sexta-feira, 1 de julho de 2016

ORIOVALDO RANGEL: MAIS UM MIRACEMENSE DE DESTAQUE NO JORNALISMO



Texto do site da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), de setembro de 2012, mês e ano em que morreu o jornalista miracemense Oriovaldo Rangel.

Afastado há anos de atividade na imprensa, o jornalista Oriovaldo Rangel faleceu em 12 de setembro de 2012, em Niterói, onde se radicara desde jovem. Ori, como era chamado pelos amigos, trabalhou no diário “Imprensa Popular”, no começo dos anos 50, na “Última Hora” de Samuel Wainer e na Agência Fluminense de Informações, órgão do Governo do antigo Estado do Rio.

Sobre ele o jornalista Pinheiro Júnior, Conselheiro da ABI, fez comovida crônica sob o título “Oriovaldo podia ter esperado um pouco. Nós íamos fazer o seu perfil”, a seguir transcrito:

“Trabalhamos juntos na velha e atribulada UH. Ele como redator de Esportes. Cobria o Flamengo. Era 1958. Vez por outra nos esbarrávamos na redação da Geral. Sabia que ele tinha vindo da Imprensa Popular, onde contou que entrou em 1953 para fazer tudo ou quase tudo na redação do órgão superesquerdista que só faltava ter a foice e o martelo junto ao logotipo. 

Apesar de sermos vizinhos de bairros em Niterói, não o via com muita frequência na Ultima Hora da Sotero dos Reis, pois talvez ele passasse às carreiras pela redação principal, que era a redação-corredor-de-trânsito da Reportagem Geral. 

Muito tempo depois – o jornal já empastelado e incendiado pelos paramilitares em 1964 e depois comprado em 1972 pela própria ditadura – encontrei Oriovaldo Rangel, o Ori, no Sindicato - RJ, quando ambos integramos nos anos 2000 as seguidas chapas encabeçadas por Sílvio Paixão e por Ernesto Vianna. Das duas vezes entramos na representação junto à Fenaj. 

Em seguida ele lançou o seu “Espólio de Fantasmas”. Fui à noite de autógrafos na Sala Carlos Couto e comentamos acontecidos de Miracema – “um burgo fluminense mineiríssimo” -, o set literário, aliás, de seu livro, uma fracionada ilíada regional com Maria Batuquinha e outros protagonistas de acontecências sertanejas miracemenses, fronteira com MG. Um livro de histórias curtas, mas de primeira grandeza como memorial gostoso de ser lido. O jeito narrativo e literário faz lembrar muito Guimarães Rosa, Grande Sertão, Corpo de Baile, Sagarana… E quando um jornalista/escritor faz lembrar o inimitável e por vezes impenetrável Rosa é porque ele é muito bom. E Ori era muito bom mesmo! 

Depois dos autógrafos que atraíram velhos companheiros ultimahorenses – inclusive o também miracemense e homem do samba José Carlos Rêgo – desandei a ver o Ori na rua. Quase sempre o via e parava para um dedo de papo na área de sua casa que se estende no raio que vai do fim da Amaral Peixoto até a Rua Dr. Celestino e a Avenida Marquês do Paraná. Rememorar UH era de praxe, como se cumpríssemos um dogmático ritual de saudade ao Velho Vespertino de Samuel Wainer. 

Enquanto ele comprava laranjas e peras no Hortifruti da Marquês, eu buzinava novidades no ouvido dele. Ele retribuía com críticas ácidas quase sempre aos personagens do dia a dia, que podiam ser críticas a um candidato malenjambrado à Presidência, como podiam ser uma comparação dos políticos da hora com os bons nomes de outrora – um dos quais era Leonel Brizola, ao qual se referia como “O Engenheiro”. Ori era comuna. Daqueles comunas idealistas bem abertos e bonachões.  

De uma das últimas vezes ele comentou o quanto estava bom O Jornal da ABI: “A melhor leitura que temos agora!…” Concordei com ele, falando de matérias que tinham saído no  Jornal da ABI, como aquela do fim do JB, a dos sinos dobrando pela Tribuna da Imprensa… E então voltávamos à vaca fria da morte de UH: “Uma pena, nunca mais apareceu outro jornal igual”. Concordei. Então pegávamos o gancho e nos comprazíamos em desancar os jornalões sem livrar a cara de nenhum: “Ler qualquer um é ler qualquer todos”. 

Rimos ao constatar que notícia mesmo a TV até estava dando para o gasto. “Pena que a Globo continuava esterilizada, facciosa, fascista”. E imprecisa, inclusive imperdoavelmente quanto a locais: “Como é que pode não dizer nem a cidade onde as coisas aconteceram?!” Era verdade, é verdade: a precisão dos fatos até com relação à localização é ignorada em detrimento da imagem. “Afinal, Pinheiro, texto é só legenda e fala de apresentador anafabetizado que não está nem aí para a verdade do que ele está falando ou escreveram para ele falar como um papagaio que só fala bem se for palavrão”. Concordei. E vou continuar concordando com tudo de e sobre Ori. Só não concordo com sua morte assim tão depressa. Será que não dava, oh! Deus!, para esperar mais um pouco. 

O Continentino Porto tinha me pedido para fazer um perfil dele que ia sair no próximo número de O Jornalista, o jornal do Sindicato. Prometi fazer. Continentino me disse então que ia pegar uns dados iniciais com ele: nascimento, educação, jornais todos onde trabalhou etc… Eu falei com Continentino que ia arrancar dele umas coisas engraçadas sobre sua vida de jornalista e de assessor de imprensa pra botar no perfil que faríamos a quatro mãos, pois duas mãos só não iam dar conta para fazer um bom perfil do cara. Ficou combinado. Só esquecemos a lição do Garrincha de combinar com ele, com Ori. Não esquecemos não, aliás! Não deu foi tempo. Ori morreu nesta quarta-feira 12 de setembro. 

Enquanto escrevo essas anotações que me vêm de repente à cabeça… e aos olhos turvos… penso que Ori acabou de ser sepultado naquele cemiteriozinho meio miracemense do Saco de São Francisco. Onde também está enterrado Paixão. Sílvio Paixão, o cabeça de chapa sindical. Será que os dois já se encontraram lá em cima e estão no maior abraço depois de tanta atribulação aqui por baixo?…”





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