul, quando foi fundada a Associação de Futebol Argentina.

O Século XX chegou com a bola rolando no mundo inteiro. Aqui e ali com mais violência. Mas em alguns lugares já com uma certa esperteza. Em 12 de outubro de 1902, realizou-se, em Viena, a primeira partida entre seleções nacionais fora do Reino Unido, e a Áustria derrotou a Hungria por 5x0. A partir dali, os encontros internacionais tornaram-se comuns. Começou-se a falar, então, num organismo que controlasse as relações futebolísticas intercontinentais.  A sugestão partiu do holandês C.A.W. Hirschman e, em 13 de janeiro de 1904, foi criada, em Paris, a Fedération Internationale de Football Association (FIFA). Assinaram a ata de fundação representantes da França, Bélgica, Espanha (representada pelo Real Madrid), Suíça, Países Baixos, Dinamarca e Suécia. No ano seguinte aderiram a Alemanha, Áustria, Itália, Hungria e Inglaterra.

Em 1930, o francês Jules Rimet, eleito para a presidência da FIFA, organizou a primeira Copa do Mundo. O Uruguai foi escolhido como país-sede por ser o último campeão olímpico (1928) e comemorar o centenário da sua independência. Dali para frente o futebol transformou-se no mais universal dos esportes. Profissionalizou-se. A FIFA adotou seus próprios códigos esportivos e disciplinares.

 

O SURGIMENTO DO FUTEBOL NO BRASIL

 

Oficialmente, o futebol chegou ao Brasil, em 1894, quando Charles Miller, paulista do Brás, nascido em 1874 de pai inglês e mãe brasileira, trouxe da Inglaterra a primeira bola. Miller estudou no Benister Court School, em Southampton, onde conheceu o futebol e tornou-se um bom jogador, a ponto de chegar à seleção do Condado de Hampshire, como Center-forward.

Quando retornou ao Brasil, trouxe consigo toda a parafernália do jogo. Foi, até 1910 – quando parou – o melhor jogador do país. Depois tornou-se árbitro e, em 1914, desligou-se totalmente do esporte. Morreu em 1953, sempre no Brás. A história é contada assim. Mas há indícios de que a bola chegara até nós bem antes de Charles Miller. Em 1972, os padres do Colégio São Luís, em Itu, interior paulista, teriam organizados partidas entre seus alunos, seguindo as regras de Eton, da Inglaterra; em 1874, marinheiros ingleses teriam batido bola na praia da Glória, no Rio; e, em 1878, outros ingleses, tripulantes do navio “Criméia”, teriam disputado a primeira pelada nacional diante da casa da Princesa Isabel, também no Rio. Há referências, ainda de jogos entre funcionários da City e da Leopoldina Railway, antes do retorno do artilheiro Miller.

Mas, para os registros oficiais, foi com a sua bola e os seus uniformes que se jogou a primeira partida de futebol no Brasil, na Várzea do Campo, em São Paulo, reunindo ingleses e brasileiros da Cia de Gás, da São Paulo Railway, do London Bank, e do São Paulo Athletic Club, agremiação que, mais tarde, passou a sediar os jogos. Em 1910 o futebol já era regularmente praticado na Associação Atlética Machenzie College, no Sport Club Internacional, no Sport Club Germânia, no Clube Atlético Paulistano e no pioneiro São Paulo Athletic Club. Foram eles, que, em 1901, fundaram a liga paulista. Não eram, porém, clubes especialistas no futebol. Os primeiros, no gênero, foram o Sport Club Rio Grande, de Rio Grande, interior gaúcho, fundado em 19 de julho de 1900, por um grupo de imigrantes europeus, que buscavam implementar a prática do esporte no país, e a Associação Atlética Ponte Preta, de Campinas, fundada em 11 de agosto de 1900, por um grupo de estudantes do Colégio Culto à Ciência, que praticavam futebol no bairro da Ponte Preta, sendo, portanto, o time em atividade mais antigo do estado de São Paulo e o segundo clube mais antigo do Brasil.

No ano em que os paulistas se organizavam em liga, os cariocas conheciam a bola, por iniciativa de Oscar Cox que, como Miller, colocara material de jogo na bagagem, quando voltou dos estudos em Lausanne, na Suíça. Os cariocas começaram no Rio Cricket, de Niterói, mas andaram depressa. Já em 1901 mesmo, jogaram duas vezes com os paulistas (1 a1 e 2 a 2, em São Paulo). Em 1902 fundaram o Fluminense Futebol Clube. Outros clubes surgiram e, em 1906, disputaram o primeiro campeonato da cidade. Seis clubes participaram: Fluminense, Paysandu, Rio Cricket, Botafogo, Bangu e Football Athletic. O Fluminense conquistou seu primeiro título ao vencer o Rio Cricket por 4 a 1, na cidade vizinha de Niterói.

Em 1910 o Fluminense trouxe ao Rio o Corinthians londrino, na época, o supra-sumo do futebol inglês. Foi um sucesso. Finalmente, em 1919 – quando o Brasil ganhou seu primeiro campeonato sul-americano – o futebol já era jogado em todo o país. Mas a sua consagração internacional só começou em 1925, depois que o Paulistano foi à Europa, ganhando oito jogos e só perdendo um. A partir dali o futebol se popularizou de tal forma que, quando o Vasco da Gama, no Rio, e o Corinthians, em São Paulo, resolveram democratizá-lo, aceitando jogadores negros e operários, os elitistas não resistiram. Era a conquista das multidões. E a transformação do futebol como esporte nacional do Brasil.

O Brasil não só se transformou no futebol, como passou a formar uma constelação de craques ao longo dos anos. Chegou ao ponto máximo com a eleição de Pelé como o “Atleta do Século”.

 

Fonte: 50 anos de emoção e gol. A história da Copa do Mundo/1980.

