sábado, 18 de junho de 2016

O TETRACAMPEONATO E MIRACEMA: POR JOFRE SALIM


Nota do blog: este texto maravilhoso foi publicado na edição nº 100 do jornal O Tempo, aqui de Miracema, de 27 de julho de 1994, logo após a conquista do Tetracampeonato pelo Brasil. Uma referência justa e merecida aos irmãos Moreira. O senhor Jofre já não está mais entre nós. 

Quando o habilidoso Roberto Baggio – reconheçamos, sem as condições físicas, atléticas e psicológicas ideais – chutou fora mais um pênalti perdido pela Itália, mandando a bola bem acima do travessão, o grito angustiante que estava sufocado há mais de 24 anos nas gargantas de mais de uma centena e meia de milhões de patrícios nossos, ecoou retumbante, em uníssono, por todos os cantos do nosso imenso Brasil, levado com festa pelos ventos benfazejos da glória consagradora e imorredoura e escrevendo com as letras de ouro do amarelo das suadas e heroicas camisas dos nossos atletas, a legenda luminosa que emociona, enaltece e faz feliz o tão sofrido povo brasileiro: Brasil, tetracampeão!

A nossa Miracema, este abençoado pedaço do Brasil, que festejou de maneira mais alegre e espetacular a magna e inédita conquista, fazendo um verdadeiro carnaval pelas ruas centrais da cidade, teve uma presença relevante no triunfo da façanha sensacional, em um dos quatro títulos do tetra, através do feito de seu nobre e famoso filho Aymoré Moreira, o nosso sempre querido Zico, que, no Chile, em 1962, como técnico, conquistou para o Brasil, com méritos incontestáveis e também invicto, o bicampeonato mundial de seleções de futebol (ainda Taça Jules Rimet) da invejável série de quatro.

A bela, valiosa e cobiçada Taça Jules Rimet, na nossa terceira conquista, acabou ficando em definitivo com a outrora Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Em meio à tão grande euforia que nos envolveu e ainda está nos envolvendo emocionalmente, encontramos espaço no nosso pensamento para enriquecê-lo com uma verdade histórica e irrefutável, que precisa chegar ao conhecimento não só dos brasileiros, mas também dos povos de todas as nações que fazem parte da FIFA.

Entendemos que Miracema merece entrar para o livro dos recordes, o Guines, pois é a única cidade no planeta que possui três irmãos nela nascidos, que são consagrados e afamados técnicos campeões de futebol no Brasil, na América do Sul e no mundo.

O desfile vitorioso dos insignes irmãos Moreira que queremos aludir é o seguinte: Alfredo Moreira Júnior, o Zezé, o mais velho, é o técnico brasileiro que possui mais títulos em todos os tempos e o primeiro a conquistar um campeonato no exterior, o Pan-Americano de 1952. Foi campeão carioca, paulista, mineiro, baiano, do Torneio Rio-São Paulo, da Taça Libertadores, da Taça Guanabara, uruguaio e, finalmente, campeão Pan-Americano. Com este primeiro título conquistado pelo Brasil no exterior, valeu ao Zezé ser condecorado pelo grande e sempre lembrado Presidente Vargas. Por causa desse precioso rosário de títulos, Zezé Moreira é carinhosamente chamado no mundo do futebol de “o mestre”.

Aymoré Moreira, o Zico, mais novo que Zezé, foi campeão paulista, baiano e mundial.

Airton Moreira, o Ito, o caçula, já falecido, foi campeão mineiro e da Taça Brasil.

Além de técnicos, os irmãos Moreira foram campeões como jogadores pelos clubes que defenderam. Desejamos fazer constar aqui que existe um outro notável irmão Moreira, igualmente glorificado, o segundo abaixo do Zezé, Aderbal Moreira, o Nenê, que não foi tentado pelas láureas do futebol e sim pela magia e encanto da mais sublime das artes, a música, com o que conseguiu se tornar um exímio saxofonista e maestro emérito, dirigindo durante muitos anos a famosíssima e internacional Orquestra Fon-Fon, pela Europa e Oriente Médio.

Os irmãos Moreira são filhos do saudoso, inesquecível e honrado farmacêutico, capitão Alfredo Moreira, pai também de quatro filhas: Lélia, a Déa, a mais velha, a nossa dileta primeira professora e a quem sempre dedicamos afeto filial; Lília, a Tita, mãe, esposa amantíssima, de excelsas virtudes, já falecida; Lucília, a Juquinha, caríssima companheira de infância e mocidade, colega de nossa esposa no tradicional Grupo Escolar Dr. Ferreira da Luz, hoje professora aposentada (foi também magnífica jogadora de vôlei e basquete); e Lívia, a Dadinha, nossa outra querida e inolvidável companheira do passado. Possuidora de linda voz tornou-se soprano admirável, muito cedo arrebatada de nosso convívio.

Quanto ao fato da cidade de Miracema entrar para a história do Guiness, gostaríamos que nossa palavra chegasse ao conhecimento das autoridades desportivas do Brasil, principalmente do ilustre Dr. Ricardo Teixeira, vitorioso presidente da CBF, e do Dr. Eduardo Viana, dinâmico e culto presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio do Janeiro, pois, pela contribuição que Miracema deu ao futebol brasileiro por intermédio das proezas dos intrépidos irmãos Moreira, bem que merece um apoio oficial para esta justa pretensão.

Resta-nos agora exigir dos governantes mais amparos aos nossos denodados atletas de todas as modalidades esportivas, no futebol, no vôlei, no basquete, no automobilismo, no judô, no boxe, no tênis, etc., porque são eles, que estão construindo a grandeza da pátria, dando-lhe renome e prestígio universais e cobrindo de glórias imarcescíveis os fatos da nossa história.

Um reparo final: estão cometendo uma inominável injustiça com os dois primeiros técnicos campões pelo Brasil. O bonachão e saudoso Vicente Feola e o nosso brioso Aymoré ainda não foram lembrados pela mídia que domina rádios, televisões e jornais do país. Eles estão sendo relegados a mais inaceitável das omissões, pois, sem as duas primeiras conquistas que os dois conseguiram, não teria havido tetracampeonato. Apesar de tudo, avante Brasil! Das autoridades ainda não ouvimos, lemos, ou vimos a menor referência aos dois.



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