quinta-feira, 20 de julho de 2017

ALCYR FERNANDES DE OLIVEIRA, “MANINHO”: UM DOS MAIORES DESPORTISTAS DE MIRACEMA


Vinte e quatro anos após a chegada da primeira bola ao Brasil, trazida da Inglaterra pelo estudante Charles Miller, nascia no interior do estado do Rio, em 25 de junho de 1918, mais precisamente no distrito de Miracema, à época pertencente ao município de Santo Antônio de Pádua, Alcyr Fernandes de Oliveira. Maninho, como era carinhosamente tratado, apesar de todas as dificuldades da vida interiorana, cresceu ouvindo as histórias que chegavam da capital sobre o novo esporte que já começava a ser destaque nos noticiários, mesmo que timidamente, e que já era disputado um Campeonato Metropolitano desde 1906. O futebol, então, começou a fazer parte de sua infância e o desejo de se tornar jogador foi amadurecendo com o passar dos anos.

A juventude chegou e com ela Maninho partiu para realizar o sonho de criança. Miracema ficou pequena e a cidade mineira de Leopoldina, na Zona Mata, recebeu de braços abertos o jovem jogador que, aos 21 anos, começou a sua trajetória defendendo as cores do E. C. Ribeiro Junqueira, um time quase imbatível naquela época em toda a região. Até hoje tem o seu nome reverenciado na história do clube, junto aos demais companheiros que formaram, senão o melhor, um dos maiores esquadrões do Ribeiro Junqueira. 

Em 2011, nas comemorações do centenário, Maninho foi homenageado pelo clube mineiro. Representado pelo seu filho – Celso – foi entregue uma placa comemorativa pela sua atuação no “ESCRETE DE OURO”, na década de 40. São poucos os clubes profissionais do Brasil que reverenciam e prestam homenagens aos seus ídolos.  

Com relação a esse time do Ribeiro Junqueira, o Brasil ficou conhecendo sua fama através dos depoimentos de Telê Santana. Na preparação para a Copa do Mundo de 82, na Espanha, nas páginas da revista Placar, o ex-técnico lembrou aquele time que tanto marcou a vida do menino Telê – com técnica e talento ao lado de tática e preparo físico. Doze anos depois, mais precisamente em 28 de agosto de 1994, em uma entrevista concedida ao Jornal do Brasil, Telê voltou a citar que foi inspirado nesse time que brilhou no interior de Minas, na década de 40, que ele montou a Seleção de 82 e o São Paulo campeão mundial interclubes de 92: Manganga, MANINHO e Baptista; Itim, Domício e Quadrado; Vicente, Geraldinho, Daher, Caturé e Elair.   Assim ele descreveu: “Eu digo que, aos 11 anos de idade, vi um time jogar lá na minha terra, em Itabirito, e nunca mais esqueci a sua escalação. Fiquei abismado ao ver um time jogar tão bem, eles jogavam por música. O time era o Ribeiro Junqueira, de Leopoldina, no interior de Minas Gerais, e tinha a camisa parecida com a do Flamengo. Esse time jogou em todo o interior de Minas e ganhou de todo mundo”. Essa história ficou tão marcante em sua vida, que na sua biografia “Fio de Esperança”, tem um tópico dedicado ao Ribeiro Junqueira.   

Voltando aos anos 40 e na sequência de sua carreira, Maninho assinou contrato com o Bonsucesso, do Rio, em 20 de fevereiro de 1940. No Bonsuça jogou ao lado do argentino Armando Renganeschi, que mais tarde se tornou técnico. Em julho de 1943, em ofício enviado à Federação Metropolitana de Football, solicita a sua transferência do Bonsucesso para o Americano F. C., de Campos, filiado à Federação Fluminense de Desportos. Aos 29 anos, ele foi submetido a uma delicada cirurgia na válvula mitral – em 1947 –, uma das primeiras do gênero a ser feita no Brasil. Estava encerrada a sua carreira. 


Tupan 
Depois de residir no Rio de Janeiro, retornou a Miracema em meados dos anos 60 e a paixão pelo futebol continuava correndo em suas veias. A cidade contava com um seleto grupo de craques e o apoio incondicional dos apaixonados por esse esporte. O futebol praticado era disputadíssimo e com uma rivalidade à flor da pele. Nesse período Maninho foi técnico do Tupan e da Associação. A ideia de assumir a Liga foi amadurecendo e ele mergulhou de corpo e alma nessa nova empreitada.

Maninho presidiu a Liga Desportiva de Miracema por muitos anos, sempre com dedicação, organização e contando com o apoio incondicional da Federação Carioca de Futebol. Otávio Pinto Guimarães e Eduardo Viana, ex-presidentes, eram amigos e mantinham uma relação bastante estreita, de grande confiança, com Maninho. Otávio, inclusive, foi padrinho de casamento de um de seus filhos – Celso. Maninho foi o responsável por muitos anos pela sobrevivência do futebol miracemense. Ocupou também, com a mesma determinação e eficiência, o cargo de delegado regional no Noroeste Fluminense, representando todas as Ligas junto à Federação. 

Depois de lutar com problemas cardíacos por muitos anos, Maninho nos deixou em 5 de junho de 1994, após sofrer um infarto dois dias antes.  Por essas coincidências do destino, morreu em um domingo, dia em que o futebol, que ele tanto amou e dedicou grande parte de sua vida, é reverenciado nos quatro cantos do mundo. Ele viveu 18 anos com três pontes de safena e teve dez filhos: Diléa, Dilene, Silvio, Célio, Ione, Célia, Celso, Almir, Ceny e Alcyr Filho, o Cici. O corpo foi velado na Câmara Municipal, com a presença de grande número de pessoas consternadas pela perda irreparável de um cidadão que muito fez pelo esporte, não somente de Miracema, mas de toda a região.

Dentre muitas coisas boas que fez, deixando um legado de muito orgulho para seus filhos e demais familiares, como também para o esporte de Miracema, Maninho indicou e levou Célio Silva para fazer testes no Americano. O resto da história você já conhece. Em uma matéria que fiz com Célio Silva para o blog, em maio de 2016, ele fez questão de mencionar o Maninho na reportagem.

Nota: tenho contado um pouco da história de muitas personalidades  aqui no blog, e sempre tive vontade de escrever sobre o Maninho, um grande desportista de Miracema. Foi um ser humano de fala mansa e muito dócil no contato com todos que se aproximavam dele. Era torcedor do Botafogo. Missão cumprida! 


4 comentários:

  1. Esse tinha história pra contar. Parabéns pelo texto! Flávio Cerqueira.

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  2. ELE ÉRA BOTAFOGUENSE DE CORAÇÃO

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  3. Ele nunca foi torcedor do América ele era Botafageunse fanático

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