Editor Ney Bianchi / Bloch Editores S.A.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

sábado, 2 de setembro de 2023

GUSTAVO PINTO POEYS: O VITORIOSO! - POR GISELLE PINTO POEYS

 


No dia 02 de setembro de 1972 veio ao mundo Gustavo Pinto Poeys, filho de João Batista Ranquine Poeys e Kathia Maria Pinto Poeys. Gustavo nasceu com Hidrocefalia. No entanto, brilhantemente e de forma positiva e sempre de bem com a vida, superou e supera diariamente todos os obstáculos, não apresentando, felizmente, as possíveis consequências mentais da doença, ficando apenas com uma pequena dificuldade para andar. Sua infância e adolescência foram vividas em Miracema, juntamente com seus pais e seus três irmãos, Guilherme, João e Giselle, os quais sempre o apoiaram e o trataram sem distinção. Outra presença importante foi do seu irmão do coração Luís Alberto. Luís Alberto chegou à família Poeys para cuidar de Gustavo, contribuindo muito para o seu desenvolvimento e tornando-se amigos inseparáveis. Teve apoio incondicional também dos tios Kilza e Roberto e dos avós Sebastião e Olga, Dinah e Moreno.

 

Iniciou os seus estudos no Colégio Cenecista Nossa Senhora das Graças. Um marco significativo dessa época foi que Gustavo, devido à deficiência, foi isentado de frequentar as aulas de Educação Física, porém o mesmo, educadamente, pediu ao professor que o deixasse participar, mostrando desde criança que não se sentia diferente dos demais e que obstáculos existem para serem superados. Durante o ensino médio estudou no Colégio Estadual Deodato Linhares. Nessa ocasião, começou a trabalhar no escritório João Poeys Contabilidade, de propriedade do seu pai, no qual permaneceu por três anos. Posteriormente, concluiu o Curso Técnico em Contabilidade, no Colégio Miracemense.

 

Aos 20 anos foi morar em Niterói com os irmãos no intuito de fazer Faculdade e seguir na cidade grande sua carreira profissional. Assim, na primeira tentativa, passou no vestibular para Direito da Universidade Gama Filho, tendo por inspiração o seu pai, o advogado João Poeys. Também na primeira tentativa, obteve resultado positivo no exame da OAB e, apenas dois anos após sua formação, tomou posse como Oficial de Justiça Federal – TRF 2ª Região, aos 26 anos, sendo o 6º colocado na lista dos aprovados.

 

Como Oficial, nunca gozou de privilégios e trabalha intensamente, como os demais colegas de trabalho. Soma-se ainda em seu currículo uma Pós Graduação em Direito da Integração Econômica entre União Europeia e Mercosul, pela Universidade de Coimbra conjuntamente com UNIVERSO e TRF 2ª Região, e ainda, participa de concursos públicos para Juiz Federal e Procurador da República, pois Gustavo é determinado e não desiste de seus objetivos.

 

Anualmente em suas férias, faz questão da presença dos seus pais em suas viagens. Juntos já desbravaram todas as regiões do Brasil e países vizinhos, Chile, Argentina e Uruguai. Gustavo é considerado pela família e amigos como exemplo de superação, um exemplo de autoestima e, acima de tudo, um exemplo de ser humano: íntegro, honesto, amigo, amoroso, atencioso e VITORIOSO.

 

Nota: transcrito na íntegra do Jornal Liberdade de Expressão, edição nº 196, abril/2016.

 

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

MODESTO BRIA: PARAGUAIO QUE MARCOU ÉPOCA NO FLAMENGO

 


Modesto Bria nasceu em Encarnación, no Paraguai, em 03 de agosto de 1922. Bria iniciou sua carreira no Nacional, do Paraguai, e chegou ao Flamengo em 1943, sendo peça importantíssima na conquista dos títulos carioca de 1943 e 1944. Fez o seu último jogo pelo Flamengo, por coincidência, também em setembro de 1953, atuando em 369 jogos e marcando 8 gols. Em 1954, foi vice-campeão pernambucano pelo Santa Cruz.

 

Bria fez parte de uma linha média que marcou época no Flamengo ao lado de Biguá e Jaime. No início dos anos 40 o compositor, jornalista e locutor esportivo Ari Barroso fazia um show no Teatro Nacional de Assunção, no Paraguai. Apaixonado por futebol aproveitou a sua presença na capital paraguaia e foi assistir a um amistoso da seleção da casa contra a Argentina. Ficou encantado com o jogo do apoiador, que apesar de ainda novo, já era destaque em seu país. Assim que retornou ao Brasil o compositor solicitou que a diretoria do Flamengo observasse esse jovem paraguaio, o que foi prontamente atendido.




Quando parou de jogar, em 1955, foi convidado pelo técnico Fleitas Solich, também paraguaio, para ser seu auxiliar. Sempre que o Flamengo ficava sem treinador os dirigentes recorriam a Bria. O ex-jogador exerceu o cargo interinamente em várias oportunidades. Ao todo, foram mais de 50 anos de serviços prestados ao clube carioca.

 

Em 1967, quando treinava o time juvenil, Bria foi apresentado a um menino franzino cujo apelido era Zico, levado para a Gávea pelo radialista Celso Garcia. Titubeou por conta do físico do garoto, mas permitiu que fizesse um teste. Antes do final do treino, depois de algumas belas jogadas, o futuro “Galinho de Quintino” já havia impressionado a todos. O restante da história todo mundo conhece.

 

Modesto Bria faleceu aos 74 anos, em 30 de agosto de 1996, na capital carioca, vítima de uma esclerose.

 

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

CLAUDIOMIRO: O "BIGORNA" COLORADO

 


Claudiomiro Estrais Ferreira nasceu na capital gaúcha em 03 e abril de 1950.  Era conhecido como Bigorna por conta de seu peso, mas isso não o impediu de fazer grandes exibições com a camisa do Internacional. Baixinho, escapava sempre em alta velocidade, ajeitando a bola para o pé direito, ou o esquerdo, antes de soltar a bomba. Claudiomiro foi o dono absoluto da camisa 9 do Colorado entre 1967 e 1973. 


