terça-feira, 21 de setembro de 2021

ZÓZIMO: UM NOME DE DESTAQUE NA HISTÓRIA DO BANGU E DO FUTEBOL BRASILEIRO

 


Zózimo foi o jogador banguense que mais sucesso internacional obteve. Nos 11 anos que defendeu o Bangu, participou de 39 partidas com a camisa da Seleção Brasileira – o que é um recorde, superando até mesmo a Zizinho. Menino pobre, nascido no bairro de Plataforma, em Salvador, Zózimo vinha de uma família de dez irmãos que, nos anos 40 se mudou para o Rio de Janeiro, para morar em São Cristóvão.


Curiosamente, não se interessou pelo time do bairro. Aliás, até os 15 anos, pouco pensava em futebol, focado que era nos seus estudos. Seu irmão mais novo – Calazans - já vinha atuando nas categorias de base do Bangu e convenceu Zózimo a ir fazer um teste em Moça Bonita. O rapaz de 19 anos impressionou tanto que logo garantiu vaga entre os juvenis na temporada de 1951. Pode-se dizer que Zózimo foi o primeiro “produto” da bem-sucedida filosofia do clube de revelar grandes jogadores. Depois dele, viriam Décio Esteves, Ubirajara, Ademir da Guia, Mário Tito e Paulo Borges.


Em 1952, ainda como jogador amador, foi convocado para a Seleção Brasileira que disputou os Jogos Olímpicos de Helsinque, no mês de julho. Não ganhou medalha, mas quando retornou, já era titular dos profissionais do Bangu. Rapidamente, o alvirrubro tinha conseguido um centromédio elegante, que jogava de cabeça erguida, olhando o movimento de todos os demais em campo.

 
Ao mesmo tempo, Zózimo podia atuar como quarto-zagueiro e também marcar muitos gols quando ia ao ataque. Foi assim durante a excursão do Bangu ao México, em 1953, quando foi a grande estrela da companhia, aproveitando-se de uma longa contusão do “Mestre Ziza”.


Em 1956, a Seleção Brasileira voltou a convocá-lo para alguns amistosos, Taça Oswaldo Cruz e Taça do Atlântico. No ano seguinte, foi titular durante o Campeonato Sul-Americano de Lima e passou a ter certeza de que, em 1958, estaria na Copa do Mundo da Suécia.


Realmente, foi até a Suécia, mas o técnico Vicente Feola manteve o craque banguense na reserva de Orlando, do Vasco, durante toda a competição. Retornou ao Brasil um pouco amargurado, apesar de ter sido recebido festivamente pela população e até mesmo pelo presidente Juscelino Kubitschek. Afinal, era um dos 22 jogadores campeões do mundo.


Com o status de ter um campeão mundial no elenco, fortemente assediado pelo São Paulo e pelo Santos, o Bangu, além de não vender seu passe, aproveitou a situação para uma vitoriosa excursão às Américas no final do ano. Zózimo ergueu, então, mais duas taças: uma na Venezuela, outra na Costa Rica.


Em 1959, dedicou-se exclusivamente ao Bangu, terminando o ano como vice-campeão carioca. Mas, em 1960, obteria mais uma glória internacional: o título do Torneio de Nova York, atuando em todos os seis jogos que deram ao alvirrubro a conquista histórica.


No mesmo ano, ainda faria a sua melhor partida com a camisa alvirrubra, contra o América, do seu irmão Calazans, no Maracanã. Zózimo marcou o gol da vitória por 1 a 0 e ainda fez um bloqueio defensivo perfeito, que culminou na quebra da invencibilidade do rival.

 
Em 1962, o Bangu ficou longos meses sem Zózimo. Não por causa de contusão, mas sim porque a Seleção Brasileira mais uma vez precisou dos serviços do camisa 4 alvirrubro. Desta vez, o técnico Aymoré Moreira deu a ele a titularidade. Com 30 anos, no auge da forma, foi bicampeão mundial, desta vez atuando do início ao fim da Copa do Chile. Se quisesse contar o título do Torneio de Nova York em 1960, poderia se orgulhar de ter um tricampeonato mundial particular.

