sábado, 17 de março de 2018

FAÇA-SE O JOGO - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


Ao ser inaugurado na Quinta da Boa Vista O zoológico, por Barão de Drummont, para premiar os seus frequentadores ele instituiu um jogo, que mais tarde seria denominado jogo do bicho. Os frequentadores do parque, ao pagarem o ingresso, recebiam uma pule numerada que correspondia aos números de 1 a 25. Nos dias atuais seria como se pagasse 1 real e ao acertar receberia 20 reais como prêmio.
Apareceram os banqueiros, que o aperfeiçoou, introduzindo milhares, as centenas, os duques, milhares de centenas invertidas e os grupos. Os números obedecem a uma ordem alfabética, de A ao V, onde os apostadores jogam nos bichos de penas, nos bichos de chifre e nos da letra C.
Em décadas passadas chegou a Miracema o tal jogo, que tinha como banqueiro uma mulher italiana, depois um fazendeiro e um outro banqueiro chamado Antônio Neves. Mais tarde veio a Casas Martins, da cidade de Campos. Existia na Rua Marechal Floriano a Amaral Loterias, de propriedade de Neném Amaral, onde funcionavam seis cadeiras de engraxates. Neném deixava em cima do balcão um livrinho onde se interpretavam os sonhos, para dar palpites para fazer uma fezinha no jogo do bicho. No jogo do bicho, atualmente, seus fregueses são pessoas de idade mais avançada, os mais novos preferem a raspadinha, a loteria esportiva, a sena, o lotomania e as máquinas caça-níqueis.
Conhecíamos o João de Barros, jogador profissional que andava sempre de terno preto e escrevia o jogo do bicho nos bares da cidade. Mas voltando ao livrinho dos sonhos do Amaral, um viajante, hospedado no Hotel Braga, leu o livrinho e falou: vou jogar um pouquinho no gato, saiu e foi atender os seus fregueses. Voltando na parte da tarde, perguntou ao Neném o que havia dado. Este respondeu que deu burro. “Depois que dá o bicho é que você vem me contar o sonho?” disse Neném com aquela calma que lhe era peculiar. “Diz você que sonhou com um gato caindo do telhado. Todo mundo sabe que gato não cai, pode jogá-lo para cima que ele cai de quatro. Portanto, gato que cai é burro, e você que não me contou o sonho, também é outro burro”.
Depois do distrito de Venda das Flores, tinha um comerciante chamado Eudóxio, com pouca instrução, mas que bancava o jogo naquela região. Costumava escrever o resultado em um quadro-negro pendurado na parede. Escrevia o nome do bicho que havia dado e tampava com um papelão. Às três horas, tirava o papelão e aparecia o resultado. Seu compadre Inhozinho prestava atenção naqueles movimentos, até que um certo dia viu que o Eudóxio escrevia a primeira letra, uma letra A, e disse que queria jogar. Prontamente, Eudóxio aceitou a aposta, onde Inhozinho jogara na avestruz e na águia. Ao levantar o papelão, estava escrito: alefante.
Os vendedores de bicho são chamados de corretores zoológicos e em seus talões tem um aviso que diz: vale o que está escrito.


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