Após 424 jogos e 210 gols marcados defendendo o time gaúcho, ainda jogou por Botafogo (RJ), Flamengo (5 jogos entre maio e julho de 1976), Caxias e Novo Hamburgo. Em 1979, retornou ao Internacional para encerrar a carreira, abreviada pela luta contra o sobrepeso e um problema crônico no joelho mal operado. 


Claudiomiro foi o autor do primeiro gol do Beira-Rio, no jogo inaugural contra o Benfica, de Portugal, na vitória de 2 a 1, em 06 de abril de 1969. Claudiomiro chegou ao Inter com apenas 13 anos. Estreou nos profissionais com 16 anos, e tinha 18 quando fez o histórico gol contra o Benfica de Portugal, na inauguração do Gigante, em 1969. Fez parte, no início da carreira, de um ataque que tinha outros jogadores jovens - como Sérgio, Dorinho e Bráulio.


Além de suas ótimas características como centroavante, era também um excepcional cavador de pênaltis. Sempre em alta velocidade, ajeitando a bola para o pé direito - ou o esquerdo - antes de soltar a bomba, Claudiomiro foi o dono absoluto da camisa 9 do Internacional entre 1967 e 1973. Foi Hexacampeão Gaúcho entre 1969 e 1974. Com os 210 gols marcados, é o terceiro maior artilheiro do Colorado, ficando atrás apenas de Carlitos (485) e Bodinho (235).


Seu nome chegou a ser cogitado pelo técnico João Saldanha, da Seleção Brasileira, durante as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970. Fez 5 jogos oficiais e marcou um gol pela Seleção, todos em 1971.


O ex-jogador tinha 68 anos quando foi encontrado sem vida em sua residência, na cidade de Canoas, no interior gaúcho, em 24 de agosto de 2018.

terça-feira, 8 de agosto de 2023

O SOBERBO ADEMIR MENEZES – POR GERALDO ROMUALDO DA SILVA

 


Nota: crônica transcrita do Jornal dos Sports, de 08 de novembro/1992, homenageando o Queixada no seu aniversário de 70 anos. Ademir faleceu em 11 de maio de 1996, aos 73 anos.

 

Seus números dentro de campo comprovam que não é para qualquer mortal. Mas, esperem, não é somente esse fantástico recorde, que atesta a miraculosa força atlética e todo o genial talento desse nosso caro e mitológico Ademir Marques de Menezes, em seus venturosos, às vezes, também atribulados e sofridos anos de profissionalismo de vintém.

 

De pique direto, fulminante velocidade e precisão absoluta nos arremates, geralmente por baixo e penteando a grama, quem foi melhor do que ele? Pode parecer até delírio de saudosismo. Mas não é nada disso. Querem ver só? Pessoalmente, tenho visto, ao longo de tantos temporais, aqui e fora, atacantes da mais fina qualidade, possuidores de extrema mobilidade e rushs fatais. Nenhum deles, porém, com o sendo de equilíbrio, a bem dotada noção do momento da explosão e o inacreditável poder de fogo, para fazer a coisa certa. Dir-se-ia o próprio imponderável. Mas, pagou caro tributo. Com seguidas fraturas de demorada recuperação e a sagrada intimidade maculada pelos alvoroçados caçadores de escândalo, que por aí também já existiam.

 

Produto da vitoriosa geração que nos deu Zizinho, nascido e moldado pelo inquieto uruguaio Ricardo Diez, técnico do campeoníssimo Sport Club do Recife, eis que esse fogoso Ademir, após exaltado sucesso pelos estádios do Sul – Rio, São Paulo e Minas –, transforma-se, de repente, em alvo da cobiça de dois pretendentes gananciosos, mas irreconciliáveis: Vasco e Fluminense. Ele até que teria sido mais balançado pelo Fluminense, ainda de Ondino Vieira, que o queria a todo custo, tanto que nele via a mais expressiva descoberta de sua carreira.

 

No entanto, mais esperto e valendo-se da preguiçosa indefinição dos parvos cartolas tricolores, coube-lhe, por destino, os ares mais promitentes de São Januário, para alegria e ufanosa realização do pai e empresário, “Seu” Menezes, o sempre sorridente e lépido “Muriçoca”. E, é claro, porque a grana cruzmaltina era muitíssimo mais generosa. Vem daí, o seu desabrochar para a glória. Como a de afirmar-se artilheiro, sem rival em sul-americanos memoráveis (média de 13 gols). Mais a honra de ser o primeiro, no Mundial de 50, e herói de nada menos de 54 gols em 49 partidas, unicamente, ao curso de 1949.

 

Com Tesourinha, Zizinho, Heleno e Jair Rosa Pinto, vestiu a camisa 11 (só porque não podia ficar fora do bolo de gente tão especial), soube sempre se apresentar com soberba e digna atuação, durante o torneio continental de Santiago do Chile, em 1945. Nos pés e a cada desafio, a marca inconfundível do irresistível rocketing the Ball.

 

De outra feita, agora por influência e clamor de Gentil Cardoso, terminou por bater às portas do Fluminense. O Fluminense – lembram-se – não passava de um risível timinho, a torcida já impaciente à espera do milagre de uma vitória que não vinha nunca. Foi quando ocorreu a Gentil soltar uma de suas tiradas – neste episódio, a que mais e melhor definiu a magia desse craque de mil travessuras com a redonda: - “esse Ademir é só o que nos falta para sairmos de todo o nosso sufoco!” E gritou, profético e temerário:

- Deem-me Ademir e eu vos darei o campeonato.

 

Os que suponham que se tratasse de mais uma potoca do velho marinheiro, quebraram a cara. E não é que aquele time tomou jeito e que, jogando com também Pedro Amorim, que sempre sabia das coisas e fazia gols, ficou com o título. O Fluminense inteiro do pernóstico tênis à vaidosa natação, cantou vitória o ano inteiro. Enquanto Gentil, na sua doce sombra, sorria e falava, de coração aberto:

- Ah, meu craque Ademir! Devemos tudo a ele!

