quarta-feira, 6 de julho de 2016

A DOENÇA INCURÁVEL DAS CATEGORIAS DE BASE DO FUTEBOL BRASILEIRO


Um dos maiores problemas do futebol brasileiro está na divisão de base, com 90% dos clubes não tendo a estrutura devida e praticamente formando os atletas com o objetivo principal de vendê-los para o exterior e cobrir os rombos de seus cofres.

São Paulo, Santos, Internacional, Vitória (BA) e Fluminense, talvez sejam os clubes que mais revelam jogadores, em termos qualitativos. Atlético-MG, Cruzeiro e Atlético-PR, possuem Centros de Treinamentos de primeiro mundo e também fazem um bom trabalho nas categorias de base, o que não pode deixar de ser citado. A estrutura é fundamental em todos os sentidos para que o atleta tenha o mínimo de condições de dar o retorno necessário.

Desde o início dos anos 2000, o Santos foi o time que mais aproveitou suas revelações, conseguindo segurar os garotos por mais um tempo e conquistando títulos importantes. Posteriormente todos foram vendidos e, mesmo assim, os maus dirigentes não conseguiram colocar as finanças em dia.

O Tricolor carioca revela, mas acaba usufruindo muito pouco de seus valores, que logo são negociados. Inclusive, alguns deles saindo direto dos juniores para o exterior. Sobre o Flamengo, outro time que sempre revelou jogadores, o clube tem um slogan que virou marca registrada de seus dirigentes e torcedores: “craque o Flamengo faz em casa”. Já fez muitos e hoje, faz muito pouco. O bom time que ganhou a Copa São Paulo de Juniores em 2011, é a prova concreta de que os garotos não conseguem manter o mesmo nível quando são alçados ao time principal.

Vários são os fatores, entre os quais, a necessidade de lançar os jovens no fogo, geralmente quando o time não vai bem e acabam queimando as etapas de uma transição que deveria ser gradual e de preferência sem a exigência de resultados imediatos.

O time base do Flamengo campeão de 2011 era o seguinte: César, Alex, Marllon, Frauches e Anderson; Muralha, Lorran e Adryan; Negueba, Lucas e Rafinha. Quem vingou? Adryan era o nome da vez e hoje está emprestado. Pode-se afirmar que o Renato Augusto, em 2006, foi a última grande revelação do rubro-negro, e fez a sua melhor temporada pelo Corinthians, em 2015. O Flamengo conquistou mais um título da Copa São Paulo de Juniores no último mês de janeiro, e novas promessas surgem para abastecer o time principal.

Os demais cariocas – Vasco e Botafogo -, mergulhados em uma crise sem precedentes, já tiveram seus momentos de glória revelando jogadores de alto nível. Nos anos 50 e 60, o Glorioso e o Santos formaram a base da Seleção Bicampeã Mundial em 1958 e 1962. Depois disso, qual foi o último jogador revelado pelo Botafogo que conseguiu algum destaque? Temos que voltar aos anos 80 para citar o volante Alemão. No caso do Vasco, que sempre revelou grandes atacantes, Edmundo foi o último, em 1992. Os mais recentes, Alex Teixeira e Philippe Coutinho, ainda precisam provar algo mais para entrar no seleto grupo de craques. O Coutinho vive um bom momento no Liverpool e tem sido convocado para a Seleção.

Outro grave problema na formação do atleta na base são os “professores” de qualidade duvidosa e a pressão por parte de alguns times em conquistar títulos, o que é o menos relevante nesta categoria. Fatores extracampo, mais precisamente os empresários e os pais dos atletas, com pressões para escalação e a consequente visibilidade dos garotos, acabam prejudicando, no contexto geral, parte da formação técnica do atleta.

Resumindo: está tudo errado! E o resultado final é o que estamos presenciando, pois os jogadores chegam ao profissional com vícios e diversas deficiências técnicas, que deveriam ter sido aperfeiçoadas quando mais jovens. A palavra mais adequada para exemplificar o que passa na cabeça dos empresários, pais e também dos dirigentes, é a GANÂNCIA. Todos querem levar algum tipo de vantagem!


