Nota do
blog: este texto maravilhoso foi publicado na edição nº 100 do jornal O Tempo, aqui de Miracema, de 27 de
julho de 1994, logo após a conquista do Tetracampeonato pelo Brasil. Uma referência justa e merecida aos irmãos Moreira. O senhor
Jofre já não está mais entre nós.
Quando o
habilidoso Roberto Baggio – reconheçamos, sem as condições físicas, atléticas e
psicológicas ideais – chutou fora mais um pênalti perdido pela Itália, mandando
a bola bem acima do travessão, o grito angustiante que estava sufocado há mais
de 24 anos nas gargantas de mais de uma centena e meia de milhões de patrícios
nossos, ecoou retumbante, em uníssono, por todos os cantos do nosso imenso
Brasil, levado com festa pelos ventos benfazejos da glória consagradora e
imorredoura e escrevendo com as letras de ouro do amarelo das suadas e heroicas
camisas dos nossos atletas, a legenda luminosa que emociona, enaltece e faz
feliz o tão sofrido povo brasileiro: Brasil, tetracampeão!
A nossa
Miracema, este abençoado pedaço do Brasil, que festejou de maneira mais alegre
e espetacular a magna e inédita conquista, fazendo um verdadeiro carnaval pelas
ruas centrais da cidade, teve uma presença relevante no triunfo da façanha
sensacional, em um dos quatro títulos do tetra, através do feito de seu nobre e
famoso filho Aymoré Moreira, o nosso sempre querido Zico, que, no Chile, em
1962, como técnico, conquistou para o Brasil, com méritos incontestáveis e também
invicto, o bicampeonato mundial de seleções de futebol (ainda Taça Jules Rimet)
da invejável série de quatro.
A bela,
valiosa e cobiçada Taça Jules Rimet, na nossa terceira conquista, acabou
ficando em definitivo com a outrora Confederação Brasileira de Desportos (CBD),
hoje Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Em meio à
tão grande euforia que nos envolveu e ainda está nos envolvendo emocionalmente,
encontramos espaço no nosso pensamento para enriquecê-lo com uma verdade
histórica e irrefutável, que precisa chegar ao conhecimento não só dos brasileiros,
mas também dos povos de todas as nações que fazem parte da FIFA.
Entendemos
que Miracema merece entrar para o livro dos recordes, o Guines, pois é a única
cidade no planeta que possui três irmãos nela nascidos, que são consagrados e
afamados técnicos campeões de futebol no Brasil, na América do Sul e no mundo.
O desfile
vitorioso dos insignes irmãos Moreira que queremos aludir é o seguinte: Alfredo
Moreira Júnior, o Zezé, o mais velho, é o técnico brasileiro que possui mais
títulos em todos os tempos e o primeiro a conquistar um campeonato no exterior,
o Pan-Americano de 1952. Foi campeão carioca, paulista, mineiro, baiano, do
Torneio Rio-São Paulo, da Taça Libertadores, da Taça Guanabara, uruguaio e,
finalmente, campeão Pan-Americano. Com este primeiro título conquistado pelo
Brasil no exterior, valeu ao Zezé ser condecorado pelo grande e sempre lembrado
Presidente Vargas. Por causa desse precioso rosário de títulos, Zezé Moreira é
carinhosamente chamado no mundo do futebol de “o mestre”.
Aymoré
Moreira, o Zico, mais novo que Zezé, foi campeão paulista, baiano e mundial.
Airton
Moreira, o Ito, o caçula, já falecido, foi campeão mineiro e da Taça Brasil.
Além de
técnicos, os irmãos Moreira foram campeões como jogadores pelos clubes que
defenderam. Desejamos fazer constar aqui que existe um outro notável irmão
Moreira, igualmente glorificado, o segundo abaixo do Zezé, Aderbal Moreira, o
Nenê, que não foi tentado pelas láureas do futebol e sim pela magia e encanto
da mais sublime das artes, a música, com o que conseguiu se tornar um exímio
saxofonista e maestro emérito, dirigindo durante muitos anos a famosíssima e
internacional Orquestra Fon-Fon, pela Europa e Oriente Médio.
Os irmãos
Moreira são filhos do saudoso, inesquecível e honrado farmacêutico, capitão
Alfredo Moreira, pai também de quatro filhas: Lélia, a Déa, a mais velha, a
nossa dileta primeira professora e a quem sempre dedicamos afeto filial; Lília,
a Tita, mãe, esposa amantíssima, de excelsas virtudes, já falecida; Lucília, a
Juquinha, caríssima companheira de infância e mocidade, colega de nossa esposa
no tradicional Grupo Escolar Dr. Ferreira da Luz, hoje professora aposentada
(foi também magnífica jogadora de vôlei e basquete); e Lívia, a Dadinha, nossa
outra querida e inolvidável companheira do passado. Possuidora de linda voz
tornou-se soprano admirável, muito cedo arrebatada de nosso convívio.
Quanto ao
fato da cidade de Miracema entrar para a história do Guiness, gostaríamos que nossa
palavra chegasse ao conhecimento das autoridades desportivas do Brasil,
principalmente do ilustre Dr. Ricardo Teixeira, vitorioso presidente da CBF, e
do Dr. Eduardo Viana, dinâmico e culto presidente da Federação de Futebol do
Estado do Rio do Janeiro, pois, pela contribuição que Miracema deu ao futebol
brasileiro por intermédio das proezas dos intrépidos irmãos Moreira, bem que
merece um apoio oficial para esta justa pretensão.
Resta-nos
agora exigir dos governantes mais amparos aos nossos denodados atletas de todas
as modalidades esportivas, no futebol, no vôlei, no basquete, no automobilismo,
no judô, no boxe, no tênis, etc., porque são eles, que estão construindo a
grandeza da pátria, dando-lhe renome e prestígio universais e cobrindo de
glórias imarcescíveis os fatos da nossa história.
Um reparo
final: estão cometendo uma inominável injustiça com os dois primeiros técnicos
campões pelo Brasil. O bonachão e saudoso Vicente Feola e o nosso brioso Aymoré
ainda não foram lembrados pela mídia que domina rádios, televisões e jornais do
país. Eles estão sendo relegados a mais inaceitável das omissões, pois, sem as
duas primeiras conquistas que os dois conseguiram, não teria havido
tetracampeonato. Apesar de tudo, avante Brasil! Das autoridades ainda não
ouvimos, lemos, ou vimos a menor referência aos dois.

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