 

E era a mais pura e santa verdade. A mais e eloqüente sincera manifestação de humildade do velho sábio, matreiro e milagroso Preto Velho.

 

 

domingo, 6 de agosto de 2023

ORLANDO: O "PINGO DE OURO"

 


Orlando de Azevedo Vianna nasceu na capital pernambucana, em 04 de dezembro de 1923. Orlando Pingo de Ouro foi um meia talentoso, veloz e ótimo finalizador. Outra de suas características era a facilidade que possuía de deixar os companheiros na cara do gol. Orlando era franzino, bem diferente dos atacantes de sua época, a maioria de físico privilegiado. Por isso recebeu o carinhoso apelido de “Pingo de Ouro”.


Um dos mais habilidosos jogadores de sua geração, esse pernambucano marcou época defendendo o Fluminense – de 1945 a 1954 – anotando 190 gols em 308 jogos, sendo 286 partidas iniciando como titular. É o terceiro maior artilheiro da história do Tricolor, perdendo apenas para Waldo e Fred. Foi campeão carioca em 1946 e 1951, e da Copa Rio de 1952. 


Começou no Náutico (campeão pernambucano em 1945), e depois do Fluminense atuou no Santos – breve passagem, Atlético (bicampeão mineiro em 1954/55), Canto do Rio e Botafogo, onde encerrou a carreira em 1956. Vestiu a amarelinha em 3 jogos e marcou 2 gols, em 1949, na conquista do Sul-Americano.


Morreu na capital carioca, aos 80 anos, em 05 de agosto de 2004, de insuficiência cardíaca.  

segunda-feira, 24 de julho de 2023

MAZZOLA: ÍTALO-BRASILEIRO COM UMA HISTÓRIA MARCANTE NO FUTEBOL

 


Paulista de Piracicaba, onde nasceu em 24 de julho de 1938, José João Altafini, o MAZZOLA, é, provavelmente, um dos brasileiros de maior sucesso em gramados do futebol italiano. Filho de pais italianos, Altafini, através do futebol, voltou à terra dos pais para se consagrar. Não sem antes se tornar ídolo também no Brasil, precisamente defendendo as cores do Palmeiras, onde marcou 85 gols em 114 jogos.


Atacante oportunista, rápido na área e de chute muito forte, bastaram pouco mais de dois anos, entre janeiro de 1956 e abril de 1958, para ele ser reconhecido como um dos grandes ídolos palmeirenses em todos os tempos. Com a alcunha de Mazzola (pela semelhança física com o craque italiano Valentino Mazzola), é um dos maiores artilheiros da história do campeonato italiano, com 216 gols em 459 jogos.


Após ser campeão do mundo em 1958, pelo Brasil (foi o autor do primeiro gol brasileiro naquela Copa, contra a Áustria), disputou a Copa do Mundo de 1962, no Chile, defendendo as cores da Itália. Ele seria convocado novamente para 1962, mas por questões políticas da época, ele não foi. Por ser neto de italianos, Altafini é também cidadão italiano. Assim, jogou aquele mundial pela “Squadra Azzurra”, como José João Altafini, ao invés do antigo apelido Mazzola. Assim ele definiu esse chamado italiano: "É muito simples. Naquele tempo, o Brasil não chamava quem jogava no exterior. Ninguém. Estava na Itália e não seria chamado. Eu, com 23, 24 anos, ficaria muito chateado se perdesse um Mundial”.


Depois de encerrar a carreira fixou residência em solo italiano e virou comentarista de TV.  

Sua carreira:

Clubes: Clube Atlético Piracicabano, Palmeiras (1956-58), Milan (1958-65), Nápoli (1965-72), Juventus (1972-76), Chiasso (1976-79) e Mendrisio (1979-80), os dois últimos da Suíça.

Seleção Brasileira: 11 jogos e 8 gols, sendo 8 jogos oficiais e 4 gols.

Seleção Italiana: 6 jogos e 5 gols.

Títulos: 4 Campeonatos Italianos (1959, 1962, 1973 e 1975), 1 Liga dos Campeões (1963) e 1 Copa do Mundo (1958)

ZÉ CARLOS: O "ZÉ GRANDÃO"

 


José Carlos da Costa Araújo nasceu na capital carioca em 07 de fevereiro de 1962. Entre os anos de 1986 e 1991, ZÉ CARLOS foi o goleiro titular do Flamengo. Apesar de nunca ter sido uma unanimidade entres os torcedores, teve bons momentos defendendo o clube e conquistou títulos. Fez sua carreira de sucesso praticamente no time rubro-negro. Foi campeão carioca em 1986, 1991 e 1996 (sendo 91 e 96 como reserva), campeão brasileiro em 1987 e da Copa do Brasil em 1990. Defendeu o Flamengo em 354 jogos, sofrendo 264 gols.


Atuou também no Americano (RJ), Rio Branco (ES), Cruzeiro, Vitória de Guimarães, Farense, Felgueiras (os três últimos de Portugal), Vitória (BA), XV de Piracicaba (SP), América (RJ) e Tubarão (SC), onde encerrou a carreira em 2000.


Pela Seleção Brasileira foi campeão do Pré-Olímpico em 1987, da Copa América em 1989, e participou da Copa do Mundo de 1990, sendo um dos dois goleiros reservas. Participou também das Olimpíadas de Seul, em 1988, conquistando a medalha de Prata. Defendeu o Brasil em apenas 3 jogos oficiais e sofreu 1 gol.


Morreu novo, aos 47 anos, no Rio de Janeiro, em 24 de julho de 2009, vitimado por um câncer no abdômen. Antes de adoecer acompanhava o time Master do Flamengo em jogos festivos por todo o Brasil. Em uma de suas aparições aqui por Miracema, tive o prazer de trocar algumas palavras e ele foi muito solícito.

domingo, 23 de julho de 2023

ZÉ DUARTE: O "ZÉ DO BONÉ"

 


José Duarte nasceu em Campinas-SP, em 19 de outubro de 1935. O "Zé do Boné”, como era carinhosamente conhecido, dirigiu Guarani, Ponte Preta e muitos outros times do interior paulista. Treinou também o Santos, Cruzeiro, Fluminense, Internacional, Bahia, Atlético (campeão paranaense em 1990), entre outros clubes brasileiros.