8 comentários:

  1. Li com atenção seu comentário buscando acrescentar um detalhe ou outro, confesso, nada tenho a acrescentar, muito bom seu artigo.
    Um relato. Levei o Pedro Machado, garoto de 17 anos, para jogar pelo núcleo do Botafogo de Itaperuna em Tombos- MG, pude observar a boa infraestrutura física e técnica no CT do Tombense, ainda em construção. O Tombense é administrado por um grupo de empresários.
    Vi dezenas de meninos em busca de um espaço no mundo do futebol, sonho de muitos pais e seus rebentos. Mas, o que me chamou mesmo atenção foi a ausência do verdadeiro futebol brasileiro, estilo próprio que encantou o mundo com dribles, lençóis, improviso etc, isso não se vê mais no futebol praticado pelos brasileiros, tudo aqui é imitação do futebol europeu, e aí, vejo que, ou mudamos para o que fomos um dia, ou então, vamos continuar perdendo feio para o futebol europeu, os 7 x 1 da Alemanha serão constantes. Pensei até, pelo que vi lá, em formar um grupo com vários meninos miracemenses, sub 13 anos, onde o esquema tático seria o menos importante, deixaria a garotada a vontade para jogar, melhor, brincar com a bola, exigiria do menino jogador, drible, drible, drible e mais dribles, como se fosse cada um dono da bola. Chega de futebol chato.

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    1. É a nossa triste realidade. Onde deveria ser o aprendizado, mais parece um quartel com normas rígidas - quero dizer na parte tática - reprimindo o que de melhor o garoto pode apresentar.

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    2. Chega de futebol chato (escrito por JLSilva) aquele que foi campeão em 94, vice em 98, novamente campeão em 2002 e vem sendo campeão nos demais Torneios e Copas disputadas até hoje. Perder dando show de bola, é triste, é acidente, o chato foi ter o modelo vencedor perpetuado na moda.

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    3. BELA E NESCESSÁRIA MATÉRIA.O NOSSO FUTEBOL ESTA SENDO ESTRAGADO JÁ NAS DIVISÕES DE BASE.OS CLUBES PROFISSIONAIS,DEVERIAM FAZER INVESTIMENTO NO INTERIOR APOIANDO CLUBES PEQUENOS SEM ESTRUTURAS ALGUMAS,POIS DAI QUE NASCE O A MAIORIA DOS CRAQUES,POIS JÁ TEM UMA TAREFA ÁRDUA PARA VENCER QUE É A PRÓPRIA DIFICULDADE.SOU COMPLETAMENTE CONTRA TIRAR MENINOS DE SEU HABITAT NATURAL,SERIA MELHOR TRAZER PROFISSIONAIS PARA OBSERVAREM OS ATLETAS NA SUA CASA,TIRANDO SIM ´SO QUANDO TIVESSE TODAS AS CONDIÇÕES PARA SEGUIREM CARREIRA E NÃO VOLTAREM DECEPCIONADOS,COMO ACONTECE DIARIAMENTE.

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  2. Essa história de que "craque o Flamengo faz em casa" me parece ter ficado lá no longínquo 1990 naquele time do Djalminha, Marquinhos, Paulo Nunes desse tempo pra cá, formamos alguns bons jogadores como você bem citou em seu texto. Esse marketing foi também usado pelos tricolores cariocas com seus "garotos de Xerém" e ficaram Vasco e Botafogo sem um marqueiro de plantão para divulgar seus jovens "craques". Não acho que tenha muito a ver o fato dos centros de treinamentos com seus professores e treinadores e fisioterapeutas ou preparadores físicos com seus Laptop ou Notebook mais modernos cheios de programas e skouts de tudo que se passa em campo, hoje até GPS eles usam nos jogos (e a bandana do Romário era proibida),já que esses aparelhimos não formaram jovens atletas do passado como um tal de Garrincha ou um outro de nome Pelé.

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  3. Nesse período mencionado pelo Yussef, tivemos bons jogadores na Seleção, um até entraria na minha Seleção de craques brasileiros de todos os tempos, Romário, ainda tivemos: Tafarel, Cafu, Branco, Roberto Carlos, Mazinho, Bebeto, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho, Kaká, Rivaldo, (os quatro últimos foram eleitos pela FIFA melhores do mundo). Então, tínhamos grandes craques nessas seleções, hoje, porém, quem além de Neymar?

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  4. Desses nomes acima citados por você realmente quase todos foram craques mundiais, outros nem tanto mas estariam hoje em qualquer seleção formada pelo mundo. Nomes como Cafu, Mazinho, Kaká (sempre tive um pé atrás com ele, era um Raí melhorado ou piorado, dependia do dia) e Branco não os colocaria como craques. Repare que na conquista de 94 apenas Tafarel, Romário e Bebeto e na de 2002 os Ronaldos, Roberto Carlos e Rivaldo figurariam nesse rol.

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