sábado, 23 de junho de 2018

O ÔNIBUS - POR JOSÉ ERASMO TOSTES


A estrada de Miracema para Itaperuna, na década de cinquenta, não era asfaltada. Uma estrada de chão, com muita costela e poeira. Na época das chuvas era barro e atoleiros. Gastavam-se quase quatro horas de viagem, passando-se por diversas localidades e fazendas: Fazenda do Angico, Quero-vê, Cachoeira, Flores, Panorama, Morro dos Padeiros, Belo Monte, Paranhos e Salgada.

O ônibus tinha como motorista o Filhinho Barros, que conhecia todos os passageiros, assim também como era conhecido por todos. Havia os passageiros tradicionais, como o Pedro Padeiro, que carregava uma cesta de um metro e meio de comprimento, com pão e rosca, e na volta, trazia ovos, frangos e outros bichos. Orestes, vendedor de jogo de bicho, andava sempre com uma sacola feita de pano pendurada no ombro. Neném Fachada, Zinho Letiere, o Joãozinho Maulaz, que era juiz de paz... vinham à nossa cidade todos os dias. E, num daqueles dias em que o ônibus fazia o retorno, o Filhinho Barros, o motorista, avistou uma passageira que vinha ao longe, descendo o morro, com uma criança num braço e no outro, uma sombrinha. Vinha gesticulando para que o ônibus parasse, e o Filhinho fez uma parada rápida, sem desligar o motor, e a poeira entrou toda de uma só vez, o calor aumentou rápido, a fumaça do cano de descarga entrou junto com a poeira, os ovos na cesta do padeiro quebraram-se todos.

E o Filhinho, esperando a passageira chegar. Os demais, já impacientes pela demora. O Orestes, preocupado com os talões do jogo de bicho, por não chegar na hora da entrega. Até que a mulher chegou esbaforida, e o Filhinho disse: “Entra, entra logo que já estamos atrasados”. Ao que a mulher retrucou: “Não Sr. Filhinho, eu só queria saber as horas”.

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