Zé Duarte ganhou reconhecimento da torcida da Ponte Preta em 1969, com a recondução do clube à divisão principal do futebol paulista, após nove anos na divisão inferior. Zé do Boné parecia predestinado a fazer sucesso na Ponte. Foi assim em 1977 e 79, quando levou o time às finais do Campeonato Paulista e foi vice-campeão. No Guarani foi campeão da Série B em 1981. É considerado por muitos um dos maiores treinadores da história do futebol de Campinas. Com o União São João de Araras foi campeão da Série C em 1988.


Ele comandou nomes de destaques do futebol brasileiro, entre eles, Dicá, Neto, Careca, Jorge Mendonça, Ailton Lira, Oscar e Julio César. De jeito simples e ao mesmo tempo com grande conhecimento tático, ele conquistava a confiança de seus atletas. E quando era tido como acabado para o mundo da bola, em 1995 “renasceu das cinzas” no comando da Seleção Brasileira de Futebol Feminino. Pacientemente, ensinou as meninas e o fruto do trabalho foi o quarto lugar nos Jogos Olímpicos de Atlanta, de 1996.


Zé Duarte faleceu em Campinas-SP, aos 68 anos, em 23 de julho de 2004. Foi um vencedor de desafios e deixou um histórico de profundo conhecedor dos meandros do futebol dentro e fora de campo.

 

quinta-feira, 20 de julho de 2023

O ALÇAPÃO ESTÁ ARMADO – NOSTALGIA GERAL NO CAMPEONATO CARIOCA DE 1977

 


Nota: reportagem da revista Placar edição 361/77.  Não consta o autor da matéria.

 

Após dez anos os grandes vão ter de enfrentar os pequenos também em seus estádinhos. E fora do Maracanã o sarrafo é mais embaixo. É a volta dos tempos em que ser campeão carioca exigia, além de bom futebol, um espírito de luta que o grande estádio já estava matando.

 

 A revolução na tabela do Campeonato Carioca e na política da federação está enchendo de esperança os torcedores – eles existem – dos pequenos clubes. Enquanto percorre as obras do novo campo do Olaria, o diretor Edmundo dos Santos chega a ficar com os olhos brilhantes:

- No segundo turno, o time que a gente enfrentar na casa deles vai ter de jogar aqui, grande ou pequeno. Até a tal da tabela dirigida, Campeonato Carioca tinha mais graça, tinha mais sabor. E a gente justificava mesmo a fama de que Bariri era um alçapão, uma armadilha para os grandes.




Clube organizado, com quatro piscinas, sauna, belo salão de festas, concentração refrigerada, duas nutricionistas para cuidar da alimentação dos atletas e cuidados médicos como poucos grandes têm, o Olaria espera agora repetir façanhas como a de 1947, quando venceu o Fluminense de Píndaro e Pinheiro, ou de 1948, quando ninguém sabe como 30 mil pessoas entraram no estádio para ver o supertime do Vasco.

- Quem não conseguiu lugar – conta o velho porteiro do clube – subiu em dois vagões de boi, no ramal ferroviário que passava aqui atrás do campo para o Curtume Carioca, para ver um pedaço do campo na ponta dos pés. Mr. Barrick, um juiz inglês, só começou a partida quando chegaram dois choques da polícia especial, chefiados por Mário Vianna.

 

Ali perto, ma rua Teixeira de Castro, também junto aos trilhos da Estrada de Ferro Leopoldina, o estádio do Bonsucesso também já viveu seus dias de glória. Pode até ser considerado um bom estádio, com capacidade para mais de 20 mil pessoas, gramado melhor que o de São Januário e iluminação que só perde para o do Maracanã.

- No entanto – diz o torcedor Fuad Bunain -, nesses últimos dez anos o Bonsucesso não jogou uma dezena de vezes aqui contra times grandes. Dirigi o Bonsucesso e por ele perdi uma loja, tive títulos apontados, sofri o diabo. Para dirigir clube pequeno o cara tem que ser vaidoso ou maluco. Fui os dois, mais maluco que vaidoso.

 

Agora, no entanto, voltas as esperanças de que não seja necessário nem vaidade nem insanidade para formar no Bonsucesso grandes equipes como as de 1955 e de 1968/69.

 

Claro, a simples mudança na tabela e dos ventos políticos não vai conseguir salvar os pequenos clubes da noite para o dia. Por exemplo: quem vai hoje ao São Cristóvão não consegue vislumbrar solução para o clube. Cercado de indústrias e situado exatamente sob o viaduto que ligará o campo de São Cristóvão à Avenida Rodrigues Alves, o estádio não oferece a menor condição para jogos oficiais de futebol.

- Quem te viu e quem te vê – lamenta o conselheiro Benito Rodrigues. – O São Cristóvão que já foi grande, que já foi campeão carioca, hoje vive de lembranças. .

Lembranças como a vitória de 6 a 2 sobre o Vasco, em 1943, no estadinho superlotado – “superlotado pela nossa torcida, pois s vizinhos vascaínos não tinham nem coragem de vir até aqui”.

- Antigamente, era preciso mais que jogar bola para vencer aqui; era preciso ter um time de machos. Agora não precisa nem jogar bola nem ser macho. Na verdade, não precisa nada: o futebol morreu em Figueira de Melo. Aqui não dá mesmo para jogar.

 

A Portuguesa tem menos memória. Fundada em 1924, só 34 anos depois passou a disputar o futebol carioca – e só em 1962 conseguiu campo próprio, comprando as instalações do hipódromo que funcionou fugazmente na Ilha do Governador. Tem boa arquibancada, muito espaço, segurança. A única ameaça, lá, era o que os locutores de rádio chamavam de ventos uivantes, que sopravam do mar para a terra e realmente carregavam a bola.

