quarta-feira, 11 de maio de 2022

O MARACANÃ DOS VELHOS TEMPOS – POR SERGIO PUGLIESE

 

                                                                                        Foto acervo Sergio Pugliese

Nota: Sergio Pugliese é jornalista e fundador do Museu da Pelada, que retrata a memória do futebol. Essa crônica maravilhosa foi escrita em janeiro de 2021.

 

O velho Maracanã era abarrotado de personagens, era como se você mergulhasse em um livro de contos e fábulas. Havia o torcedor que cobria o corpo inteiro com pó de arroz, Dona Dulce Rosalina, que comandava a galera vascaína, o sósia do Obama, o carinha que vivia rezando com um galho de arruda acomodado na orelha, o alvinegro Russão, o Mr. M, o árbitro Armando Marques cheio de caras e bocas, o comentarista Mário Vianna gritando “errooooou!!!”, o locutor da Suderj anunciando as escalações, o velhinho das embaixadas, enfim, o Maracanã era uma espécie de ilha da fantasia, um mundo encantado que amenizava nossas dores e coloria nossas emoções. Mike Tyson, o maqueiro fortão, era mais uma dessas tantas figuras que ilustravam nossas tardes/noites e guardamos na memória até hoje.

 

O cara era um guarda-roupas e virou atração turística porque passou 20 anos entrando e saindo de campo carregando gênios, como Zico e Maradona, e grandalhões, como Júnior Baiano e Manguito. Quando sentia que a contusão era mais grave, nem esperava por Geraldo, seu grande parceiro de trabalho, entrava correndo em campo, colocava o atleta no ombro e voltava correndo com ele. A galera endoidava! Certa vez, tropeçou, caiu e a Geral pegou no seu pé... ”negão, tá na hora de se aposentar!”.

 

Quando o locutor Januário de Oliveira anunciava “tá lá um corpo estendido no chão, vem aí o primeiro carreto da noite”, ele entrava em ação, era seu estrelato. Vascaíno, o primeiro jogador a carregar foi Zico. Ficaram muito amigos. Malhava como um louco e nas horas vagas atuava como segurança de boates, clubes e para a família do Galinho de Quintino. Nos finais de semana de folga, para condicionar-se fisicamente, corria de Brás de Pina, subúrbio carioca, até a Praia de Copacabana. Na chegada triunfal, o filho acenava, orgulhoso, da areia. Durante o trajeto, muita gente o reconhecia e pedia autógrafos. O “negão da maca” fez história no Maraca, foi um de seus reis, como Romário, Túlio, Renato Gaúcho e Papai Joel. Claro, que tanto peso lhe rendeu problemas graves na coluna, mas o glaucoma, que o deixou cego, é o que mais o aflige.

 

Aos 80 anos, está frágil e saudoso da grama verde, de sua padiola e do respeitável público daquele circo chamado Maracanã. Em nossa despedida, tentou levantar-se do sofá, mas não conseguiu nem com o apoio de uma velha bengala. Segurei firme em seu pulso e ofereci apoio ao maior reboquista da história do Maracanã. “Quem diria, hein”, comentou. Quem diria. Rimos e caminhamos lentamente até a porta amparados por um abraço e por doces lembranças.

 

7 comentários:

  1. Parabéns Nobre Amigo Pela Excelente Reportagem, com esta Figura Humana maravilhosa que trabalhou em Tardes e Noites Inesquecíveis no nosso Palco Maior do Futebol, o Grandioso Maracanã. Saúde e Vida Longa ao grande maqueiro Sansao.



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  2. Grande conteúdo , vejo sempre matérias relacionadas ao futebol brasileiro

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  3. Adoro essas histórias de vida . Mais para ficar boa alguns jogadores q hoje tem uma vida se regalias poderia ajudar esse super homem não custa nada uma favor a ele...

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  4. Vi muitos jogos era figura emblemática,grande Sansão!

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  5. Bons tempos esses com certeza, hoje isso tudo não passa de boas recordações, e você está de parabéns por essa sua linda postagem!! essa sua

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  6. ROBERTO CARLOS MICKA13 de maio de 2023 às 03:53

    PARABÉNS, NÃO PODEMOS ESQUECER DAS PESSOAS QUE NOS FAZEM BEM !!!

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  7. Saudade desse "GUINCHO" blusa rosa,na gozação nos dias de hoje o chamariam de OUTUBRO rosa.kkkkkkkkkkk.

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