Fábrica de Tecidos São Martino |
Nesta noite fui acordado com o apito do guarda noturno. Ao
ouvir aquele apito, veio-me à lembrança que, quando jovem, ouvia todas as
manhãs o apito da Fábrica de Tecidos São Martino, chamando os seus operários
para o trabalho. Daí a pouco, ouvia o matraquear dos tamancos passando debaixo
de minha janela para começarem a lide nos teares.
A Estação da Leopoldina ficava em frente à fábrica de tecidos e o apito do trem anunciava a chegada e a partida das pessoas. Alguns que partiam, talvez não mais voltassem. Os viajantes que chegavam vestidos em seus guarda-pós e com várias malas de mostruários de suas mercadorias, depois se ajuntavam no Hotel Assis ou no Braga, afamado em toda a região pelo seu tratamento de primeira qualidade. Mais tarde, após o jantar, sentavam-se nas cadeiras de vime em frente ao hotel para apreciarem as moças e rapazes que desfilavam do Bar do Sr. Osvaldo até o hotel. E, naqueles pensamentos, vi a figura do Farid, um libanês que mantinha o seu boteco aberto a noite toda, servindo sopa e sanduíche de carne de porco. Ficava o pernil pendurado em cima o fogão de lenha; do Cacheado, sempre cochilando no Bar do Pinheiro; da época das eleições, em que ouvíamos embevecido o Adumont Monteiro com seus discursos e comparações - era um verdadeiro cavalheiro da eloquência; do Cinema Sete com seus faroestes - ficávamos sentados sempre na parte de cima, que era apelidado de poleiro; do Chico Violeiro, sempre de roupa preta, gravata e colete, fumando charuto ou cigarro com piteira; do gerente de banco, João Rosa Damasceno, na sua pose impecável, com os cabelos lisos e partidos, com terno de linho engomado; do futebol no seu apogeu, onde víamos o Neném Fachada sentar na bola, o Paulo Sodré fazer gol com a bunda, o Jair Polaca, dono do time e da ponta direita; da Praça Ary Parreiras, onde se armavam circos, dançava-se caxambu e jogavam-se peladas - mais tarde construíram a Prefeitura no local.
Ouvi mais uma vez o apito do guarda noturno, e dessa vez lembrei-me da Usina Santa Rosa, com a chaminé soltando fumaça, fabricando açúcar cristal, os caminhões da época, Ford 46, Studback, Internacional e Chevrolet, na fila da descarga da cana, o cantar dos carros de bois e dos carroções que chegavam antes do amanhecer.
E nesse quase despertar, viu o rosto da namorada, com os cabelos pretos e lisos partidos ao meio, com duas tranças a pender pelos ombros, dois brincos de argola adornando as orelhas, com a saia azul e blusa branca de uma colegial.
E, no despertar, vejo o mesmo rosto, não com o mesmo viço, os cabelos já não têm mais as tranças, já brancos, marcados pelo tempo, pois já se passaram 42 anos, e já é avó.
-Vamos levantar, já são seis horas.
Levanto, e começa tudo outra vez.
Me lembro muito desta fábrica ,empregou muitas pessoas jovens , adultos , homens e mulheres.
ResponderExcluirPena que seus herdeiros não deram continuidade.Hoje só tem de lembrança um paredão em homenagem
da fábrica como patrimônio ,infelizmente paredão não da emprego a nínguem, só lamentações.
como esta fábrica perdemos também a Usina Sta Rosa .Quantas perdas tivemos no campo e industria.