- Nem vento tem mais aqui – garante o diretor Antônio Fernandes. – Cortaram o morro aí do lado e acabou o vento encanado.

 

Também o Campo Grande não tem tradição no futebol carioca – só entrou no Campeonato Carioca quando o Canto do Rio foi afastado, depois da transformação do Distrito Federal em Estado da Guanabara. E lamenta que a Federação tenha vetado o estádio Ítalo Del Cima para jogos contra os grandes clubes.

- Pretendíamos investir 400 mil cruzeiros na iluminação do estádio, mas assim não dá para tirar o investimento. Pedimos as arquibancadas do carnaval, mas o prefeito Marcos Tamoio negou. Vamos ver como é que fica. Pelo menos agora a gente está com mais poder político na Federação – diz o presidente Ilídio Ferreira.

 

O Madureira tem a mesma queixa. O tradicionalíssimo alçapão de Conselheiro Galvão também foi aprovado para os jogos contra os grandes – e, pior, o clube não tem dinheiro para melhorar o estádio.

- De tanto jogar no Maracanã a troco de migalhas, empobrecemos de vez – lamenta o vice-presidente Orestes Araújo. – Além do mais, os comerciantes daqui nos abandonaram. Antigamente isto aqui era uma verdadeira família, todo mundo unido. Agora, Madureira é uma cidade, e os comerciantes moram na zona sul, na beira da praia.

 

segunda-feira, 17 de julho de 2023

PALHINHA: SINÔNIMO DE RAÇA E GOL POR ONDE JOGOU

 


Vanderlei Eustáquio de Oliveira, o PALHINHA, nasceu em Belo Horizonte-MG, em 11 de junho de 1950. Atacante ágil e habilidoso, bom passe e facilidade para servir os companheiros. Fazia gols com muita facilidade e sempre demonstrou muita raça por onde jogou. Foi um dos grandes parceiros de Sócrates, quando atuaram pelo Corinthians, entre os anos de 1978 e 1980. Palhinha chegou ao Corinthians em 1977.


Deixou o seu nome marcado na história do Cruzeiro, onde iniciou a carreira e marcou 156 gols em 457 jogos (campeão mineiro em 1969, 1972/73/74/75, 1984, e da Taça Libertadores em 1976). Foi um dos destaques do Cruzeiro na conquista Continental, quando marcou 13 gols em 10 jogos.


No Corinthians também deixou sua marca com 44 gols em 148 jogos (campeão paulista em 1977 e 1979). Atuou também no rival Atlético (bicampeão mineiro em 1980/81), Santos – 51 jogos e 11 gols, Vasco – 11 jogos (campeão carioca em 1982) e América (MG), onde encerrou a carreira em 1985.  


Vestiu a camisa do Brasil em 18 jogos e marcou 6 gols, sendo 15 oficiais e 6 gols. Não teve a oportunidade de disputar uma Copa do Mundo.


Palhinha faleceu em 17 de julho de 2023, aos 73 anos, após ficar internado para tratar de uma infecção, na capital mineira.

BALTAZAR: O ARTILHEIRO DE DEUS



Baltazar Maria de Morais Júnior nasceu em Goiânia no dia 17 de julho de 1959. Atacante oportunista, muito perigoso dentro da área. Estava sempre no lugar certo, na hora certa. Chutava bem e cabeceava melhor ainda. Ficou conhecido como o “Artilheiro de Deus”, pois era um religioso assumido e comemorava seus gols apontando para o céu.


Com o mesmo jeito tímido com que dava entrevistas, ele entrava na área como quem não quer nada e, apesar de alguns gols incríveis que invariavelmente perdia, sempre deixava pelo menos uma lembrança para o goleiro adversário. Assinalou mais de 400 gols ao longo de sua carreira. A explosão de Baltazar no cenário nacional ocorreu em 1981, quando o Grêmio conquistou seu primeiro título brasileiro.




Começou no Atlético Goianiense e de cara foi o artilheiro do estadual de 1978, com 31 gols marcados. Posteriormente seguiu sua carreira no Grêmio – 130 gols (bicampeão gaúcho em 1979/80, e campeão brasileiro em 1981), Palmeiras – 70 jogos e 25 gols, Flamengo – 47 jogos e 23 gols (campeão brasileiro em 1983), Botafogo – 26 gols, Celta/Espanha – 42 gols, Atlético de Madri/Espanha – 54 gols, Porto – 3 gols (bicampeão da Taça de Portugal em 1990/91), Rennes/França – 13 gols, Goiás – 57 gols (campeão goiano em 1994) e Kyoto Purple Sanga/Japão – 28 gols.


Foi marcante sua passagem pelo futebol espanhol. Em 1986, ficou na liderança da artilharia da segunda divisão, defendendo o pequeno Celta de Vigo. Em 1989, já no tradicional Atlético de Madrid, repetiu a dose, na primeira divisão, marcando impressionantes 35 gols, até então, um recorde da Liga da Espanha.


Mesmo tendo sido artilheiro de várias competições ao longo da carreira, além das inúmeras passagens por grandes clubes e pelo futebol internacional, Baltazar teve poucas chances na Seleção Brasileira. Vestiu a camisa do Brasil em 7 jogos, assinalando 3 gols, sendo 6 jogos oficiais e 2 gols.

  

sexta-feira, 14 de julho de 2023

MANECA: O TRISTE FIM DE UM CRAQUE DO EXPRESSO DA VITÓRIA

 


Manuel Marinho Alves, o Maneca, nasceu em Porto da Barra-BA, em 28 de janeiro de 1926. Foi um meia/atacante de uma habilidade fora do comum, farto repertório de dribles curtos e rápidos que enlouquecia os marcadores. Passes e lançamentos precisos, movimentação constante. Fez parte do grande time do Vasco, o “Expresso da Vitória”. Na sua posição, está entre os melhores da história do clube. Foi descoberto por um olheiro do Vasco em fins de 1946. No ano seguinte, era campeão carioca invicto.


