sexta-feira, 5 de agosto de 2016

ESPLENDOR E DECADÊNCIA DOS ESPORTES EM MIRACEMA



Em um trabalho particular de pesquisa sobre futebol, encontrei duas reportagens que foram publicadas na extinta revista Esporte Ilustrado, na década de 40, sobre o esporte em nossa cidade. 

Nota: tenho a impressão que o senhor José Naegle – depois de ler a matéria publicada em agosto – resolveu escrever para a revista contando um pouco sobre a história do esporte em Miracema até o ano de 1943. 

Matéria da revista Esporte Ilustrado nº 285, de 23 de setembro de 1943.

José Naegle escreveu para Esporte Ilustrado:

- Onde vão vocês jogar?
- Em Miracema.
- Então digam-nos, na volta, por quanto apanharam...
Eram assim os comentários que se faziam nas estações da Leopoldina sempre que vinha a Miracema uma representação futebolística de Niterói, Campos, Friburgo e mesmo do Rio... E os comentaristas nem sempre ficavam só nos comentários porque vinham a Miracema, também, a fim de terem as confirmações das próprias palavras. E não eram desmentidos. Lá isso não eram, não.

Flávio Costa, o atual e magnífico “coach” do clube mais querido do Brasil, experimentou, em Miracema, o amargor da derrota, lutando pelo “Gragoatá”, de Niterói, ao lado de Alemão, Bibi, Luiz, Lima, Acir, Almeida e etc. Outros e vários gigantes da pelota aqui vieram e foram derrotados de forma convincente pelo Miracema F. C., cujo quadro formava assim: Amadeu (Aimoré), Ademar e Capeta; Ari, Jorge e Pergentino; Nestrala, Gentil, Bibino (Gazeta), Agrícola e Amaro Silveira. Que time de futebol!  Uma verdadeira máquina com as peças ajustadas e funcionando 100% bem! Chicrala Amim, Chicrala Salim, Wady Miguel, Marcelino Pereira Tostes, João Antunes Siqueira, Francisco L. Homem, Eudorico Manoel Alves e outros entusiastas do “velho futebol”, como diz o Cosi, davam tudo de si em prol do bom nome esportivo de Miracema, mantendo a forma técnica e física dos defensores do glorioso campeão invicto do norte fluminense.

Tudo ia muito bem até que um dia... O fim chegou, repentinamente, sem que ninguém o esperasse.  Houve um jogo, o último do campeão, contra o “Ordem e Progresso”, de Bom Jesus do Itabapoana. Houve uma certa camaradagem a princípio, a que o povo chamou de “arranjos de compadres”, e o escore chegou a 2 a 1, pró visitantes... Depois tudo dava certo para eles e a nossa turma “não dava uma dentro”. Final: 2 a 1 contra o campeão! Cenas de desespero viam-se no campo da Av. Carvalho após o apito final. E estava escrita a última página da história do campeão invicto do norte fluminense.

O povo acusou a diretoria de ter agido mal, fazendo camaradagem com os visitantes: acusaram-se jogadores e o desânimo pôs um ponto final na vida gloriosa do mais perfeito quadro de futebol que, talvez, já se tenha organizado no interior do país. Cessando o Miracema F. C. as suas atividades, o seu grande rival e não menos glorioso América F. C., fundado por Oscar Barroso, ex-campeão do América F. C., do Rio, recolheu a sua bandeira e foi passado um atestado de óbito ao desporto miracemense.  

Tempos mais tarde eu e o Galieta organizamos o Independência, transformado, depois, no E. F. C., que teve uma história razoável, pelejando ao lado de Flamengo, Fluminense e Comercial no campeonato miracemense de futebol, realizado pela Associação Miracemense de Esportes Atléticos, filiada à Liga Esportiva Norte Fluminense. Nesse período tivemos um futebol menos poderoso, no entanto ainda se fez alguma coisa apreciável, inclusive a organização do selecionado da L. E. N. F., que deu trabalho ao de Niterói, em pelejas memoráveis, aqui e na capital fluminense.

Depois o desânimo voltou e o desporto miracemense caiu em profundo marasmo, de nada valendo os esforços hercúleos de um Waldemar Viana, instrutor do T. G. 274, que chegou a fundar, aqui, um Centro de Educação Física, em magníficas condições. Mas os desocupados chegaram ao ponde de depredarem a obra que ele organizara com o concurso dos bons miracemenses e tudo caiu de novo, no marasmo, nem se falando mais em esportes entre nós.

Rubens Carvalho, Olavo Monteiro de Barros, Gerson Alvim, Alfredo Damian, Oldemar Machado, Orterige Granato, e etc., de quando em vez tentavam levantar o esporte, auxiliado pelo conhecido “coach” Aniceto Carvalho, mas tudo em vão. É que havia muita pressa em fazer jogos e as derrotas eram acachapantes, verdadeiramente desanimadoras. A última excursão da série intentada pela dupla Rubem-Olavo foi a Carangola e o desastre foi sem precedentes.

Estava assim o desporto miracemense quando regressei de Leopoldina e organizei o Clube Esportivo Miracemense, auxiliados pelos bons desportivas que nunca se deixaram vencer pelo desânimo. Havia aqui apenas o movimento isolado de Nésio, Dizinho, Gabeto, Saulo, Rocha e etc., no Ginásio, assim mesmo “neca” de futebol...

O Clube Esportivo Miracemense desfraldou a bandeira alvinegra do antigo campeão, e chamou os nossos desportistas para a obra de ressurgimento esportivo de Miracema. Com a chegada do técnico Manoel Soutinho da Cruz, do Profº Manoel Ramos Júnior, e com o entusiasmo sadio das professoras de Educação Física, conseguimos organizar times de voleibol masculino, feminino, de basquetebol e de futebol e lá estamos com a Liga Miracemense de Desportos fundada, pronta a filiar-se à F. F. D. e contando nada menos que seis clubes pertencentes aos três distritos de que se compõe o nosso município.

O nosso sexteto de voleibol feminino é o mais poderoso do norte fluminense: o masculino, treinado a contento, não tem competidor, também, na região em que estamos colocados. Vamos dar início aos torneios de voleibol, basquetebol e futebol dentro de alguns dias, visando ainda às disputas dos campeonatos que são instituídos, atualmente, pela F. F. D.

É o caso, porém, de se perguntar: poderá Miracema recuperar a hegemonia esportiva do norte fluminense? Cremos que sim e é para isso que estamos lutando, denodadamente, contando com a colaboração de todos os miracemenses, não só os que aqui estão, mas, também dos que estão fora, como Aymoré, Zezé, Aderbal, Geraldo Neves, Aírton e Jurandir, etc.




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