 

A mesma desenvoltura que exibia com a camisa da Seleção, Zózimo começou a perder com a do Bangu. No Campeonato Carioca de 1962, o técnico Gradim ficou decepcionado com Zózimo quando ele marcou um gol contra diante do Fluminense, na derrota alvirrubra por 2 a 0. A partir daí, “sacou” o campeão dos três jogos finais da competição.

 
Sua última chance de ser campeão carioca pelo Bangu ocorreu em 1963. O time do técnico Tim liderou o certame desde a primeira rodada, fracassando justamente nas rodadas finais. E Zózimo foi o maior crucificado. Na penúltima rodada, contra o Fluminense, no Maracanã, Zózimo inexplicavelmente agarrou a bola com as duas mãos dentro da área. Um pênalti estranho, que nem os jogadores do tricolor entenderam bem. Teria o bicampeão mundial se vendido?


Foi o que passou pela cabeça de muita gente. Principalmente do presidente Euzébio de Andrade que, no dia seguinte anunciou que Zózimo estava multado em 60% do salário. O jogador não aceitou a punição. Lamentou seu gesto. Disse achar que a partida estava paralisada e que, inclusive, estaria fora da grande área.

 
Enfim, foi até o escritório do Patrono Guilherme da Silveira conversar. O Bangu até perdoaria Zózimo pelo lance, acreditou-se na sua inocência. Um atleta que já defendia o Bangu há tanto tempo não podia estar “vendido”.

 
Mas não havia mais clima para que ele continuasse em Moça Bonita. Os torcedores mais exaltados já cercavam a sua casa e o xingavam nas ruas, esquecendo-se completamente que era uma das maiores honras da história do clube. Enfim, no início de 1964 foi transferido – quase que como castigo – para a pequena Esportiva Guaratinguetá (SP). Em 1965, foi emprestado ao Flamengo para a disputa do Torneio Rio-São Paulo, mas fez apenas quatro jogos com a camisa rubro-negra. Seus melhores dias no futebol tinham ficado para trás.

 
Desiludido, foi jogar no Sport Boys, do Peru, começando por lá a carreira de técnico. Seria perdoado pelo Bangu em 1973, quando assumiu a direção dos profissionais nos últimos jogos do Campeonato Carioca, em substituição a Vavá.

 
A tragédia maior de Zózimo não seria a acusação de suborno de 1963. Em 21 de setembro de 1977, quando tinha acabado de assinar contrato para treinar o Alianza de Lima, sofreu um fatal acidente automobilístico.


“O acidente ocorreu ontem à tarde, na estrada do Mendanha, em Campo Grande, quando o Volkswagen de placa SO-8649, dirigido por Zózimo, derrapou na pista molhada e chocou-se com um poste. O ex-jogador ainda chegou a saltar do carro e dar dois passos, antes de cair morto. Seu relógio parou na hora exata do acidente: 14h45. Debaixo de chuva, os jogadores juvenis do Campo Grande aguardavam seu técnico, Zózimo, que nas conversas com os amigos costumava dizer que gostaria de ser enterrado com a camisa da Seleção Brasileira” – contou o jornal O Estado de São Paulo. Tinha apenas 45 anos...

 

Fonte: transcrito na íntegra do site bangunet

 

Minhas considerações: Zózimo era um zagueiro elegante, jogava de cabeça erguida, bom na antecipação e dificilmente dava botinadas. Na Copa de 1962, no Chile, encantou o mundo com seu futebol vistoso e de pura técnica. Ao contrário da maioria dos jogadores da época, o seu desenvolvimento não se fazia apenas em relação aos pés: ficava tão alegre ao receber uma aprovação nos diversos cursos que frequentava quanto ao receber os aplausos dos torcedores a cada nova boa jogada. Além de ter sido um craque dentro de campo, Zózimo falava fluentemente outros três idiomas: inglês, francês e espanhol.

 

 

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