Teve um triste final de vida. Propenso a sofrer crises de depressão, tentou o suicídio ingerindo forte dose de um corrosivo, em 28 de junho em 1961. Foi socorrido pela noiva e agonizou durante dias em um hospital do Rio de Janeiro, vindo a falecer em 14 de julho, aos 35 anos. Apurou a imprensa, à época, que o motivo que levou a decisão violenta de Maneca foi a notícia de que sua mãe estava gravemente enferma.


Atuou no Galícia (BA), Vasco – 325 jogos e 142 gols (campeão carioca em 1947/49/50 e 52, e do Sul-americano em 1948), Bahia (campeão baiano em 1954) e Bangu, com apenas 4 jogos.


Participou da Copa do Mundo de 1950. Vestiu a camisa do Brasil em 7 jogos, sendo 6 oficiais e 2 gols.

terça-feira, 27 de junho de 2023

2ª DIVISÃO DO RIO – AS AVENTURAS DE QUEM SONHA COM O MARACANÃ

 

Campo do Rio Branco

Nota: reportagem da revista Placar de 30/08/1985, assinada por Armando Calvano e fotos de Rodolpho Machado

 

Um louco futebol: em campo, Brigite Bardot, carneiros, galos de briga...

 

Menos de um mês depois de disputarem a final da Taça Ouro pelo Bangu, na semana passada os atacantes Pingo e Lulinha sentiram o chão sumir sob seus pés. O patrono do vice-campeão nacional, Castor de Andrade, informou que o Campo Grande, de quem o Bangu emprestara os dois jogadores no início da temporada, estava pedindo 600 milhões de cruzeiros por seus passes em definitivo. Castor não estava disposto a desembolsar tanto e, assim, eles teriam de voltar a seu clube, que disputa a Segunda Divisão do Rio de Janeiro.

Pingo não se conformou, Lulinha chegou a dizer que nesse caso preferia ficar sem clube. Voltar à Segundona, nunca! Ao contrário do que acontece em sua similar paulista, que ocupa o terceiro lugar em volume de arrecadações no país, a divisão de acesso fluminense representa para os craques mais ambiciosos uma espécie de calabouço, onde estão condenados ao exílio perpétuo dos grandes espetáculos do futebol que costumam acontecer perto dali, no Maracanã – palco que todos sonham em pisar. Povoado por dirigentes doidamente apaixonados por seus times, jogadores que se cruzam em início e fim de carreira, repleto de cenas inimagináveis numa estrutura que apesar de tudo preserva o profissionalismo. O campeonato representa por tudo isso um universo rico e fascinante. Uma espécie de folclore vivo e em permanente criação.

 

Sentado num apodrecido banco de madeira no vestiário, o atacante Zé Neto reclamava com o massagista: “Manfrini, cadê a toalha quente? Tá na hora de fazer o tratamento no joelho”. Manfrini pediu paciência: “Espera um pouco que a água está esquentando lá fora”.

Junto à entrada do vestiário, quatro tijolos sustentavam uma velha chaleira com água até a boca. No meio, ardiam alguns gravetos. Em 15 minutos, a água começou a borbulhar. Estava no ponto para umedecer a toalha desbotada. Mas logo o tarimbado massagista – dez anos de dedicação ao Rio Branco, de Campos, a terra do petróleo e da cana-de-açúcar no interior fluminense – viu-se às voltas com outro problema insólito: “A bola, cadê a bola?”, pediam os jogadores, já de roupa trocada, no centro do campo do Ypiranga.

“É mesmo, a bola...” deu-se conta Manfrini. Abriu o armário, pegou uma velha bola – mais desbotada que a toalha sobre o joelho de Zé Neto – e deu início a um sofrido movimento de vaivém na bomba de pneu de bicicleta para poder enchê-la a gosto do time. Terminado o cansativo trabalho, quicou-a três vezes antes de lançá-la por cima do alambrado para os ansiosos jogadores.

 

SAUDADE DAS MORDOMIAS

 

É assim a Segunda Divisão Profissional do Rio de Janeiro. Já indo para a terceira rodada do segundo turno, a maioria dos clubes faz o diabo para sobreviver, com média de 200 torcedores, rendas máximas de 1,5 milhão de cruzeiros e três salários mínimos mensais para os maiores craques. O primo mais pobre desta família é, sem dúvida, o Rio Branco de Campos.

Em sua bela casa próxima ao campo do Goytacaz, outro clube da cidade, o presidente de honra e tesoureiro do Rio Branco, Clóvis Arenari, tenda explicar a situação: “Como vivemos? Isso é muito simples, meu filho: nosso coração é rosa e preto (as cores do clube). Faltou dinheiro, eu, o presidente do clube, e mais uns três amigos, metemos a mão no bolso”, diz ele enquanto afaga a cabeça de um galo de briga, um dos 50 que cria nos fundos da casa. Mas o clube diversifica sua política econômica. Há um mês, a direção colocou à venda 7.000 títulos do Rio Branco e garante que 6.500 foram vendidos. O sucesso fulminante da promoção está intimamente ligado à surpreendente campanha do time, que ocupa a segunda colocação no campeonato.

Além dos artilheiros Cacholinha e Arroz, um jogador das Arábias é considerado o maior responsável por essa façanha: o zagueiro William, que começou a sua carreira no Fluminense e, de 1981 a 84, faturou cerca de 2.000 dólares por mês no Catar. Hoje, no Rio Branco, Willim lamenta que os árabes tivessem proibido os estrangeiros de atuar na região: ganha, o câmbio atual, 70 dólares por mês (menos de 500 cruzeiros) no clube campista. “Vivo de economias, meu irmão. Naquela mordomia lá dos árabes eu não gastava nada e deu para juntar um dinheirinho. Ainda bem, né?”




De Campos a Cabo Frio são mais de 2 horas de estrada.  Lá, à beira da praia e em meio a turistas que vêm do Brasil e do mundo, atraídos pelas areias alvíssimas e o mar transparente da região, fica a Associação Atlética Cabofriense, que divide a segunda colocação com o Rio Branco. E a situação se torna curiosa na medida em que a Cabofriense é o primo rico da competição.

O prefeito Alair Correia, do PMDB, certo de que no futebol encontraria uma fonte de divisas para a região, resolvei investir forte na Cabofriense. Reuniu um grupo de comerciantes da região e, assim, obteve uma receita mensal de 50 milhões de cruzeiros. Com isso, o supervisor Carlos Alberto Galvão, o “Katuca”, que já trabalhou em vários clubes grandes do Rio, pôde sair à cata de reforços. Transformou a Cabofriense numa espécie de filial do Bangu, que, por intermédio de Castor de Andrade, cedeu sete jogadores, entre eles Totonho e Marcelinho, que chegaram a ser titulares do time de Moça Bonita. Para completar a equipe, três veteranos: Paulo Verdum (ex-Botafogo), Sérgio Lima (que jogou no América do Rio, no Guarani de Campinas e no México) e Luís Paulo, (ponta-esquerda, 35 anos, que quando jogava no Flamengo, mereceu exagerados elogios de Pelé).

 

UM TRAMPOLIM

 

De Cabo Frio, ficou na equipe apenas o centroavante Val, 18 anos, considerado a maior revelação da cidade em todos os tempos. O técnico Hamilton está satisfeito. Estudioso do futebol, também com passagem pelo futebol árabe após ter-se diplomado em Educação Física, ele considera inviável a estrutura dos clubes da Segunda Divisão.

“O certo seria os times se preocuparem em revelar novos valores em vez de aproveitar os jogadores mais veteranos. Veja bem: não estou contra nenhum deles que joga aqui na Cabofriense. Eu gostaria somente que o futebol brasileiro fosse olhado de uma outra maneira, não tão imediatista. Os clubes da Segunda Divisão poderiam ser o trampolim para os jovens, ou seja, aqueles que estouram idade de juniores no Vasco, Flamengo, Fluminense, e não são aproveitados.”

No alta da serra, em Nova Friburgo, a 137 km do Rio, o técnico da Friburguense, Paulo Massa, companheiro de faculdade de Hamilton, pensa da mesma forma. E é apoiado pelo presidente Felippe Deccache, um industrial bem-sucedido da região, que não tem o menor interesse de transformar agora a Friburguense num grande clube.

“Vou contar uma verdade para você: nós nem íamos disputar esse campeonato de 1985. Só entramos mesmo porque o CND baixou aquela norma de que quem não jogasse seria rebaixado para a Terceira Divisão. Montei nosso time em um mês”, disse Deccache.

Impávido, segue à frente de todos o Campo Grande, líder absoluto da Segunda Divisão, que, se não consegue seduzir de volta seus craques Lulinha e Pingo, já tem quase a certeza que voltará a jogar, no ano que vem, contra os grandes do futebol carioca. Apesar das baixas arrecadações, o clube consegue se manter em boa situação graças à sua alta arrecadação social de clube de porte na zona rural carioca.

O Serrano, de Petrópolis, e o Mesquita, da Baixada Fluminense, também vivem, aos trancos e barrancos, da receita de seu pequeno quadro social. Ruim mesmo está a situação para São Cristóvão e Madureira, mal colocados na tabela de classificação.  Os dois, além de terem perdido quase todos os associados nos últimos anos, mal conseguem pagar as despesas do time. Como o Nacional de Caxias, cujos jogadores ganham mensalmente o equivalente a um salário mínimo. O Nacional é o último colocado. Até agora, só conseguiu dois pontos.

Mas especialmente triste é a situação do São Cristóvão. Clube de tradição no futebol carioca, com um título estadual conquistado na década de 30, hoje corre o sério risco de cair até para a Terceira Divisão, tal a fragilidade de sua equipe. O velho estádio de Figueira de Melo está praticamente abandonado e já houve jogos neste da Segunda Divisão em que apenas 20 torcedores foram ver. Para se ter uma ideia, seu jogador mais experiente – Albéris – ganha 370.000 cruzeiros por mês, pouco mais que o salário mínimo.

Sumiram até os quatro carneiros que passavam o dia a comer a grama do campo. Ninguém sabe dizer nas panelas de quem foram colocados. Sumiram, como pode acontecer com o São Cristóvão qualquer dia desses.

Assim vai a Segundona, fazendo o que pode para não desaparecer e, se possível, chamar a atenção. Em setembro, a Cabofriense vai estrear uma nova camisa, com um desenho da Brigitte Bardot no lado direito do peito. É uma homenagem à BB, que tornou conhecida internacionalmente a vizinha Búzios, distrito de Cabo Frio, ao passar, 20 anos atrás, umas férias ali com seu namorado argelino, criado no Brasil, Bob Zagury. Aliás, onde foi parar esse também?

 

Minhas considerações:

 

O Campeonato Estadual da Segunda Divisão de 1985 foi disputado pelas seguintes agremiações:

Associação Atlética Cabofriense, de Cabo Frio

Campo Grande Atlético Clube, do Rio de Janeiro

Friburguense Atlético Clube, de Nova Friburgo

Madureira Esporte Clube, do Rio de Janeiro

Mesquita Futebol Clube, de Nova Iguaçu

Nacional Foot-Ball Club, de Duque de Caxias

Clube Esportivo Rio Branco, de Campos

Royal Sport Club, de Barra do Piraí

Rubro Atlético Clube, de Araruama

São Cristovão de Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro

Serrano Futebol Clube, de Petrópolis

Esporte Clube Siderantim, de Barra Mansa

 

Foram promovidos ao final do campeonato o Campo Grande (campeão) e Mesquita (vice-campeão) para os lugares dos rebaixados Bonsucesso e Volta Redonda.